A Rússia e a Ucrânia vão assinar na sexta-feira o acordo para a exportação de cereais, de acordo com uma fonte do governo turco, citada pela agência France-Press.
O anúncio surge um dia depois de o presidente da Turquia ter dito que queria um acordo por escrito ainda esta semana.
"A cerimónia de assinatura do acordo do envio de cereais, na qual estarão presentes o presidente [turco] Recep Tayyip Erdogan e o secretário-geral da ONU, António Guterres, será assinado amanhã às 16h30 [14h30 em Lisboa] no Palácio Dolmabahçe, com a participação da Ucrânia e Rússia", assinala o texto.
Acordo era esperado esta semana
"Um acordo começou a surgir na semana passada durante as conversações em Istambul na semana passada. Agora, queremos que este acordo esteja por escrito", lê-se num comunicado do emitido pelo gabinete do responsável na quarta-feira, citado pela Jazeera. "Esperemos que esteja pronto nos próximos dias", afirmou Recep Tayyip Erdoğan.
Para além das declarações do líder turco, também o Kremlin demonstrou na quarta-feira alguma vontade de assinar o acordo.
"Enviámos ontem [terça-feira] um sinal ao secretário-geral (da ONU) dizendo, aqui está, esta é a vossa iniciativa, vamos tomar uma decisão sobre os ucranianos, depois sobre os russos", afirmou o ministro dos Negócios Estrangeiros russo, Serguei Lavrov.
Antes, o presidente russo, Vladimir Putin, já tinha feito um pedido similar.
"Vamos facilitar a exportação de cereais ucranianos, mas com base no levantamento de todas as restrições relacionadas com as entregas aéreas para a exportação de cereais russos", apontou o chefe de Estado russo, numa visita no mesmo dia a Teerão, no Irão.
Guterres a caminho da Turquia
O secretário-geral da Organização das Nações Unidas, que também está envolvido nas negociações, viaja esta quinta-feira até à Turquia, de acordo com um porta-voz da organização.
A informação foi dada antes de a assinatura do acordo ser conhecida, mas o porta-voz disse que Guterres "viaja para Istambul como parte dos seus esforços para assegurar um pleno acesso global aos alimentos ucranianos e aos alimentos e fertilizantes russos". O responsável excluiu, por outro lado, que um futuro acordo possa incluir qualquer alívio das sanções internacionais impostas à Rússia na sequência da invasão da Ucrânia, iniciada em 24 de fevereiro.
Farhan Haq salientou que "não se trata de um acordo entre duas partes, Rússia e Ucrânia, é um acordo para o mundo inteiro", uma vez que "centenas de milhares, talvez milhões de vidas humanas podem ser salvas" caso o acordo seja firmado e aplicado.
O representante não precisou quanto tempo poderá demorar o transporte dos cereais ucranianos retidos nos portos do Mar Negro através das rotas negociadas, mas realçou que a ONU e as "outras partes" estão a trabalhar para que isso seja feito "o mais rápido possível".
Já no início da semana o presidente turco tinha falado sobre a possibilidade de as partes envolvidas - Ucrânia, Rússia, Turquia e a Organização das Nações Unidas - chegarem a acordo nos próximos dias, o que se verificou.
Istambul foi palco na semana passada de uma reunião de peritos militares da Rússia, Ucrânia e Turquia e de representantes da ONU para tentar desbloquear a exportação dos cereais russos e ucranianos retidos devido à guerra na Ucrânia e evitar uma crise alimentar global.
Em conjunto, segundo a revista britânica The Economist, a Ucrânia e a Rússia fornecem 28% do trigo consumido no mundo, 29% da cevada, 15% do milho e 75% do óleo de girassol.
As exportações de cereais e de fertilizantes russos têm sido afetadas pelas sanções impostas pelo Ocidente sobre as cadeias logísticas e financeiras russas.
A Rússia é um exportador chave de fertilizantes. Em 2021, o país foi o principal exportador mundial de fertilizantes nitrogenados e o segundo fornecedor de fertilizantes potássicos e fosforados.
[Notícia atualizada às 20h]
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