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Esquerda ecologista vence eleições na Gronelândia

Um partido da esquerda ecologista venceu as eleições legislativas de terça-feira no território autónomo do ártico dinamarquês da Gronelândia, afastando do poder os sociais-democratas, segundo os resultados finais oficiais da votação divulgados hoje.

Esquerda ecologista vence eleições na Gronelândia
Notícias ao Minuto

15:48 - 07/04/21 por Lusa

Mundo Gronelândia

Com 36,6% dos votos, o Inuit Ataqatigiit (IA -- Partido do Povo Inuit), até aqui na oposição, impôs-se com mais de 2.000 votos ao Siumut (Avante), formação social-democrata que tem vindo a dominar quase toda a vida política na Gronelândia desde 1979.

Segundo os resultados finais, o IA elegeu 12 dos 31 assentos no Inatsisartut, o parlamento local, mais quatro do que na anterior legislatura.

Depois de uma vitória em 2009, esta é apenas a segunda vez que o partido destrona o Siumut de maior partido da Gronelândia, um vasto território povoado por apenas cerca de 56.000 habitantes. 

Dos cerca de 41.000 eleitores registados, 65,8% votou nas legislativas, o que representa uma queda de quase seis pontos face às legislativas de 2017.

A vitória da esquerda ecologista teve a sua base na contestação feita a um polémico projeto de minas de urânio e de terras raras que esteve no centro da campanha, defendida pelo anterior executivo do Siumut e rejeitada pelo IA, e que esteve na origem da antecipação da votação, que deveria realizar-se em 2022.

O Siumut, em declínio nos últimos anos e enfraquecido por disputas fratricidas, obteve, ainda assim, uma votação melhor do que o que indicavam as sondagens, tendo conseguido eleger 10 deputados.

Sem maioria absoluta, o cenário mais provável passa pelo IA se aliar a dois pequenos partidos para formar uma coligação governamental, necessitando de garantias do apoio de mais quatro deputados.

Num debate pós-eleitoral transmitido na televisão e que reuniu vários líderes partidários, o presidente do IA, Mute Egede, indicou que vai iniciar "imediatamente" conversações para "analisar as diferentes formas de cooperação" antes de formar um Governo de coligação.

Opondo-se abertamente à exploração do depósito de urânio e de terras raras de Kuannarsuit, no extremo sul do território, o IA pretende agora impedir a concretização do projeto e prometeu assinar o acordo climático de Paris, uma vez que a Gronelândia é um dos poucos territórios autónomos que não o ratificou.

Apoiado por um grupo australiano de capital chinês, a Greenland Minerals, o projeto de mineração de Kuannarsuit apresenta, segundo o IA, riscos ambientais muito elevados, especialmente lixo radioativo.

A Gronelândia tem o maior filão de metais raros por explorar do planeta e não foi por acaso que o ex-Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, sugeriu a possibilidade de comprar a ilha em 2019. O projeto é visto como a porta de entrada para investidores estrangeiros, mas também levanta preocupações com o impacto ambiental.

O processo de consulta pública abre no início de junho, com o IA a indicar que espera que o projeto não se concretize.

A oposição do IA a qualquer mineração de urânio não deve ajudar os negócios do grupo nuclear francês Orano, que recentemente recebeu licenças de exploração para procurar depósitos desse elemento. 

Mute Egede, 34 anos, cresceu em Narsaq, uma localidade com cerca de 1.000 habitantes próxima do local onde se situa o depósito de Kuannarsuit e onde o IA alcançou o melhor resultado, com 67,7% dos votos. 

Egede, que assumiu as rédeas do partido há pouco mais de dois anos, é membro do Inatsisartut desde 2015 e deverá tornar-se o primeiro-ministro mais jovem do mundo, mesmo que não seja um chefe de Governo de pleno direito -- o poder central está na Dinamarca.

"Posso ser jovem, mas também é essa a minha força", disse hoje Egede.

Segundo uma sondagem divulgada segunda-feira, 63% da população da Gronelândia é contra o projeto de mineração, considerado um dos mais importantes depósitos de terras raras do mundo e localizado no meio das únicas terras agrícolas do território. 

No entanto, os resultados da sondagem são totalmente diferentes quando se fala na necessidade da exploração e da mineração, com 52% a favor e 29% contra.

Desde 2009 que a gigantesca ilha coberta de gelo administra sozinha os seus recursos naturais, mas o seu orçamento só é viável graças às contribuições da Dinamarca, que ainda controla a diplomacia, a defesa e a moeda. 

Copenhaga, que paga mais de 520 milhões de euros por ano ao Governo da Gronelândia, ou seja, um terço do orçamento total, cortaria o apoio financeiro se o território decidisse tornar-se independente, possibilidade admitida pela Constituição dinamarquesa

Nos últimos anos, Nuuk, capital da Gronelândia e uma pequena cidade na costa sudoeste do território, tem vindo a procurar diversificar as suas receitas próprias, nomeadamente com a pesca, que representa 90% das exportações, projetos de mineração e até turismo.

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