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Acordo de segurança China-Ilhas Salomão gera alarme no Pacífico

Vários analistas consideraram que o pacto de segurança anunciado entre a China e as Ilhas Salomão está a suscitar apreensão no Pacífico Sul.

Acordo de segurança China-Ilhas Salomão gera alarme no Pacífico
Notícias ao Minuto

09:35 - 07/04/22 por Lusa

Mundo Analistas

Uma eventual presença militar chinesa naquelas ilhas colocaria o Exército de Libertação Popular (ELP), perto da Austrália e da Nova Zelândia, mas também de Guam, onde estão grandes bases militares dos Estados Unido, indicaram.

Observadores disseram acreditar que as forças armadas da China estão a estabelecer uma rede militar no exterior, mesmo que não use o termo "base", tendo a China e as Ilhas Salomão negado veementemente que o novo pacto, cuja versão final vai ser assinada em breve, leve estabelecimento de uma base militar chinesa.

Um investigador do Instituto Internacional de Estudos Estratégicos, com sede em Singapura, disse que a China procura desenvolver uma instalação portuária deste tipo há cinco anos, para expandir a presença naval no Pacífico Sul, como parte de uma estratégia de longo prazo para se tornar na potência regional dominante.

"Não estamos a falar de planos de guerra. Trata-se realmente de estender presença e influência", notou Euan Graham.

A única base militar chinesa além-fronteiras encontra-se em Djibuti, país onde a China tem interesses comerciais e estrategicamente importante por se situar na região do Corno de África.

Para Graham, qualquer operação nas Ilhas Salomão vai provavelmente ser menos substancial.

"É um jogo geopolítico bastante subtil e interessante que surgiu no Pacífico Sul", acrescentou o investigador.

"Acho que os chineses foram muito bem-sucedidos, por assim dizer, em ladear os Estados Unidos e a Austrália, na competição por influência", frisou.

Inaugurada em 2017, a base da China em Djibuti e possui uma pista de 400 metros e um cais com capacidade para acolher qualquer um dos dois porta-aviões do país.

Assinado na semana passada e entretanto divulgado, o esboço do acordo prevê que os navios de guerra chineses possam parar nas Ilhas Salomão para "reabastecimento logístico", podendo a China enviar polícias, militares e outras forças armadas para o local "para apoiar na manutenção da ordem social".

O governo das Salomão disse que o pacto é necessário pela capacidade limitada em lidar com revoltas violentas como a ocorrida em novembro: "o país foi arruinado pela violência interna recorrente durante anos".

Pequim deve ainda aprovar que tipo de informações são divulgadas sobre as operações efetuadas no âmbito do acordo, indicou.

Com cerca de 700.000 habitantes, as Ilhas Salomão cortaram relações diplomáticas com Taiwan e passaram a reconhecer Pequim em 2019, decisão rejeitada pela província mais populosa do país e que contribuiu para os motins ocorridos em novembro.

Em fevereiro, o secretário de Estado norte-americano, Antony Blinken, anunciou a reabertura de uma embaixada nas Ilhas Salomão, posto encerrado em 1993, para aumentar a influência local, face aos avanços de Pequim.

Além dos Estados Unidos, também a Austrália e a Nova Zelândia manifestaram preocupação com o acordo. A primeira-ministra da Nova Zelândia, Jacinda Ardern, descreveu-o como "altamente preocupante".

O Ministério dos Negócios Estrangeiros da China afirmou que o pacto visa manter a segurança da população e propriedade nas Ilhas Salomão e "não tem ligações militares", apontando ser infundada a especulação da imprensa sobre o potencial desenvolvimento de uma base militar.

Uma especialista em política externa chinesa na universidade norte-americana Montclair State University Elizabeth Wishnick considerou que "a China aproveitou as oportunidades para expandir a sua influência, num momento em que os EUA e outros países não estavam tão envolvidos economicamente nas ilhas do Pacífico".

Para o chefe de operações conjuntas da Austrália, tenente-general Greg Bilton, se os navios da marinha chinesa pudessem operar a partir das Ilhas Salomão isso "ia mudar os cálculos".

"Estariam muito mais próximos do continente australiano, obviamente, o que mudaria a maneira como realizaríamos as operações diárias, principalmente no ar e no mar", afirmou, citado pela imprensa local.

Já o diretor do Programa das Ilhas do Pacífico no Lowy Institute, um 'think tank' australiano, Jonathan Pryke, os líderes do país reagiram exageradamente ao acordo, que pode ser visto como o primeiro passo para o estabelecimento de uma base militar da China.

No entanto, Pryke lembrou que seriam necessários muitos outros passos antes que isso pudesse acontecer. "Não acho que isto mude muito as coisas no terreno", sublinhou.

"Acho que o alarmismo fortaleceu a mão da China, ao colocar as Ilhas Salomão num canto", disse Pryke.

"E eles reagiram da forma que imagino que muitos países reagiriam ao receber essa pressão externa: resistir e bater com o pé", acrescentou.

Outro país que pode vir a receber uma base militar da China é o Camboja, cujo líder, Hun Sen, tem sido um aliado confiável de Pequim. De acordo com a imprensa cambojana, Hun terá feito um acordo, em 2019, para permitir o estabelecimento de uma base chinesa no país.

A China também financiou projetos em Gwadar, no Paquistão, e no sul do Sri Lanka, onde a dívida à China forçou o governo a entregar o controlo do porto de Hambantota a Pequim.

O alegado esforço chinês para estabelecer uma base militar na Guiné Equatorial daria também à China uma presença no Atlântico, numa importante região produtora de petróleo.

Há cerca de 80 anos, durante a Segunda Guerra Mundial, os militares dos EUA começaram uma campanha nas Ilhas Salomão para recuperar ilhas do Pacífico ocupadas pelas forças imperiais do Japão.

Hoje, as Ilhas Salomão dariam à China a capacidade de interferir nas operações navais dos EUA na região, o que podia ser crucial no caso de um conflito sobre Taiwan ou nos mares do Sul e do Leste da China.

Leia Também: Ilhas Salomão garantem que acordo com a China não inclui base militar

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