William M., um maquinista reformado, de 69 anos, lançou o pânico, na sexta-feira, ao disparar vários tiros na rua Enghien, no 10.º bairro de Paris, em França. O ataque vitimou três pessoas e deixou outras três feridas, perto do Centro Cultural Curdo Ahmed-Kaya.
O homem, que também ficou ferido no tiroteio, era desconhecido dos arquivos dos serviços secretos franceses e da Direção-Geral de Segurança Interna (DGSI), mas já tinha sido detido em duas ocasiões, em 2016 e 2021, sendo a mais recente por “violência racista com arma de fogo”.
Segundo a procuradora do Ministério Público de Paris, Laure Beccuau, citada pela imprensa francesa, William M. foi acusado em fevereiro de 2022 após ter cortado, a 8 de dezembro de 2021, tendas de um centro de migrantes com um sabre e ferido dois homens. Aguardava julgamento em prisão preventiva, no entanto, foi libertado a 11 de dezembro - cerca de duas semanas antes do ataque em Paris.
Já em 2016, havia esfaqueado um homem que o assaltou em Seine-Saint-Denis, também na capital francesa. O caso estava ainda em tribunal.
O suspeito, que alega ter um “ódio patológico a estrangeiros”, deixou a ala psiquiátrica da sede da polícia no domingo e será hoje presente a um juiz de instrução, com vista a uma possível acusação.
Segundo a procuradora Laure Beccuau, as motivações do crime estão a ser investigadas e a acusação poderá incidir sobre um perfil "desequilibrado" ou de um assassino “racista”.
A responsável revelou ainda que o suspeito se deslocou, na sexta-feira, a Saint-Denis com a intenção de matar o maior número possível de imigrantes.
Acabou por desistir do plano, após não ter encontrado demasiadas pessoas. No regresso a casa, lembrou-se do centro cultural curdo existente no bairro. Acabou por matar dois homens e uma mulher da comunidade que disse odiar.
Durante o interrogatório das autoridades, descreveu-se como “depressivo e suicida” e revelou que o ódio a estrangeiros começou em 2016, após um roubo em sua casa. Disse que "a única coisa" que lamenta é "não ter cometido suicídio", algo que planeia fazer "um dia", mas "não sem primeiro levar o maior número possível de inimigos", referindo-se a "todos os estrangeiros não europeus".
Em declarações à agência de notícias AFP, o pai de William M., de 90 anos, disse que o filho era “silencioso e retraído” e “planeou o ataque sozinho”. “Ele não disse nada. Ele é louco, ele é louco”, disse o homem.
O suspeito enfrenta potenciais acusações de homicídio e tentativa de homicídio com um motivo racista, segundo o Ministério Público parisiense.
A investigação não conseguiu até agora estabelecer quaisquer ligações particulares com a comunidade curda, e nem a análise do seu telefone, nem do computador que tinha em casa dos pais estabeleceram qualquer relação com a ideologia de extrema-direita.
As investigações excluem, para já, o caráter terrorista da ação, como defendido por representantes da comunidade curda em França, que colocam a Turquia por detrás dos acontecimentos, ocorridos quase dez anos depois do assassinato a sangue frio de três militantes curdos muito próximo do local onde este tiroteio teve lugar.
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