"É uma questão de restabelecer os factos, a nossa parte da verdade", disse o ministro das Forças Armadas, Sidiki Kaba.
O Governo foi acusado pela oposição de ser responsável pela morte de pelo menos 13 pessoas durante a repressão dos protestos, enquanto organizações como a Amnistia Internacional (AI) e a Human Rights Watch (HRW) denunciaram o uso excessivo das forças de segurança, o uso de munições reais contra civis e a presença de indivíduos não identificados nas manifestações, alegadamente a mando do Governo.
O ministro contestou estas versões que sugerem "que toda a responsabilidade pelos acontecimentos, os mortos, os feridos e os saques são obra do Governo do Senegal".
Sidiki Kaba não excluiu a possibilidade de agentes policiais e das forças de segurança terem violado a lei e assegurou que não haverá "impunidade" se os factos forem provados.
De acordo com o ministro, o Presidente Macky Sall deu instruções para não disparar contra os manifestantes e a polícia "mostrou contenção, compostura e profissionalismo".
"Se não fosse por isso, teríamos tido um banho de sangue", disse.
"O Senegal não é um inferno dos direitos humanos", acrescentou, citando a situação excecional causada pela pandemia de covid-19 e a crise económica, em que uma acusação de violação contra o deputado da oposição Ousmane Sonko teve o efeito de um "rastilho" e desencadeou os protestos violentos.
Principal opositor do Presidente Sall, Ousmane Sonko considerou a acusação uma "conspiração" para o impedir de se candidatar às eleições presidenciais de 2024.
Uma comissão "independente e imparcial" será responsável pela "restauração da verdade", disse o ministro.
"Estará aberta à oposição e à sociedade civil", adiantou, sem especificar a sua composição ou o prazo para a apresentação de conclusões.
De acordo com o ministro, a comissão irá elaborar um balanço de vítimas da violência e determinar as responsabilidades e a presença ou não de elementos não identificados nas fileiras das forças de segurança, bem como de alegadas "forças ocultas" infiltradas nas manifestações.
O ministro do Interior, Antoine Félix Diome, tinha mencionado em 05 de março o envolvimento de tais "forças ocultas" nos protestos, sem que ficasse claro do que estava a falar.
Os seus comentários deram recentemente origem a especulações sobre uma possível referência aos rebeldes de Casamansa, uma região do sul do Senegal, assolada pela guerrilha pró-independência.
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