Investigação à morte de jornalista crítico do regime ruandês questionada

O processo judicial sobre a morte de um conhecido jornalista no Ruanda, crítico do regime do Presidente Paul Kagame, é "opaco" e "deixa muitas zonas cinzentas", denunciou hoje a organização Repórteres Sem Fronteiras (RSF), referindo-se a um "homicídio".

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Lusa
10/02/2023 17:52 ‧ 10/02/2023 por Lusa

Mundo

Ruanda

John Williams Ntwali, 44 anos, editor do jornal The Chronicles, morreu em 18 de janeiro quando um veículo colidiu com a motocicleta em que viajava como passageiro perto da capital, Kigali.

O motorista envolvido no acidente, que se declarou culpado, foi condenado em 07 de fevereiro a pagar uma multa de um milhão de francos ruandeses (cerca de 860 euros).

A organização não-governamental (ONG), que refere em comunicado que se tratou de um "julgamento-relâmpago", "denuncia um procedimento opaco que deixa muitas zonas cinzentas sobre as circunstâncias da morte".

"Este acórdão foi proferido com base numa investigação que nunca veio a público e que obviamente se contentou em ter em conta a hipótese de acidente, sem explorar outras vias", segundo a RSF, continuando: "Em 2012, o jornalista, que já era alvo de ameaças, havia sido vítima de um acidente semelhante ao qual havia sobrevivido".

No comunicado, assinado pelo diretor da representação da RSF em África, Sadibou Marong, questiona-se: "Oitocentos e sessenta euros, este é o preço do assassínio de um jornalista no Ruanda".

Na rede social Twiter, em 23 de janeiro, a porta-voz do Governo, Yolande Makolo referiu-se a "insinuações infundadas" relativamente às dúvidas da investigação.

No final de janeiro, 90 organizações de direitos humanos, principalmente africanas, apelaram às autoridades ruandesas para "uma investigação independente, imparcial e eficaz" baseada em "especialistas internacionais", após a "morte suspeita" do famoso jornalista.

Ntwali chegou a ser detido várias vezes, entre períodos que variaram entre algumas horas e várias semanas.

O jornalista fundou o canal Pax TV na rede social de partilha de vídeos YouTube, transmitindo principalmente entrevistas, na língua Kinyarwanda, a dissidentes do regime.

Desde o fim do genocídio de 1994, que provocou pelo menos 800.000 mortos, principalmente tutsis, o Ruanda tem sido governado com mão de ferro por Paul Kagame.

Elogiado pelos sucessos da sua política de desenvolvimento, o Presidente também é criticado por grupos de direitos humanos pela repressão à liberdade de expressão.

O país está classificado em 136.º lugar entre 180 países em liberdade de imprensa numa lista elaborada pela organização não-governamental Repórteres Sem Fronteiras.

"Desde 1996, oito profissionais foram mortos ou estão desaparecidos e 35 foram forçados ao exílio", denunciou a ONG no seu portal na Internet.

Nos últimos 10 anos, a imprensa independente tornou-se rara, bloqueada pelo Governo.

Leia Também: Ruanda acusa RDCongo de violar acordos e comunidade de hipocrisia

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