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China mede "custos e benefícios" de relação "mais forte" com a Rússia

Um ano após o início da guerra na Ucrânia, a relação China - Rússia está "mais forte" e "assimétrica", concordam analistas, ressalvando que Pequim passou a avaliar os "custos e benefícios" da aproximação a Moscovo.

China mede "custos e benefícios" de relação "mais forte" com a Rússia
Notícias ao Minuto

10:17 - 23/02/23 por Lusa

Mundo Ucrânia/ 1 ano

"A tendência aponta para um aprofundamento e alargamento da parceria, mas também para uma crescente assimetria, a favor da China", afirmou Alexander Gabuev, especialista em política externa russa do Carnegie Endowment for International Peace, durante um painel de discussão organizado por aquele grupo de reflexão ('think tank'), com sede em Washington.

"É uma relação -- não uma aliança -- mutuamente benéfica, mas que beneficia mais a China" descreveu. "A coordenação [entre Pequim e Moscovo] é cada vez maior e cada vez mais realizada nos termos de Pequim", notou.

O ano passado, o comércio China - Rússia aumentou 34,3%, em termos homólogos, para o valor recorde de 190 mil milhões de dólares (178 mil milhões de euros), atenuando o impacto das sanções impostas a Moscovo pelo Ocidente.

Pequim considera a parceria com o país vizinho fundamental para contrapor a ordem democrática liberal, numa altura em que a sua relação com os Estados Unidos atravessa também um período de grande tensão, face a uma prolongada guerra comercial e tecnológica, diferendos em questões de direitos humanos, o estatuto de Hong Kong e Taiwan ou a soberania do mar do Sul da China.

Para Li Mingjiang, especialista em política externa chinesa na Universidade Tecnológica de Nanyang, em Singapura, os laços entre Pequim e Moscovo "não foram afetados pela invasão russa da Ucrânia" e Pequim fez "tudo o possível" para "parecer não trair a parceria estratégica com o país vizinho".

No entanto, o analista admitiu a existência de um "forte debate interno" no país sobre os "custos e benefícios" da aproximação a Moscovo.

"De uma perspetiva estratégica global mais ampla, certamente há perdas para a China", disse o analista, que destacou o "deteriorar da relação de Pequim com os Estados Unidos e os países europeus" e a "crescente perceção negativa" sobre o país asiático no Ocidente.

"Isto pode causar graves danos a longo prazo", notou.

Mas Li apontou também "benefícios" para Pequim, à medida que a guerra na Ucrânia obriga os Estados Unidos a desviar "recursos e atenção" da região da Ásia - Pacífico, onde, nos últimos anos, promoveu parcerias e alianças visando conter a ascensão da China na região.

Semanas antes de a Rússia invadir a Ucrânia, em 4 de fevereiro de 2022, o Presidente chinês, Xi Jinping, recebeu o homólogo russo, Vladimir Putin. Os dois líderes anunciaram então uma parceria "sem limites". A China recusou condenar a Rússia pela invasão da Ucrânia e criticou a imposição de sanções contra Moscovo.

Li Mingjiang observou que, em "retrospectiva", a liderança chinesa considera agora que poderia ter gerido melhor as perceções, à medida que a sua "retórica" inicial sobre o conflito colocou o país numa situação "embaraçosa".

"As autoridades chinesas poderão estar arrependidas de não terem feito o esforço adequado para tentar tornar mais clara a posição chinesa sobre a guerra", disse. "Acho que há a sensação de que Pequim poderia ter sido um pouco mais crítico em relação à guerra: para muitas pessoas, a imagem que ficou é de que a China apoiou a invasão", descreveu.

Li apontou assim uma mudança na retórica de Pequim, destacando dois momentos chave: o levantar de "questões e preocupações" por Xi Jinping, sobre o conflito, durante um encontro com Putin, em setembro passado; e a mensagem do líder chinês, em março passado, contra o uso e a ameaça nuclear, após o homólogo russo ter sugerido o uso de armas atómicas na Ucrânia.

"Essas mudanças subtis, que são mais percetíveis nos últimos meses, não devem ser interpretadas como um afastamento significativo da China da sua posição pró-Rússia", explicou Li. "Devem ser antes vistas como um reconhecimento pelos líderes chineses de que as relações com o Ocidente continuam a ser vitais", frisou.

Leia Também: EUA avisam China: Haverá "consequências" se estreitar laços com a Rússia

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