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Analistas russos acusam EUA de querer provocar Rússia e China

Analistas russos consideram que a iniciativa à escala internacional continua a pertencer aos Estados Unidos e o seu objetivo é provocar a Rússia e a China e impedir a autonomia estratégica da União Europeia.

Analistas russos acusam EUA de querer provocar Rússia e China
Notícias ao Minuto

11:35 - 23/02/23 por Lusa

Mundo Ucrânia/1 ano

Na sua perspetiva, o embate real da invasão russa da Ucrânia produz-se entre os Estados Unidos e a Rússia, com a Ucrânia no centro, quando não se vislumbram ruturas na "coligação ocidental anti-Rússia" por Washington estar a ofuscar qualquer voz em favor da paz.

"A iniciativa pertence aos Estados Unidos, que tentam impedir um mundo policêntrico e consolidar a sua hegemonia ao longo do século XXI", indicou num recente artigo Andrei Sushentsov, diretor do Clube de discussão Valdai com sede na capital russa, professor no Instituto estatal de Moscovo de relações internacionais (MGIMO) e especialista em política externa dos EUA e conflitos internacionais.

Na perspetiva do académico, os EUA tentam provocar a Rússia e a China, forçando-os a "decisões drásticas" que as afastariam dos seus aliados.

"Como resultado de uma crise nas relações da Rússia e China com os seus respetivos aliados, os EUA pretendem disponibilizar significativos recursos materiais para reforçar a sua influência", assinala.

Como segunda intenção, prossegue Sushentsov, Washington também pretende limitar o crescimento económico dos seus aliados e submetê-los à disciplina aliada.

"Pretende eliminar os impulsos de autonomia estratégica na União Europeia e entre os seus parceiros e aliados na Ásia. Assim, espera reforçar o seu desempenho como participante decisivo e indispensável nas parcerias militares multilaterais que integra com os seus aliados".

Ao discutir separadamente com cada país, Washington pretenderá "envolver os seus parceiros do leste da Ásia nos conflitos na Europa, e vice-versa", dando como exemplo as negociações para o fornecimento de tanques sul-coreanos à Polónia.

"Apesar de não existir ligação direta entre a crise na Ucrânia e a situação em torno de Taiwan, os EUA tentam tudo para a fomentar artificialmente", sublinha Sushentsov, que na atual situação considera que o "desafio" consiste no facto de os Estados Unidos "não poderem estar envolvidos em simultâneo num conflito com a Rússia na Ucrânia e com a China em Taiwan".

Num regresso à Europa, designa os três Estados do Báltico (Estónia, Letónia, Lituânia), Polónia, República Checa e Eslováquia como o "grupo mais radical" duma coligação anti-Rússia, e na qual os aliados desempenham diversas funções.

"São instrumentos da política americana", defendem um crescente envolvimento dos EUA nos assuntos europeus e pretendem pressionar os países que criticam, por considerarem que efetuam "concessões" à Rússia, sustenta.

Uma perspetiva acentuada por Timofei Bordachev, diretor de programas do Clube Valdai, quando considera na sua análise, também recentemente publicada, não se poder afirmar com segurança estar excluída uma "súbita e dramática escalada" entre a Rússia e os Estados Unidos.

"Existem diversos fatores que podem contribuir para isso, começando pela posição incerta de diversos aliados formais dos Estados Unidos: a Polónia e os Estados do Báltico", frisa Bordachev, doutorado em Ciência política pela Universidade de São Petersburgo, especialista em teoria de relações internacionais, e nas relações Europa-Rússia, política externa da União Europeia (UE) e Eurásia.

"Não pode ser excluído que um envolvimento mais ativo destes Estados no conflito com a Rússia possa conduzir a ameaças ao seu território, e numa situação em que os EUA terão de fazer uma opção muito séria", precisa.

Neste grupo alargado de aliados "anti-Rússia", Sushentsov coloca o Reino Unido à margem, ao defini-lo de "segundo vassalo da política global" dos EUA", por vezes com posições mais radicais que Washington e que fornecem as norte-americanos a oportunidade de surgirem como um ator internacional mais moderado.

Pelo contrário, a França, Itália e Alemanha são definidos como mais cautelosos, mas adverte que as consequências económicas destas crises também serão geridas à sua custa.

Num terceiro grupo surgem os países que considera oportunistas, que procuram defender os seus interesses, incluindo através de disputas com os EUA, designando em particular a Turquia e Hungria.

Os Estados Unidos continuarão a contar com um grupo de "influentes aliados" entre os considerados "países radicais da Europa de leste", que se apresentam como uma fronteira segura e que deve ser reforçada por todos os meios para combater a Rússia, assinala ainda.

"Os EUA sustentam esta política não apenas pela necessidade de conter a Rússia mas também por um potencial e futuro confronto com a China. Por diversos motivos, os EUA não estão interessados nos esforços para uma solução pacífica do conflito. Acreditam que o tempo joga a seu favor" para concretizar diversos objetivos, independentemente do que acontecer na Ucrânia.

Os atuais sinais excluem uma eventual intervenção direta no confito, apesar de atualmente haver "um elevado grau de incerteza", acrescenta Timofei Bordachev.

"A atual fase da política internacional, que envolve os principais participantes, contém um colossal elemento de incerteza, e não é surpreendente: quer a Rússia quer o ocidente nunca enfrentaram no passado esta situação".

Na perspetiva deste analista, o prolongamento do confronto militar "dependerá da destreza das partes em serem convincentes na demonstração das suas capacidades militares, e na resistência às inevitáveis alterações económicas associadas ao conflito".

Bordachev sustenta que, até ao momento, a Rússia e o ocidente tem demonstrado um "elevado grau de estabilidade interna" e "capacidade" para prosseguir o combate.

"Isto torna difícil prever o momento em que as partes sentirão necessidade de um regresso à mesa das negociações", admite.

"Contudo, as propostas russas apresentadas há um ano [referência às negociações diretas entre Moscovo e Kyiv na fase inicial do conflito, entretanto interrompidas] ainda podem ser objeto de discussão. E poderão acontecer após criadas as condições, uma tarefa da fase técnico-militar das relações", conclui na sua reflexão.

Leia Também: China mede "custos e benefícios" de relação "mais forte" com a Rússia

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