Austrália. Genética pode libertar condenada pela morte dos quatro filhos
Uma variante genética terá sido passada pela mulher às duas filhas, Sarah e Laura - que morreram com 10 e 19 meses.
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Mundo Austrália
Há 18 anos, Kathleen Folbigg foi condenada a 30 anos de prisão pela morte dos seus quatro filhos, entre 1989 e 1999.
Agora, a australiana pode ser libertada pela ciência, deitando por terra o título de “pior assassina em série da Austrália”.
Depois de novas evidências sugerirem que dois dos bebés morreram, provavelmente, de uma mutação genética, desconhecida na altura do nascimento, e que levou a complicações cardíacas, dois especialistas revelaram, esta terça-feira, que uma rara mutação genética pode ser a real causa de morte de duas das filhas de Kathleen Folbigg.
Segundo a Associated Press, dois peritos em genética, Mette Nyegaard e Michael Toft Overgaard, da Universidade de Aalborg, na Dinamarca, revelam num artigo científico que uma variante genética terá sido passada por Folbigg às duas filhas, Sarah e Laura - que morreram com 10 e 19 meses.
A variante CALM2-G114R, descoberta em 2012, é hereditária e pode causar arritmia e morte súbita em bebés.
Esta teoria vai agora ser avaliada, uma vez que os filhos Patrick e Caleb não tinham no ADN a tal mutação e também morreram - com 18 meses e com apenas 19 dias.
A dura história de Kathleen
Desde o início que a vida de Kathleen foi marcada pela tragédia. Quanto tinha 18 meses, o pai esfaqueou a mãe até à morte e cumpriu 15 anos de prisão pelo homicídio até ser deportado para o Reino Unido, de onde era natural.
A partir daí, Kathleen transformou-se numa criança “perturbada” e com problemas comportamentais. De acordo com um médico, que efetuou um relatório para o tribunal sobre a australiana, este tipo reações pode indicar que ela foi abusada pelo pai enquanto era apenas uma bebé.
A morte dos filhos
Já no final da década de 80, Kathleen casou-se com Craig Folbigg, que conheceu numa discoteca em Newcastle. Quando ela tinha apenas 21 anos, tiveram o primeiro filho, um menino chamado Caleb.
Contudo, quando o bebé tinha apenas 19 dias, morreu. A causa? Morte súbita infantil. De acordo com os investigadores, havia ausência de evidências de qualquer outra causa.
Pouco depois, engravidou e, em 1990, teve Patrick. De acordo com os relatórios médicos, o bebé estava “normal e saudável”, mas aos quatro meses, teve um episódio de convulsões que o deixou com danos cerebrais irreversíveis. Aos oito meses, acabou por morrer.
O terceiro filho da australiana, Sarah, morreu aos 10 meses. Assim como Craig, a causa terá sido SMSI, ou seja, síndrome da morte súbita infantil.
Só quando a sua quarta filha, Laura, morreu, aos 18 meses, em 1999, é que a polícia começou a investigar Kathleen.
Desconfiado com as mortes dos filhos, Craig pediu o divórcio. Pouco depois, encontrou um diário da mulher onde, segundo o mesmo, havia uma anotação que lhe deu “vómitos”. No dia 19 de maio de 1999, ele deu o caderno às autoridades.
Dois anos depois, no dia 19 de abril de 2001, Kathleen foi acusada de quatro crimes de homicídio, com base nas declarações do pediatra Roy Meadow - “Uma morte súbita é uma tragédia, duas são suspeitas e três são homicídios, até prova o contrário” - e no que estava escrito no diário.
“Sinto-me a pior mãe deste mundo, com medo que a Laura me deixe como a Sarah fez. Eu sabia que às vezes era mal-humorada e cruel com ela e ela foi embora, com um pouco de ajuda […]. Não pode acontecer de novo. Estou com vergonha de mim mesma. Não consigo contar ao Craig porque ele não vai querer deixá-la comigo”, terá escrito a condenada.
Apesar de não haver provas concretas de que Kathleen tinha matado os quatro filhos e de esta ter negado sempre os homicídios, a australiana acabou por ser condenada a 30 anos de prisão.
Agora, passadas quase duas décadas, com a evolução da ciência, chegou-se à conclusão que uma mutação no gene SCN5A pode provocar a síndrome da morte súbita infantil e que, em 35% dos casos, esta pode ser explicada por fatores genéticos, ou seja, poderia, eventualmente, matar mais do que um filho da mesma mãe.
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