A expectativa é que estas eleições possam pôr fim à crise política que grassa no país desde o golpe de Estado de 2009, que depôs o Presidente de esquerda Manuel Zelaya, agudizada com a reeleição, em 2017, do Presidente da direita conservadora Juan Orlando Hernández, fortemente rejeitado por diversos setores da sociedade e acusado pelos principais líderes da oposição de corrupção e envolvimento no tráfico de droga.
Dos 13 candidatos presidenciais, Xiomara Castro, líder do partido de esquerda LIBRE e mulher do ex-presidente Zelaya, é a favorita, de acordo com várias sondagens, mas o Partido Nacional (PN, partido no poder), representado pelo presidente da câmara da capital, Tegucigalpa, Nasry Asfura, ainda não disse a última palavra.
Sentindo os ventos de mudança, o Partido Nacional (PN, há 12 anos no poder) endureceu o tom da sua campanha, chamando à líder do LIBRE "comunista" e criticando as suas propostas de legalização do aborto e do casamento homossexual, temas particularmente polémicos no pequeno país conservador, cuja população divide as suas crenças entre o catolicismo e o evangelismo.
Além disso, o partido de direita é conhecido por não rejeitar recorrer à fraude para ganhar eleições.
Em 2013, o Presidente cessante bateu por uma estreita margem Xiomara Castro e, em seguida, contornou a Constituição para poder candidatar-se a um segundo mandato em 2017.
A sua questionável reeleição, por pouco, contra a celebridade televisiva Salvador Nasralla, desencadeou violentos protestos populares.
O escrutínio de hoje anuncia-se renhido e o período pós-eleitoral, tenso, com troca de acusações de fraude e não-aceitação dos resultados.
Mais de metade dos quase 10 milhões de habitantes do país vivem abaixo do limiar da pobreza, e a pandemia de covid-19 mais não fez que agravar a miséria.
O desemprego quase duplicou num ano, passando de 5,7% em 2019 para 10,9% em 2020.
Contudo, as propostas concretas estiveram quase totalmente ausentes da campanha eleitoral.
O candidato Yani Rosenthal, do Partido Liberal (centro-direita), terceiro nas sondagens, apenas prometeu dar mensalmente a cada adulto um vale de compras no valor de 60 dólares (53 euros).
Mas essa proposta é encarada com ceticismo, por ser feita por um candidato que cumpriu três anos de prisão nos Estados Unidos por branqueamento de dinheiro da droga.
Segundo o diretor de uma organização não-governamental pró-democracia hondurenha, Victor Meza, as Honduras são "um Estado em processo de decomposição, parcialmente nas mãos do crime organizado", pelo que o vencedor das eleições tem uma "lista de desafios enorme, sendo o primeiro deles reconstruir as instituições democráticas do país".
Nos últimos dois anos, o parlamento dissolveu uma comissão anticorrupção apoiada pela Organização dos Estados Americanos (OEA) e adotou um novo Código Penal prevendo penas mais leves para crimes de corrupção e tráfico de droga. É sabido que muitos parlamentares eram alvo de inquéritos por parte dessa comissão.
Traficantes de droga detidos nos Estados Unidos implicaram o Presidente Hernández, ao passo que Tony Hernández, seu irmão, foi condenado por um tribunal federal norte-americano a prisão perpétua pelo seu envolvimento no tráfico de 185 toneladas de cocaína.
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