Migrações. Jornalista italiano defende que reunião da UE será simbólica
O jornalista italiano Marcello Sacco considera que a reunião extraordinária dos ministros dos Assuntos Internos da União Europeia (UE) marcada para hoje para debater políticas migratórias, na sequência do recente diferendo diplomático entre França e Itália, será apenas simbólica.
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Mundo Migrações
"Provavelmente, o que se vai discutir é um pacote de medidas, mais simbólicas do que reais, que permita aos líderes italianos dizer 'conseguimos vencer' e aos franceses a mesma coisa", afirmou Marcello Sacco em declarações à agência Lusa.
Os responsáveis pela tutela dos Assuntos Internos dos 27 Estados-membros da UE vão reunir-se hoje em Bruxelas para debater as políticas migratórias, uma reunião que foi antecipada a pedido de França, que se envolveu numa polémica diplomática com Itália.
A discórdia aconteceu na sequência da rejeição de Itália em receber um navio de resgate humanitário com 234 migrantes a bordo, o que obrigou Paris a assumir o acolhimento das pessoas.
O caso do navio 'Ocean Viking' levou as autoridades francesas a pedirem à UE para aplicar sanções a Roma, e Itália a defender que não tem obrigação de receber mais migrantes e que é preciso reforçar os mecanismos de solidariedade.
A reunião servirá também para discutir uma proposta da Comissão Europeia que visa impedir que saiam tantos migrantes dos seus países de origem rumo à Europa, atribuindo cerca de 600 milhões de euros em apoios aos países no norte de África.
"É bastante discutível a novidade deste caminho", afirmou o jornalista, correspondente da agência italiana de notícias Ansa em Portugal.
"No fundo, este plano de ação não diz nada de novo. É um pouco como aquelas conclusões que se fazem depois das conferências sobre alterações climáticas. Criam-se caixas vazias que são interessantes, mas depois é preciso preencher de alguma forma", considerou.
Para Marcello Sacco, também a questão colocada por Itália de atribuir aos países de bandeira dos navios humanitários a responsabilidade pelo acolhimento dos migrantes é mera retórica.
"Nenhum acordo internacional poderá pôr em segundo plano a primeira obrigação de qualquer barco - seja da Marinha italiana, seja de uma organização não-governamental - que é salvar vidas. E salvar vidas significa chegar ao porto mais próximo" o mais rapidamente possível, defendeu.
Para o jornalista italiano, "um barco norueguês não pode regressar à Noruega [para desembarcar os migrantes que salvou no Mediterrâneo] e isso nunca será posto em causa".
Marcello Sacco considera ainda que a situação registada há cerca de duas semanas, quando Itália rejeitou a entrada do navio 'Ocean Viking' no país não vai afetar a popularidade do novo Governo.
"Neste momento, o público italiano, como todos os outros, está preocupado com outras coisas, com a crise económica depois de dois anos de pandemia, com a inflação e com a crise energética causada pela guerra" na Ucrânia, apontou.
"Estas polémicas são armas de distração das massas, como se costuma dizer", argumentou.
Já em relação à "crise" diplomática com a França, o jornalista defende que a origem da discussão está nas "características pessoais dos líderes da coligação de direita" em Itália.
Embora não o possa demonstrar, Marcello Sacco acredita que o encontro entre a primeira-ministra italiana, Giorgia Meloni, e o Presidente francês, Emmanuel Macron, pouco depois da tomada de posse do novo Governo em Roma, terá sido marcado por acordos mútuos sobre migrantes.
"Tudo indicava que a abertura de França em receber migrantes fosse uma espécie de consequência destes acordos mútuos, mas não muito divulgados", adiantou.
A tensão terá acontecido, segundo o jornalista, "depois de [Matteo] Salvini, [parceiro de Meloni na coligação governamental], ter publicado uma mensagem na rede social Twitter, a que se seguiu uma declaração da presidência do Conselho de Ministros".
Nos dois casos, foi apresentada a ida do navio humanitário para França como "uma grande vitória" italiana.
"Provavelmente, a França não gostou nada deste jogo" até porque "o Governo de Itália representa uma ameaça para todos os países onde a extrema-direita é uma ameaça real", como acontece em França, concluiu Marcello Sacco.
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