Numa conferência de imprensa conjunta, o ministro grego, Nikos Dendias, disse que as conversas com o homólogo egípcio, Sameh Shukry, se concentraram nos memorandos de entendimento assinado entre a Turquia e Abdul Hamid Dbeibah, líder de um dos dois governos que subsistem na dividida Líbia, e acrescentou que tais acordos representam uma ameaça à estabilidade regional.
Cairo e Atenas fortaleceram os laços nos últimos anos, incluindo a cooperação no desenvolvimento de recursos energéticos, combate ao terrorismo e a assinatura de novos acordos de fronteira marítima, juntamente com Chipre.
Os acordos, assinados na semana passada na capital líbia, Tripoli, incluem a exploração conjunta de reservas de hidrocarbonetos no 'offshore' da costa Líbia e no território nacional.
Dendias classificou os acordos como ilegais e disse que violam as águas gregas.
Sameh Shukry também argumentou que o governo de Dbeibah "não tem autoridade para concluir quaisquer acordos internacionais ou memorandos de entendimento", uma vez que o seu mandato expirou após o fracasso da Líbia em realizar eleições nacionais em dezembro do ano passado.
O governante grego disse ainda que os dois ministros também discutiram os acontecimentos no mar Egeu, em referência às tensões com a Turquia sobre o suposto envio de dezenas de veículos blindados fabricados nos EUA pela Grécia para as ilhas de Samos e Lesbos.
Na conferência de imprensa, Shukry pediu à ONU que adote "uma posição clara" sobre a legitimidade do governo de Dbeibah, frisando que as Nações Unidas "não devem ficar em silêncio".
A Líbia está mergulhada no caos desde que uma revolta popular, apoiada pela NATO, derrubou e matou o então líder líbio Muammar Kadhafi, em 2011.
O país tem sido governado por governos rivais durante a maior parte da última década e existem agora duas administrações reivindicando legitimidade: a de Dbeibah, em Tripoli, e outro governo nomeado pelo parlamento, chefiado por Fathi Bashagha.
Jalel Harchaoui, especialista em Líbia do Royal United Services Institute, um 'think tank' de defesa e segurança, disse que os acordos da Turquia com o governo de Dbeibah, que têm "pouco valor legal", deveriam provocar a Grécia.
O analista acrescentou que eles eram "parte da política de assertividade hipernacionalista que (o Presidente turco, Recep) um Erdogan fraco e impopular pretende cultivar à medida que se aproximam as eleições de junho de 2023".
O governo de Erdogan explorou a posição enfraquecida de Dbeibah depois de a Turquia o ter ajudado a defender sua posição em Tripoli durante os mortíferos confrontos ocorridos agosto, e que eram uma tentativa de Bashagha para instalar o seu governo na capital, considerou Harchaoui.
A Turquia tem tropas e mercenários sírios aliados na capital líbia.
O primeiro-ministro líbio defendeu os acordos, dizendo que ajudariam o país do norte da África a buscar a exploração de petróleo e gás "nas águas territoriais com a ajuda de países vizinhos".
Os acordos da Turquia com o governo de Dbeibah ocorrem três anos depois de outro acordo controverso entre Ancara e um antigo governo de Tripoli.
Esse acordo de 2019 concedeu à Turquia acesso a uma zona económica contestada no leste do mar Mediterrâneo, rico em gás, alimentando as tensões já existentes entre a Turquia e a Grécia, Chipre e Egito sobre os direitos de perfuração na região.
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