As notas do telefonema de 27 de dezembro, divulgadas hoje pela Comissão de Supervisão da Câmara dos Representantes, sublinham até onde Trump quis ir para procurar alterar os resultados eleitorais e obter o apoio dos responsáveis pela aplicação da lei.
Mensagens de correio eletrónico publicadas em junho mostram que Trump e os seus aliados, nas últimas semanas da sua presença na Casa Branca, pressionaram o Departamento de Justiça para investigar acusações, infundadas, de uma fraude eleitoral generalizada.
"Digam apenas que a eleição foi fraudulenta e deixem o resto comigo e os congressistas republicanos", disse Trump, em determinada altura, dirigindo-se ao então procurador-geral Jeffrey Rosen, segundo as notas tomadas por Richard Donoghue, que era o 'número dois' de Rosen e que também estava a participar na conversa.
A pressão de Trump é tanto mais de destacar quanto poucas semanas antes, o próprio procurador-geral indicado por Trump, William Barr, tinha revelado que o Departamento de Justiça não tinha encontrado provas de fraude que pudessem ter alterado o resultado final.
O telefonema de 27 de dezembro ocorreu dias depois de Barr se ter demitido, deixando Rosen a dirigir o Departamento nas turbulentas semanas finais do governo Trump, que também incluíram o ataque ao Capitólio em 06 de janeiro, no qual apoiantes de Trump invadiram o edifício quando os congressistas estavam a certificar os resultados eleitorais.
"Estas notas manuscritas mostram que o presidente Trump instruiu diretamente a nossa principal instituição de garantia da aplicação da lei para avançar na alteração de uma eleição livre e justa nos dias finais da sua presidência", disse em comunicado a presidente da comissão, a democrata Carolyn Maloney, eleita pelo Estado de Nova Iorque.
Durante a chamada, segundo as notas, Trump disse que as pessoas estavam "furiosas" e a acusar o Departamento de Justiça pela sua "inação", acrescentando: "Temos a obrigação de dizer às pessoas que esta foi uma eleição ilegal e fraudulenta".
Acusou ainda o Departamento de Justiça de ter falhado na resposta às queixas de crime, apesar de acusações sem provas de fraude terem sido rejeitadas em série pelos juízes, incluindo nomeados por Trump, e por responsáveis pelo processo eleitoral em todo o país.
Os dirigentes do Departamento de Justiça disseram a Trump que tinham estado a investigar, mas que as alegações não tinham provas a apoiá-las e que muita da informação que ele (Trump) estava a receber era "falsa", ainda segundo as notas de Donoghue.
A dado ponto da conversa, sempre segundo as anotações, Rosen disse a Trump que o Departamento de Justiça não poderia "estalar os dedos" e "mudar o resultado eleitoral".
Durante o telefonema, Trump admitiu também substituir Rosen.
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