"É com profunda tristeza que confirmamos que dois dos nossos funcionários estavam entre as pelo menos 35 pessoas, incluindo mulheres e crianças, que foram mortas na sexta-feira, 24 de dezembro, num ataque perpetrado pelos militares birmaneses no Estado de Kayah", disse a ONG num comunicado, citado pela agência noticiosa France-Presse (AFP).
As imagens de pelo menos 35 cadáveres em dois camiões e um carro incendiados numa estrada tinham sido divulgadas nas redes sociais no sábado, com várias fontes, incluindo uma ONG local, a acusarem os militares de terem cometido um massacre de civis.
Na altura, a Save the Children, ONG com sede em Londres, disse que os seus dois funcionários estavam desaparecidos, depois de o veículo privado em que seguiam ter sido "atacado e queimado".
"Os militares terão forçado as pessoas a sair dos seus carros, prenderam alguns, mataram outros e queimaram os seus corpos", acusou a ONG, observando que os seus trabalhadores estavam a regressar a casa para o Natal.
"Ambos eram pais novos que trabalhavam para a educação. O Conselho de Segurança da ONU deve reunir-se e tomar medidas para levar os responsáveis à justiça", disse hoje a Save the Children numa mensagem publicada na rede social Twitter, segundo a agência espanhola EFE.
Segundo a ONG Karenni Human Rights Group, que inicialmente denunciou o massacre, as vítimas são pessoas deslocadas internamente que foram mortas por militares num dos estados em conflito no país do Sudeste Asiático.
A organização, que acompanhou a declaração de sábado com fotografias, descreveu o massacre como uma "horrenda violação dos direitos humanos" e apelou para que os responsáveis fossem julgados.
O coordenador de ajuda de emergência da ONU, Martin Griffiths, condenou o massacre e apelou a uma investigação.
"Relatórios credíveis afirmam que pelo menos 35 pessoas, incluindo pelo menos uma criança, foram forçadas a abandonar os seus veículos, mortas e queimadas", disse Griffiths numa declaração em que disse estar horrorizado com o que aconteceu.
A junta militar no poder em Myanmar negou, na segunda-feira, as notícias sobre o massacre, que atribuiu a "elementos antigovernamentais, terroristas e grupos rebeldes".
A antiga Birmânia entrou numa espiral de crise e violência desde que os militares liderados por Min Aung Hlaing tomaram o poder em fevereiro deste ano, num golpe que derrubou o governo democrático de Aung San Suu Kyi, atualmente sob prisão.
Além de protestos pacíficos e de um movimento de desobediência civil, as milícias civis formaram-se e pegaram em armas ao lado de guerrilhas étnicas que estão em conflito com os militares birmaneses há décadas.
Quase 11 meses após a revolta, a junta militar ainda não controla totalmente o país, apesar da violência brutal utilizada contra a dissidência, que até agora resultou em pelo menos 1.377 mortes e mais de 8.200 detenções, de acordo com a associação birmanesa de Assistência aos Prisioneiros Políticos.
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