"A América Latina ainda está neste caminho lento, de luta, do sonho de San Martín e Bolívar [pais das independências latino-americanas] pela unidade da região", declarou o pontífice em entrevista à agência estatal argentina Telam, a partir da sua residência no Vaticano.
A região "sempre foi vítima, e será vítima até que seja completamente libertada, dos imperialismos exploradores. Todos os países têm isso", disse o papa, sem citar países ou outras entidades.
"Não quero mencioná-los, porque são tão óbvios que todos os veem", acrescentou.
Questionado sobre as mudanças políticas no continente, com fórmulas políticas em vários países que ilustram uma rejeição ao neoliberalismo, o papa referiu-se ao sonho de San Martín e Bolívar, que "é uma profecia, o encontro de todo o povo latino-americano, além da ideologia, com soberania".
"Devemos trabalhar para alcançar a unidade latino-americana. Onde cada povo se sinta bem com sua identidade e, ao mesmo tempo, precise da identidade do outro. Não é fácil", salientou.
Francisco, de 85 anos, que no próximo ano vai completar 10 anos de pontificado, fez uma espécie de balanço do seu trabalho, garantindo não ter "inventado nada", mas apenas "implementado o que foi pedido por todos".
Por outro lado, o papa argentino sente que deixou a sua própria "marca", de uma "Igreja latino-americana [que] tem uma história de proximidade com o povo", "uma Igreja popular, no verdadeiro sentido do termo".
Nesta Igreja, historicamente, "houve tentativas de formatar ideologias, como (...) a análise marxista da realidade para a Teologia da Libertação", analisou.
"Foi uma instrumentalização ideológica, uma forma de libertação -- digamos assim -- da Igreja popular latino-americana. Mas os povos são uma coisa e o populismo é outra", apontou.
O papa foi questionado sobre a sua saúde durante a entrevista, já que as especulações sobre uma possível renúncia foram revividas nos últimos meses, em particular pela dor no joelho que o obrigou a adiar uma viagem à África -- embora tenha confirmado uma viagem ao Canadá no final de julho.
"Ainda vamos ter papa Francisco por um tempo?", perguntou o jornalista da Telam.
"Cabe ao que está acima dizer", respondeu Francisco, referindo-se a Deus.
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