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Mar-a-Lago, a 'Casa Branca de Inverno' da presidência de Trump

O luxuoso clube e resort de golfe tornou-se num segundo centro executivo da política americana, com Trump a receber chefes de Estado e dignatários na sua propriedade privada. O uso do complexo diluiu as linhas entre os deveres do presidente e a interação com o seu império privado.

Notícias ao Minuto

10:35 - 09/08/22 por Hélio Carvalho

Mundo Donald Trump

Quando a sua presidência terminou, em janeiro de 2021, Donald Trump fez saber que passaria a viver no estado da Flórida, no seu complexo privado de Mar-a-Lago. A notícia não foi acolhida com surpresa por ninguém: durante os quatro anos em que foi presidente dos Estados Unidos, a enorme e luxuosa propriedade transformou-se num importante centro de decisões, a ponto de receber uma simbólica alcunha: a 'Casa Branca de Inverno'.

Esta terça-feira, a polícia federal norte-americana fez buscas na propriedade, no âmbito de uma investigação sobre o manuseamento de documentos confidenciais, numa ação que chocou a política do país.

O Mar-a-Lago é, essencialmente, um clube privado, localizado em Palm Beach, na Flórida. Uma subscrição anual para um quarto no complexo pode custar cerca de 200 mil dólares (cerca de 195 mil euros), mas o valor não é um problema para muitos dos residentes de Palm Beach, uma região conhecida por albergar as casas de verão das personalidades mais ricas dos EUA.

O resort é primariamente conhecido por ter campos de golfe - e se os campos eram reputados antes de Trump chegar à Casa Branca, a sua importância (e valor) aumentou ainda mais quando o presidente os usou durante o mandato.

Segundo dados recolhidos pelo Washington Post, Trump gastou quase 10% dos 1.461 dias do seu mandato em Mar-a-Lago, a jogar golfe. É, de longe, a sua propriedade privada onde passou mais tempo, indo ao clube em 142 dias da sua presidência, ao longo de 32 visitas.

O clube foi tão utilizado pelo antigo presidente que as suas instalações tiveram de ser adaptadas para acolher a complexa comitiva de um líder norte-americano. Por exemplo, a administração criou uma 'Situation Room' ('Gabinete de Crise', onde presidentes dos EUA tomam decisões do foro militar), na qual Trump chegou a aprovar um ataque aéreo a um aeródromo sírio, em 2017.

Tanto o complexo como o golfe atingiram uma grande preponderância na logística da administração, e Mar-a-Lago foi o palco escolhido para acolher importantes eventos diplomáticos. Além de acolher primeiros-ministros da América Central em conferências, Trump recebeu o presidente chinês Xi Jinping e o então primeiro-ministro japonês Shinzo Abe, nas mais mediáticas visitas de estado da sua presidência.

Notícias ao Minuto Primeiro-ministro japonês Shinzo Abe em Mar-a-Lago, numa visita de Estado© Getty Images  

Durante a visita, ambos jogaram golfe, claro.

Linhas éticas diluídas

Esta forte proximidade entre Casa Branca e Mar-a-Lago, que foi sempre propriedade de Trump ao longo dos quatro anos, levou a que se acusasse a administração de Trump de manchar a ideia de separação de poderes e de desvalorizar conflitos de interesses (outro tema constante, que o envolveu a si e ao seu governo).

Muitos questionaram a ética de um presidente passar tanto tempo numa propriedade privada, até porque as visitas também saem do bolso dos norte-americanos. Com base no dinheiro gasto nas primeiras visitas a Mar-a-Lago, o Washington Post calculou que o Estado norte-americano gastou um total superior a 100 milhões de euros com cada visita de Trump ao seu resort.

Além disso, o acesso que uma conta bancária recheada permite ter em Mar-a-Lago também tornou a Casa Branca mais fechada aos menos afortunados. Ao The Guardian, Robert Weissman, presidente de uma organização pró-transparência governativa, comentou que o clube "tornou-se num clube presidencial de acesso pago, com um presidente com quase nenhum conhecimento de política governamental".

Reforma no meio de luxo

Quando Biden tomou posse a 20 de janeiro de 2021, Trump saiu pelas traseiras da Casa Branca, disse poucas palavras e entrou no helicóptero, que o levou para a sua reforma em Mar-a-Lago.

Desde então, Donald Trump tem estado tudo menos reformado. O antigo presidente continua a ser o candidato preferido às eleições presidenciais de 2024, pela liderança do Partido Republicano, à frente de rostos mais jovens e potencialmente mais favorecidos pelo eleitorado conservador.

Notícias ao Minuto Trump tem percorrido o país para promover candidatos que lhe são próximos nas 'Midterms'© Getty Images  

E, a poucos meses das eleições intercalares (ou 'Midterms'), Trump tem corrido pelo país a apoiar candidatos às primárias republicanas, promovendo pessoas que partilhem a sua ideologia - especialmente aqueles que defendam que ele venceu as eleições presidenciais de 2020, uma mentira refutada por todas as entidades oficiais - contra republicanos mais moderados.

Mar-a-Lago continua e continuará a ser um foco de atenção para o GOP [outra sigla para Partido Republicano]: a dois anos das presidenciais, as campanhas começarão em breve e o resort vai continuar certamente a acolher a liderança de um partido ainda preso pela influência populista que Trump deixou na política norte-americana, e mesmo mundial.

Leia Também: FBI está a fazer buscas na propriedade de Donald Trump em Mar-a-Largo

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