Martin fez as declarações antes de se reunir em Belfast com os partidos da Irlanda do Norte para analisar a formação de um governo de coligação, bloqueado desde as recentes eleições regionais.
O líder irlandês também se vai encontrar com líderes empresariais para ouvir as preocupações sobre a aplicação do mecanismo, desenhado por Londres e Bruxelas para gerir o comércio após o Brexit (saída do Reino Unido da União Europeia= entre a província britânica e o mercado único europeu.
Para evitar uma fronteira física com a República da Irlanda, que faz parte da UE, o Protocolo deu à Irlanda do Norte um estatuto especial, implicando que respeite regras sobre certos bens, como plantas e produtos alimentares, o que implica mais documentação e controlos.
Martin lembrou que o Reino Unido e a União Europeia (UE) mantêm negociações "sérias e profissionais" para resolver as dificuldades que o protocolo está a causar na Irlanda do Norte, o "único" enquadramento possível para abordar a questão, sublinhou.
O Governo britânico anunciou esta semana uma proposta de lei com poderes para alterar algumas das provisões, o que terá como efeito anular unilateralmente parte do que foi acordado com Bruxelas.
A UE propôs flexibilizar a aplicação do Protocolo mas recusa-se a reescrever o texto que entrou em vigor há 18 meses, como exige o Reino Unido.
"Falei com Johnson e quero ser categórico, essa ideia de que a União Europeia está de alguma forma a ser inflexível não é verdade, não faz sentido", disse Martin à rádio BBC Ulster, referindo-se ao primeiro-ministro britânico, Boris Johnson.
Na opinião do dirigente irlandês, Londres, ao recorrer ao "unilateralismo", envia uma mensagem de que as negociações devem fazer-se à maneira deles, mas esse não é o caminho a seguir, "especialmente quando assinou um acordo de que agora não gosta".
Martin reiterou que a posição vai contra "o espírito de cooperação" do Acordo de Paz de 1998, o texto que encerrou o conflito na Irlanda do Norte e decretou que o poder político deve ser partilhado entre unionistas e republicanos.
O primeiro-ministro irlandês vai reunir-se em Belfast com a líder na província do Sinn Féin, Michelle O'Neill, partido vencedor das eleições de 05 de maio, à frente do Partido Democrata Unionista (DUP), que se recusa a entrar no novo executivo até que Londres e Bruxelas façam mudanças no protocolo.
Os unionistas alegam que o protocolo criou muitos atritos económicos e políticos na região e põe em risco a relação com o resto do Reino Unido, sobretudo porque os republicanos têm como objetivo histórico reunificar a Irlanda.
Os partidos também se encontraram com o primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, em Belfast na segunda-feira, pois Reino Unido e Irlanda são ambos responsáveis pelo cumprimento dos acordos de paz na Irlanda do Norte.
A deslocação de Martin acontece apenas horas depois de a presidente da Câmara dos Representantes dos EUA, Nancy Pelosi, ter advertido em comunicado para o risco de retaliação dos Estados Unidos, corresponsável pelo acordo de paz de 1998.
"Se o Reino Unido optar por subverter os Acordos da Sexta-feira Santa, o Congresso não pode e não apoiará um acordo bilateral de comércio livre com o Reino Unido", afirmou.
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