"Penso que a UE e África devem usar a próxima cimeira para reafirmarem que precisam um do outro, obviamente por razões diferentes, mas estratégicas e ao mesmo tempo vitais", disse à Lusa Muhamad Yassine, docente de Relações Internacionais na Universidade Joaquim Chissano, instituição estatal.
Yassine defendeu que a armadilha em que a China colocou muitas nações africanas, através de empréstimos insustentáveis, e a perceção de saque dos recursos naturais, oferece à UE a possibilidade de reafirmar uma cooperação assente em valores democráticos e desenvolvimento sustentável com África.
"Apesar de achar que a UE pouco se importará com a defesa dos direitos humanos e valores democráticos na atual conjuntura, tem condições para se apresentar com uma alternativa face às desconfianças e reservas das populações africanas em relação à bondade da cooperação chinesa", destacou.
Para Muhamad Yassine, a posição estratégica de África é incontornável para a Europa, porque é um parceiro importante para o combate ao terrorismo e extremismo e estancamento de fluxos migratórios.
"O terrorismo é cada vez mais uma preocupação de todo o continente africano e interessa à União Europeia travar estes fenómenos", frisou.
Muhamad Yassine apontou igualmente a importância que África começa a dar à questão da descarbonização como um aspeto que pode ser capitalizado pela UE no estreitamento da cooperação e redução da influência da China no continente.
"As dúvidas em relação ao futuro do carvão, que é muito procurado pela China, que importa esta matéria-prima também de África, constituem igualmente um campo de maior aproximação com a União Europeia", destacou.
Aquele académico apontou os elogios da UE a Moçambique pela forma como tem gerido os impactos das mudanças climáticas como exemplo da crescente ênfase dada às questões climáticas na cooperação.
Fernando Lima, jornalista e presidente do Mediacoop, primeiro grupo de media privado em Moçambique, considerou igualmente vital para a Europa a cooperação com África, visando resolver questões como migrações ilegais, extremismo violento e mudanças climáticas.
"O desenvolvimento sustentável de África interessa à União Europeia, porque a pobreza abjeta em África está a montante do drama das migrações sufocantes que a União Europeia enfrenta", enfatizou.
Por outro lado, uma ação menos incisiva na cooperação com o continente africano por parte da Europa pode permitir a consolidação do peso da China no continente e o crescimento da influência de novos atores.
"A União Europeia pode não abdicar dos valores que coloca na mesa da cooperação com África, nomeadamente a questão dos direitos humanos e da democracia, mas terá de ser criativa e pragmática", sustentou.
Por outro lado, estancar o crescimento do extremismo violento em África, através de um apoio virado ao desenvolvimento sustentável e inclusivo, também deve ser uma prioridade na cooperação com a UE, porque, historicamente, as guerras no continente africano traduzem-se no "saldo negativo para a Europa".
No caso moçambicano, a UE assume o papel de treinar tropas para combate no norte do país, em Cabo Delgado, região afetada por uma insurgência armada há mais de quatro anos.
A cimeira UE-África terá lugar entre quinta-feira e sábado, em Bruxelas.
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