A organização de defesa dos direitos humanos revela, num relatório hoje divulgado, que escreveu a dezenas de investidores, grandes acionistas de sociedades que operam em parceria com entidades sob o controlo da junta instalada pelos militares de Myanmar, alertando para essa situação e os riscos, legais, financeiros e reputacionais, que correm.
"Projetos [de empresas estrangeiras] de exploração de gás natural geram anualmente mais de mil milhões de dólares em receitas para a junta, transferidos em dólares norte-americanos para as contas bancárias da junta militar em países estrangeiros", acusa a HRW.
"Os investidores precisam de agir para bloquearem" esses pagamentos disse John Sifton, diretor jurídico da Human Rights Watch para a Ásia, já que a junta militar "é altamente dependente desses rendimentos vindos do estrangeiro e bloqueá-los pode ser a única maneira de conseguir mudanças no seu comportamento".
Ao abrigo de contratos existentes com entidades governamentais, as empresas de energia têm opções limitadas para travar os pagamentos que vão para a junta, mas, se houver determinações impostas pelos governos dos Estados Unidos, países da União Europeia ou outros governos-chave, terão de aplicar sanções ou regulação financeira que bloqueiem esses pagamentos, diz a HRW.
Para pressionar nesse sentido, a organização enviou as cartas, advertindo para os riscos legais, financeiros e reputacionais que correm grandes investidores de empresas como a Total Energies, a Chevron, a PTT ou a sua subsidiária PTTEP, e a POSCO, responsáveis pela maior parte da exploração de gás natural de Myanmar.
Entre esses investidores estão a Blackrock, a State Street e a Vanguard que detêm participações substanciais nas quatro empresas, mas também a JP Morgan Chase, o Bank of New York Mellon, a Fisher Asset Management e a Dimensional Fund Advisors, além de vários outros fundos de investimento.
"Os investidores devem usar a sua influência como principais acionistas para convencer as empresas a apoiar as sanções dos EUA, da UE e de outros governos envolvidos, congelando os pagamentos nas contas 'offshore' da junta", disse Sifton.
"Não agir perpetua danos ao povo de Myanmar e só expõe as empresas a mais riscos", sublinhou.
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