A presidente da Frente de Defesa do Povo de Ayacucho (Fredepa), Rocío Leandro Melgar, e ainda a vice-presidente Stefany Alanya Chumbes e o secretário da organização, Alejandro Manay Pillaca, foram detidos na noite de quinta-feira, indicou hoje a Polícia nacional do Peru (PNP) em mensagem nas redes sociais.
O ministério do Interior acrescentou que as detenções foram efetuadas por agentes da PNP e "procuradores especiais" enviados desde Lima, e precisou que Leandro Melgar será transferida para Lima enquanto era reforçada a presença policial em Ayacucho "como medida de prevenção".
A procuradoria indicou estar a investigar os violentos protestos de 15 e 16 de dezembro, com o gabinete do Ministério público saqueado e incendiado, à semelhança de outras dependências estatais em Ayacucho, e enquanto prosseguem as manifestações antigovernamentais em diversas regiões do país andino, que hoje alastraram à capital Lima.
As autoridades judiciais indicaram hoje que 42 pessoas foram mortas, 531 feridas e 329 detidas desde o início dos protestos em dezembro passado. O balanço das vítimas mortais inclui um polícia, enquanto outros 355 civis e 176 agentes ficaram feridos. Entre os 329 detidos inclui-se um menor.
O Provedor do Povo (Defensoría del Pueblo), outro organismo oficial, confirmou que 41 manifestantes foram mortos em confrontos diretos com as forças policiais e militares, para além de um polícia e de sete pessoas que perderam a vida por "acidentes rodoviários e factos vinculados com o bloqueio" das estradas.
A procuradoria assinalou ter iniciado oito investigações para determinar "os responsáveis pela perda destas vidas humanas" e ainda três outros inquéritos paralelos pelos ataques às sedes do Ministério público em cidades do sul do país.
Ainda no sul, a empresa mineira Antapaccy, explorada pela multinacional anglo-suíça Glencore, anunciou hoje que vai retirar 2.400 trabalhadores das suas operações na região de Cusco, após um ataque às instalações por um grupo de alegados manifestantes que contestam a atual presidente Dina Boluarte.
Após assinalar que as suas instalações foram atacadas "por um grupo de vândalos", a empresa anunciou que "vai procurar as condições de segurança necessárias para inicar a retirada do pessoal, na salvaguarda a sua integridade".
Os protestos populares, que prosseguem em várias regiões do país, em particular no sul, exigem a renúncia de Boluarte, a dissolução do Congresso, a convocação de uma assembleia constituinte, novas eleições para 2023, a libertação do ex-presidente Pedro Castillo, entretanto condenado a 18 meses de "prisão preventiva", e justiça para as vítimas dos protestos.
As manifestações iniciaram-se em dezembro passado após Boluarte ter assumido a chefia do Estado na sequência da destituição de Pedro Castillo, pelo Congresso, acusado de promover um "auto-golpe" que implicava a dissolução da câmara e novas eleições.
Na sequência dos confrontos e do elevado número de vítimas, várias organizações de defesa dos direitos humanos, incluindo a Amnistia Internacional (AI) e o gabinete do Alto Comissariado da ONU para os Direitos Humanos (ACNUDH) exortaram as autoridades a terminar com o "uso indevido da força contra a população civil" e assegurar o respeito pelos direitos humanos.
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