Zimbabué prende jornalistas que cobriam tentativa de detenção de deputado
Dois jornalistas que cobriam a detenção de um deputado da oposição no Zimbabué foram detidos e agredidos pelas autoridades locais, acusou o Comité para a Proteção dos Jornalistas (CPJ), que exigiu que lhes sejam retiradas as acusações.
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Mundo Zimbabué
"As autoridades do Zimbabué devem retirar imediatamente todas as acusações contra os jornalistas Blessed Mhlanga e Chengeto Chidi, assim como contra [um transeunte] Moses Hakata, e deixá-los trabalhar livremente", defendeu o CPJ, em comunicado.
A polícia zimbabueana prendeu ambos os jornalistas no passado sábado, dia 7, quando fotografavam agentes que tentavam deter um deputado da oposição na cidade de Chitungwiza, a sul da capital, Harare.
Os jornalistas estavam no local para cobrir uma questão relativa a cortes de abastecimento de água numa zona onde está prevista a realização de eleições locais.
A polícia ordenou a Mhlanga que parasse de gravar a detenção do deputado da oposição, Job Sikhala, e depois do primeiro se identificar como jornalista, um agente deu-lhe vários murros na cabeça, esmagou-lhe o telemóvel, e deteve-o, segundo o próprio, que também partilhou um vídeo do incidente nas redes sociais.
Os polícias detiveram depois Chengeto Chidi quando a jornalista se dirigiu à carrinha da polícia onde Mhlanga se encontrava já detido para lhe pedir as chaves do seu veículo que se encontravam na posse do colega, revelou a própria ao CPJ.
Moses Hakata, um transeunte que tentou dissuadir o agente da polícia de agredir Mhlanga, foi igualmente detido, de acordo com a imprensa local e Tapiwa Muchineripi, uma advogada que representa os jornalistas, em declarações ao CPJ.
A polícia manteve Mhlanga e Chidi - ambos jornalistas do News Day, um jornal privado - na Esquadra Central da Polícia de Harare até à passada segunda-feira, dia em que foram presentes ao Tribunal de Chitungwiza e libertados sob caução, com audiência marcada para o próximo dia 24, de acordo várias fontes citadas pelo CPJ.
Hakata saiu igualmente sob caução e acusado de incitamento à agressão, segundo Muchineripi.
"É escandaloso que a polícia do Zimbabué tenha prendido os jornalistas Blessed Mhlanga e Chengeto Chidi, espancando Mhlanga no processo, e os tenha detido durante o fim-de-semana, simplesmente por fazerem o seu trabalho e cobrirem a tentativa das autoridades de prender um membro do parlamento", lamentou Angela Quintal, coordenadora do programa África do CPJ, em Nova Iorque, citada num comunicado da Organização Não-Governamental (ONG).
"Acrescentando insultos a ferimentos, a polícia apresentou ainda acusações falsas contra os jornalistas e o transeunte Moses Hakata, que procurou ajudá-los. O Ministério Público deve desistir imediatamente do processo contra os três arguidos e parar com o desperdício de tempo e recursos do tribunal", acrescentou a ativista.
Na audiência em tribunal, as autoridades acusaram os jornalistas ao abrigo de um regulamento eleitoral que proíbe a fotografia de mesas de voto enquanto se procede à votação, de acordo com a comunicação social zimbabueana e uma declaração do Media Institute of Southern Africa, uma ONG com membros em 11 países da Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SADC, na sigla em inglês).
Os jornalistas declararam-se inocentes e foram libertados após o pagamento, cada um, de uma caução de 20.000 dólares zimbabueanos (52,4 euros).
Caso venham a ser condenados, os acusados enfrentam até um ano de prisão e uma multa de até 70.000 dólares zimbabueanos (183,4 euros), segundo Muchineripi.
As autoridades zimbabueanas apresentaram ainda acusações alternativas contra os jornalistas, acusando-os de conduta desordeira junto a uma mesa de voto, cuja condenação prevê uma multa de até 20.000 dólares zimbabueanos, de acordo com a lei eleitoral do país.
Os jornalistas foram ainda acusados ao abrigo de uma secção da lei eleitoral, que proíbe a atuação de bandas de música ou quaisquer dispositivos emissores de ruído perto de um local de votação, mas retiraram essa acusação durante a audiência do tribunal, de acordo com Muchineripi.
Mhlanga apresentou uma queixa contra o agente da polícia que o agrediu e destruiu o seu telefone, ainda segundo o advogado. A polícia devolveu o telefone avariado a pedido do advogado, mas guardou um dos telefones de Chidi e uma câmara do News Day, alegando constituírem "provas".
As autoridades policiais e a Comissão Eleitoral zimbabueanas não comentaram, quando instadas pelo CPJ.
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