"A Ucrânia passou a existir no dia em que foi invadida"

O professor da Universidade NOVA de Lisboa Carlos Gaspar considerou hoje que "a Ucrânia passou a existir no dia em que foi invadida", defendendo que no final da guerra deve haver "uma linha de demarcação estável".

Escola em Kramatorsk, região de Donetsk, Ucrânia, destruída por um ataque da Rússia

© Getty Images

Lusa
18/04/2022 13:38 ‧ 18/04/2022 por Lusa

País

Carlos Gaspar

 

"dummyPub">

"Garantir uma Ucrânia independente é fundamental, é a nova fronteira da Europa com a Rússia, porque a Ucrânia passou a ser um país europeu, e é preciso consolidar essa posição, e depois garantir que o Presidente [russo, Vladimir] Putin não ganhe a guerra, mesmo que declare vitória", disse o especialista em Relações Internacionais durante a sua intervenção no Fórum "Os Desafios do Desenvolvimento - O Futuro da Relação Estatal".

Organizado pelo Fórum de Integração Brasil Europa (FIBE), e a decorrer até quinta-feira em Lisboa, este painel debruçou-se sobre a guerra na Ucrânia, com Carlos Gaspar a defender que é essencial "haver uma linha de demarcação estável entre a Ucrânia e a Rússia, que embora não se saiba qual será, deverá ser tão estável como o muro de Berlim".

Para o professor Samuel Paiva, do ISCSP (Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas da Universidade de Lisboa), a verdadeira razão da invasão da Ucrânia pela Rússia explica-se por razões de política interna russa, sendo "propaganda" as explicações que apontam para a desnazificação da Ucrânia ou a proteção dos russófonos.

"Depois do pico de popularidade no seguimento da anexação da Crimeia, cada vez que Putin avança com uma operação militar especial, tem um pico de popularidade doméstica e nos últimos anos houve declínio da popularidade e um aumento da contestação interna por parte dos opositores", enquadrou o professor, acrescentando que "o grande receio de Putin é a própria natureza da democracia liberal, e a implementação de um sistema destes na Ucrânia, o que poderia levar a sociedade russa a pensar que estão a fazer alguma coisa de errado e que o país devia desenvolver-se desta maneira".

Apesar das fraquezas, "os regimes liberais são, ainda assim, os mais estáveis e a zona de paz liberal tem-se revelado nesta reação contra a Rússia, pelo que me parece que as notícias sobre o fim da ordem internacional liberal são manifestamente exageradas", concluiu o professor, antes de a assistência ouvir o antigo ministro dos Negócios Estrangeiros Luís Amado defender que "houve displicência por parte dos líderes políticos, porque há muitos anos que se percebia o que aí vinha se a expansão da NATO para a Ucrânia e Geórgia se confirmasse".

Para o antigo governante socialista, esta crise geopolítica é francamente mais grave que as crises financeiras ou económicas: "Ninguém sabe controlar uma crise geopolítica, uma crise financeira ou económica, nós sabemos, mas uma crise geopolítica não, porque as forças que se liberam são incontroláveis", concluiu.

O Fórum de Integração Brasil Europa (FIBE), que decorre até quinta-feira em Lisboa, coloca em discussão os caminhos rumo ao bem-estar económico e social por meio das transformações impostas pela revolução digital, a pandemia da Covid-19 e a guerra europeia.

A ofensiva militar da Rússia na Ucrânia já matou quase dois mil civis, segundo dados da ONU, que alerta para a probabilidade de o número real ser muito maior.

A guerra causou a fuga de mais de 11 milhões de pessoas, mais de cinco milhões das quais para os países vizinhos.

A invasão russa foi condenada pela generalidade da comunidade internacional, que respondeu com o envio de armamento para a Ucrânia e o reforço de sanções económicas e políticas a Moscovo.

 

Leia Também: Moscovo acusa Kyiv de planear atacar igrejas durante Páscoa ortodoxa

Partilhe a notícia

Escolha do ocnsumidor 2025

Descarregue a nossa App gratuita

Nono ano consecutivo Escolha do Consumidor para Imprensa Online e eleito o produto do ano 2024.

* Estudo da e Netsonda, nov. e dez. 2023 produtodoano- pt.com
App androidApp iOS

Recomendados para si

Leia também

Últimas notícias


Newsletter

Receba os principais destaques todos os dias no seu email.

Mais lidas