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Dois mortos em ataque a comício de apoio à junta no poder em Myanmar

Duas pessoas morreram e 38 ficaram feridas hoje, no leste de Myanmar, num ataque com granadas a um comício de apoio à junta no poder, no primeiro aniversário do golpe de Estado militar, indicou uma fonte oficial.

Dois mortos em ataque a comício de apoio à junta no poder em Myanmar
Notícias ao Minuto

21:23 - 01/02/22 por Lusa

Mundo Comício

Duas granadas foram lançadas sobre a multidão que voltava da concentração na cidade de Tachilek, declarou um responsável das forças de segurança citado pela agência noticiosa francesa AFP a coberto do anonimato, confirmando uma informação inicialmente dada pela imprensa local.

O ataque nesta cidade do leste do país não foi até agora reivindicado por nenhum grupo, enquanto noutros pontos do território muitos birmaneses desafiaram as ordens dos militares participando numa paralisação silenciosa ou manifestando a sua ira com aplausos.

O golpe de Estado de 01 de fevereiro de 2021 que depôs a dirigente Aung San Suu Kyi, de 76 anos, pôs fim a uma década de transição democrática no país do sudeste asiático desde então mergulhado na violência.

Às 16:00 locais (09:30 em Lisboa), aplausos em massa ressoaram por toda a capital económica do país, Rangum, para assinalar o fim de uma "greve silenciosa" contra o golpe de Estado. A cidade esteve deserta durante a maior parte do dia, com muitos estabelecimentos comerciais de portas fechadas.

A convocatória para uma paralisação silenciosa, feita pela oposição, teve grande adesão em todo o país, do Estado Shan (leste) ao Estado Kachin (norte), passando por Mandalay (centro), e aplausos constantes fizeram-se ouvir em várias cidades para assinalar o fim da ação de contestação.

"O silêncio é o grito mais alto que podemos emitir contra os soldados e a sua sangrenta repressão", escreveu um membro da oposição na rede social Twitter.

Fotografias de birmaneses que ficaram hoje em casa, fazendo a saudação com três dedos em sinal de resistência inundaram as redes sociais.

As autoridades advertiram de que tais ações poderiam ser classificadas como "alta traição", um crime punível com muitos anos de prisão. Em Rangum, dez pessoas foram detidas, segundo a imprensa local.

Segundo vídeos não-datados fornecidos pelas autoridades, realizaram-se manifestações a favor da junta militar em regiões birmanesas não-especificadas. Apoiantes do regime brandiram a bandeira nacional e condenaram as "Forças de Defesa do Povo", as milícias cidadãs que regularmente efetuam operações de guerrilha contra os militares.

Por seu lado, o líder dos militares no poder, Min Aung Hlaing, prometeu organizar eleições "livres e justas (...) assim que a situação esteja pacificada e estabilizada".

Desde o golpe de Estado dos militares contra o Governo de Aung San Suu Kyi, mais de 1.500 civis foram mortos e quase 9.000 estão detidos em prisões do regime, segundo um observatório local que denuncia casos de violação, tortura e execuções extrajudiciais.

Perante esta espiral de violência, a comunidade internacional aumentou na segunda-feira a pressão sobre os generais.

A ONU fez saber que está a investigar o país sobre crimes contra a humanidade -- não só perpetrados pela junta militar atualmente no poder, mas também pelo Governo de Suu Kyi, prémio Nobel da Paz 1991, que já era acusado de crimes contra a humanidade pela sua repressão brutal da minoria muçulmana rohingya.

"A justiça internacional tem a memória muito longa", advertiu Nicholas Kumjian, que chefia o Mecanismo da ONU de Investigação Independente para Myanmar.

Por seu lado, os Estados Unidos impuseram, em coordenação com o Reino Unido e o Canadá, novas sanções financeiras visando em especial os mais altos responsáveis judiciais birmaneses.

Desde o golpe, Aung San Suu Kyi está em prisão domiciliária num lugar secreto e é alvo de uma série de acusações (violação de uma lei sobre os segredos de Estado datada da época colonial, fraude eleitoral, sedição, incitação à perturbação da ordem pública, corrupção, etc.), pelas quais poderá ser condenada a décadas de prisão, no final de um julgamento que a comunidade internacional já classificou como "uma farsa".

Até agora, foi condenada a dois anos de prisão pelo crime de "incitação contra os militares" e a outros dois anos por violar as normas de combate à pandemia de covid-19.

Na segunda-feira, foi novamente indiciada, desta vez por ter pressionado a comissão eleitoral durante as legislativas de 2020 em que o seu partido obteve uma vitória esmagadora e que foram depois anuladas pela junta.

Nos últimos 12 meses, Myanmar tem estado mergulhada no caos: a rebelião levada a cabo por milícias cidadãs e fações étnicas, intensificou-se, fazendo com que a junta aumentasse mais ainda a repressão, num ciclo de violência que provocou a deslocação de várias centenas de milhares de pessoas.

A enviada da ONU para Myanmar, Noeleen Heyzer, pediu que uma "reunião humanitária" seja realizada em breve com "a maioria das partes" no conflito.

Hoje, um porta-voz das Nações Unidas declarou que a organização precisa de 826 milhões de dólares (734 milhões de euros) para responder às necessidades humanitárias de milhões de birmaneses, o maior apelo para recolha de fundos alguma vez efetuado para Myanmar.

Leia Também: Myanmar. Homem imolou-se em protesto contra militares no poder há um ano

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