Igor percorreu 225 km com a cadela. Agora, teme pela saúde da companheira
A história de Igor e de Zhu-Zhu gerou uma onda de solidariedade, levando à criação de uma angariação de fundos para que o homem consiga tratar a sua fiel companheira.
© ALEXANDER NEMENOV/AFP via Getty Images
Mundo Ucrânia/Rússia
Depois de uma viagem de 225 km, Igor Pedin, de 61 anos, diz-se agradecido por estar vivo. Teme, contudo, pela saúde da sua ‘fiel companheira’ Zhu-Zhu, uma rafeira de nove anos, que está agora a sofrer as consequências da jornada a pé, entre Mariupol e Zaporizhzhia.
Já na segurança de Kyiv, Zhu-Zhu tem medo do barulho provocado pelas travagens dos autocarros, semelhante ao das bombas em Mariupol. Dorme também durante todo o dia, e tem o olfato afetado pelo constante cheiro a acre, devido às casas em chamas. Esse sentido parece estar, contudo, a regressar, revelou Igor ao The Guardian.
O homem adiantou também que as patas da sua fiel companheira ficaram muito feridas depois da travessia a pé, uma vez que caminharam sobre vidros partidos, ruas destruídas e pontes enferrujadas. Na verdade, Zhu-Zhu coxeia da pata direita da frente, e não deixa Igor ver o que tem, mordiscando-o sempre que tenta.
Igor Pedin and Zhu-Zhu are now in the relative safety of Kyiv. Photograph: Vincent Mundy/The Guardian https://t.co/ozw6NH6WDQ pic.twitter.com/I7WXToRcOp
— rouge-gorge (@rougesgorges) May 14, 2022
Temendo que a cadela esteja a ficar cada vez mais fraca, o viajante espera encontrar um veterinário que examine Zhu-Zhu, o que, por enquanto, não passa de um mero desejo, uma vez que depende dos pais, Georgy, de 87 anos, e Yevdokiya, de 84.
No entanto, a história de Igor e de Zhu-Zhu gerou uma onda de solidariedade, levando à criação de uma angariação de fundos, com um objetivo total de nove mil libras (cerca de 11 mil euros). À data deste artigo, foram arrecadas 6.540 libras (cerca de 7.746 euros).
“No terceiro dia da caminhada, a Zhu-Zhu estava muito cansada. Sentava-se periodicamente, descansava e lambia as patas doridas”, recordou.
A mais fraca de uma ninhada de 2013, Zhu-Zhu tem estado ao lado de Igor desde então.
“Não consigo imaginar a minha vida sem ela. Antes da retirada, prometi-lhe que a tiraria de Mariupol viva, até ao nosso destino final. Disse-lhe, antes de sairmos de casa, para ‘ir e cantar como um soldado em marcha’, e ela saiu pela porta. Prometi-lhe que estaria comigo até ao fim, prometi-lhe”, lembrou.
Recorde-se que Igor caminhou ao longo de 225 quilómetros através de cidades devastadas, com os olhos postos no chão para evitar minas, de Mariupol a Zaporizhzhia. O percurso é semelhante a caminharmos de Lisboa a Ílhavo, por exemplo, mas num cenário marcado pela guerra.
Mariupol foi completamente destruída após a ocupação russa, sendo que a siderúrgica de Azovstal é o último reduto da resistência ucraniana naquela cidade portuária, onde ainda estarão cerca de 100 mil soldados ucranianos.
Lançada a 24 de fevereiro, a ofensiva militar na Ucrânia já matou mais de três mil civis, segundo a Organização das Nações Unidas (ONU), que alerta para a probabilidade de o número real ser muito maior.
O conflito causou ainda a fuga de mais de 13 milhões de pessoas, das quais mais de seis milhões para fora do país, de acordo com os mais recentes dados da ONU.
A invasão russa foi condenada pela generalidade da comunidade internacional, que respondeu com o envio de armamento para a Ucrânia e o reforço de sanções económicas e políticas a Moscovo.
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