Na capital, Tunes, observadores dizem que apenas 5,6% dos cerca de nove milhões de pessoas recenseadas tinha votado, no final da manhã, com os analistas a anteciparem que a participação eleitoral pode ficar abaixo dos 30,5% que votaram no referendo organizado este verão por Saied para rever a Constituição.
"Esta é uma oportunidade histórica para recuperarmos os direitos legítimos", defendeu o Presidente, que assume pretender "romper com aqueles que arruinaram o país".
Um novo Parlamento de 161 deputados deve substituir o que Saied suspendeu em 25 de julho de 2021 (e que acabou dissolvido no início de 2022), argumentando que as instituições existentes desde a queda do ex-Presidente Ben Ali, em 2011, durante a Primavera Árabe.
Na sequência destas alterações, Saied impôs um sistema de votação em duas voltas, que os seus opositores criticam por marginalizar a função dos partidos políticos, acentuando de forma exagerada o sistema presidencialista.
Essa é uma das razões que ajuda a compreender por que os partidos políticos estão a boicotar a votação de hoje.
A nova Assembleia dos Deputados terá prerrogativas muito limitadas sob a nova Constituição aprovada em julho passado.
Ao abrigo das alterações defendidas por Saied, o Parlamento não poderá acusar o Presidente e será praticamente impossível censurar o Governo, sendo necessários 10 deputados para propor uma lei, que ficará sempre sob o poder de veto do chefe de Estado.
Para o analista político Hamza Meddeb, "esta votação é uma formalidade para legitimar o sistema político imposto por Kais Saied e concentrar o poder nas suas mãos".
"Os tunisinos sabem que o Parlamento perderá todo o poder", explicou este cientista político.
A principal preocupação dos 12 milhões de tunisinos continua a ser o elevado custo de vida, com uma inflação de quase 10% e a recorrente escassez de alimentos.
Também a poderosa central sindical UGTT considerou desnecessárias estas eleições, chamando a atenção para as graves dificuldades financeiras que afetam o funcionamento dos serviços públicos.
O Fundo Monetário Internacional (FMI) acaba de adiar para o início de janeiro a decisão final de conceder à Tunísia um empréstimo de cerca de dois mil milhões de euros, alegando que o Governo não concluiu o processo de candidatura dentro do prazo.
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