As relações entre os dois países estiveram tensas nos últimos meses, quando o Iraque foi palco de um impasse entre os dois inimigos do xiismo político: o líder religioso Moqtada Sadr e o Quadro de Coordenação, uma aliança de partidos pró-Irão.

Al-Sudani, que assumiu o cargo de primeiro-ministro há um mês, encontrou-se hoje com o presidente iraniano, Ebrahim Raisi, reunião que era aguardada com a expectativa de uma melhora nas relações entre os dois países.

"Do nosso ponto de vista e do Governo iraquiano, a segurança, a paz, a cooperação e a estabilidade na região são muito importantes. O combate aos grupos terroristas, ao crime organizado, às drogas e a qualquer insegurança que ameace a região assenta na vontade comum dos dois países", disse Raisi numa conferência de imprensa conjunta.

Por seu lado, o primeiro-ministro iraquiano declarou que Bagdade está "determinada" a impedir que "qualquer grupo ou partido utilize o território iraquiano para [...] ameaçar a segurança do Irão", sublinhando que os dois países vão criar um "mecanismo de coordenação no terreno para evitar qualquer escalada".

Segunda-feira, Teerão saudou a decisão do Governo iraquiano de posicionar forças numa área na fronteira do Curdistão iraquiano, uma região autónoma onde estão várias bases dos opositores curdos iranianos.

O Irão acusa esses grupos, nomeadamente o Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK) e a milícia Unidade de Proteção Popular (YPG), de realizarem ataques em solo iraniano, infiltrando-se a partir do Iraque.

Teerão acusa também os dois movimentos de encorajar as manifestações desencadeadas no Irão após a morte, a 16 de setembro, da jovem curda Mahsa Amina, de 22 anos, três dias depois de ter sido detida pela polícia da moralidade iraniana por alegado uso indevido do 'hijab', o véu islâmico, o que constitui uma "violação" ao rígido código de vestuário no país.

As primeiras manifestações eclodiram nas localidades curdas do noroeste, em particular em Saghez, cidade natal de Amini, mas os protestos generalizaram-se a outras cidades. 

Hoje, na conferência de imprensa conjunta, e no plano económico, al-Soudani expressou a gratidão de Bagdade ao Irão pelo "apoio com o fornecimento contínuo de gás e eletricidade", uma vez que o Iraque depende em muito do país vizinho.

"Esta viagem e as discussões entre as duas delegações iraniana e iraquiana pode ajudar muito a resolver problemas bilaterais", sublinhou, entretanto, o Presidente iraniano.

Segundo reportou a agência noticiosa estatal iraniana Irna, mas sem avançar pormenores, al-Sudani e respetiva delegação reuniram-se também hoje com o líder supremo do Irão, o ayatollah Ali Khamenei.

Domingo, ao anunciar a deslocação a Teerão, fontes oficiais citadas pelo jornal iraquiano Al Sharq indicaram que, além da situação no Curdistão, Raisi e al-Soudani, iriam discutir "a evolução das conversações diplomáticas entre a Arábia Saudita e o Irão", em que o Iraque atua como mediador.

Na passada sexta-feira, os Guardiães da Revolução do Irão, o exército ideológico iraniano, enviaram unidades blindadas e infantaria para as regiões curdas do país, na fronteira com o Curdistão iraquiano, depois de denunciarem "movimentos suspeitos" de grupos de "oposição curda".

Um dia antes tinha sido Bagdade a anunciar os seus próprios movimentos militares em resposta a ataques do Irão e da Turquia sobre posições suas na região.

Há semanas que o Irão lança ataques transfronteiriços com mísseis e 'drones' (aparelhos voadores não tripulados) contra grupos da oposição curdo-iraniana, que culpa por incitar protestos no seu país pela morte da jovem curda Mahsa Amini.

Leia Também: Irão. Sobrinha do guia supremo pede ao mundo para cortar laços com Teerão