A companhia aérea Ryanair está a ser acusada de racismo por passageiros e organizações não-governamentais, por obrigar os passageiros sul-africanos que regressem a partir da Europa e do Reino Unido a realizar testes de em afrikaans, a terceira língua mais falada no país.
O Afrikaans é um idioma falado predominantemente por descendentes brancos dos colonizadores neerlandeses, que mandaram no país e impuseram um duro e discriminatório regime de apartheid que ostracizou a maioria negra até 1994.
Segundo o The Guardian, a companhia aérea impôs o questionário para impedir a entrada de pessoas com passaportes sul-africanos falsos. No entanto, dado que as duas línguas mais faladas são o Zulu e o Xhosa, predominantemente usadas pela população negra, muitos estão a acusar a Ryanair de replicar uma prática do apartheid.
Nas redes sociais, acumulam-se as acusações de racismo contra a companhia. "A Ryanair a restringir o movimento de sul-africanos com base no falar ou não o Afrikaans branco em minoria. Bastante racista", disse um utilizador. Outra pessoa disse que a decisão era "ridícula e ignorante".
@Ryanair is restricting the movement of South African people based on whether or not they speak the language of the white Afrikaans minority. Not a good look. Pretty racist. https://t.co/xcIOIzYxAb pic.twitter.com/ig88PrSiwM
— Fred Raybould (@FredRaybould) June 5, 2022
I need @Ryanair to explain right now why they are illegally denying boarding to South Africans who can't pass an afrikaans test!
— Jules 🇿🇦 (@juliahsings) June 3, 2022
THIS IS INSANE AND SO IGNORANT!!!!
What the actual fuck @Ryanair do you have block heads working for you??
O The Guardian também refere que o teste inclui questões sobre o lado em que conduzem na estrada os sul-africanos. Um dos passageiros no Twitter, identificando a empresa, conta que foi quase impedido de sair de Portugal por ter de realizar um teste, apesar de ter passaporte sul-africano com uma licença de trabalho britânica.
"Fui obrigado a escrever um teste de duas páginas em Afrikaans (pedi a versão a inglês mas disseram-me que o teste era apenas em Afrikaans). Foi-me dito que se não tivesse 100%, não poderia voar. Apenas depois de escrever as respostas me deram o bilhete de embarque. Isto é escandaloso".
@Ryanair Just tried to check in. Flying Portugal - London. On a South African passport but have a UK residence permit. Was made to write a 2 page test in Afrikaans (asked for an English version but told the test was only in Afrikaans - btw SA has 11 official languages) (1/2).
— Will vd Byl (@willvdbyl) May 27, 2022
Em resposta ao jornal britânico, a empresa afirmou que "devido à prevalência de passaportes sul-africanos fraudulentos, está a pedir aos passageiros para preencher um simples questionário feito em Afrikaans". "Se não conseguirem completar o questionário, serão impedidos de viajar e reembolsados por inteiro", acrescentou.
No entanto, o próprio governo britânico pareceu descredibilizar as exigências da Ryanair. Numa resposta no Twitter ao comentário anterior, a página do comissariado do Reino Unido na África do Sul afirmou que "este não é um requerimento do governo britânico".
A Ryanair não respondeu o porquê do teste ser feito em Afrikaans, e não em Xhosa ou Zulu.
Além disso, segundo o site do Governo da África do Sul, o país tem mais tem 11 línguas oficiais, com as línguas de origem anglo-saxónica e europeia a representarem apenas cerca de 20% da população.
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