Esquerda nacionalista favorita nas eleições de domingo no Kosovo

O Kosovo celebra no domingo legislativas antecipadas, com perspetivas de vitória da esquerda nacionalista de Alban Kurti, assente num programa de combate à corrupção e à crónica instabilidade política na ex-província da Sérvia, que proclamou a independência em 2008.

Esquerda nacionalista favorita nas eleições de domingo no Kosovo

© Reuters

Lusa
13/02/2021 08:39 ‧ 13/02/2021 por Lusa

Mundo

Kosovo

 

As eleições foram antecipadas após o Tribunal constitucional ter considerado em dezembro que a eleição pelo parlamento, seis meses antes, do Governo conservador de Avdulah Hoti fora ilegal.

Em 30 de janeiro, a comissão eleitoral central (KQZ) confirmou todos os candidatos a deputados, mas Albin Kurti, 45 anos, líder do movimento Vetevendosje (Autodeterminação, VV, esquerda nacionalista), e dois outros membros do mesmo partido foram excluídos das listas.

Os três dirigentes não foram autorizados a concorrer após veredicto do Supremo Tribunal do Kosovo, assente numa decisão do Tribunal constitucional, de que os candidatos indiciados criminalmente nos últimos três anos seriam excluídos.

Em janeiro de 2018, Kurti foi considerado culpado de ter lançado gás lacrimogéneo no recinto do parlamento, durante a crise política do outono de 2015, e condenado a um ano e seis meses de prisão.

No entanto, esta medida não teve reflexos nas sondagens, e o VV venceu por curta margem as eleições de outubro de 2019 (26,27% e 29 deputados), com Kurti a ser eleito primeiro-ministro em fevereiro de 2020.

O VV é de novo apontado como o grande favorito das eleições de domingo, com as sondagens a atribuírem-lhe entre 40 e 61 deputados.

A confirmarem-se os 61 deputados eleitos, o partido garantiria a maioria absoluta, num parlamento com 120 lugares e com 20 reservados às minorias, 10 para os sérvios e número idêntico para as restantes.

Kurti concluiu um pacto anticorrupção com a antiga rival centrista Vjosa Osmani e coligou-se com a sua Lista Cidadã, com o objetivo de ser novamente designado primeiro-ministro mesmo ser se ter apresentado como candidato.

No último escrutínio, Osmani conduziu a campanha da Liga Democrática do Kosovo (LDK, centro-direita), com quem rompeu após os seus deputados terem renunciado, sob pressão dos Estados Unidos, à coligação de Governo minoritária VV-LDK e que também garantia o "apoio tácito" dos eleitos pela minoria sérvia, contribuindo para o derrube de Kurti em junho de 2020.

"Apenas uma vitória com mais de 61 deputados garante a concretização das mudanças desejadas e os progressos tão necessários", insistiu Kurti durante a campanha, enquanto Osmani considerava que a "incorruptibilidade" dos seus dirigentes constitui a principal preocupação dos eleitores.

Atual chefe de Estado interina após o ex-Presidente Hashim Thaçi ter sido indiciado por crimes de guerra e transferido para as celas do Tribunal de Haia, Osmani pretende candidatar-se à presidência nas eleições previstas para a primavera.

As eleições no Kosovo decorrem em plena segunda vaga da pandemia e as restrições, em particular o distanciamento social, foram respeitadas durante uma campanha caracterizada pela pobreza dos debates e dos programas.

As atenções estão concentradas na margem de manobra de Kurti, e nas mudanças destinadas a romper com a herança dos partidos que ocuparam o poder nos últimos 20 anos.

Outras quatro listas albanesas enfrentam o VV, com destaque para a LDK, dirigida pelo primeiro-ministro cessante Avdullah Hoti, mas enfraquecida pela cisão de Vjosa Osmani e que poderá ser penalizada pela sua contribuição no derrube do Governo Kurti através de uma moção de censura.

No entanto, este partido argumentou com o seu sucesso diplomático após a assinatura em setembro passado de um acordo mínimo de "normalização económica" com a Sérvia, sob a égide de Donald Trump, e promete a "estabilidade" das instituições" e um apoio continuado de Washington e Bruxelas.

Os partidos com ligações aos antigos separatistas armados do Exército de Libertação do Kosovo -- UÇK, que combateu as forças sérvias no final da década de 1990 --, e se têm revezado no poder também estão enfraquecidos.

O Partido Democrático do Kosovo (PDK) está desestabilizado pela ausência dos seus dirigentes históricos, Thaçi e Kadrin Veseli, ambos indiciados por crimes de guerra, mas espera terminar à frente do seu rival LDK, que adotou uma posição "pacifista" durante a guerra (1998-1999).

Após terem dominado a vida política interna, esperam ambos obter pelo menos 20 deputados, que lhes permitiria bloquear as reformas do futuro Governo que necessita de maioria qualificada de dois terços. E ainda garantirem a eleição do Presidente, eleito pelo parlamento.

As duas restantes formações provenientes do UÇK, a Aliança para o Futuro do Kosovo (AKK), de Ramush Haradinaj, e a Iniciativa social-democrata (Nisma), que apoiava o último Executivo de Avdullah Hoti, têm outros objetivos, o primeiro garantir a eleição para a presidência, a segunda ultrapassar a barreira dos 5% para obter representação parlamentar.

A estabilidade política é encarada como uma prioridade interna, e ainda para Washington e Bruxelas, "patrocinadores" da independência do Kosovo.

Desde o final da guerra em 1999, o Kosovo organizou oito eleições legislativas (2001, 2004, 2007, 2010, 2014, 2017, 2018, 2019) e apenas um Governo conseguiu chegar a seu termo.

As pretensões da Lista Srpska, apoiada por Belgrado e assente na minoria sérvia do Kosovo, também poderá complicar as ambições de Kurti, muito hostil à "ingerência da Sérvia" nos assuntos internos do Kosovo.

Belgrado acusou o "autogoverno" de Pristina de tentar dispersar os votos sérvios para reduzir a sua "unidade política", indicou que mais de 133.500 eleitores foram retirados das listas eleitorais, sugeriu que dois partidos políticos dirigidos a esta minoria, incluindo a Aliança Democrática Sérvia, foram formados sob o controlo de Pristina, e contestou a composição das mesas das assembleias de voto.

No entanto, a Lista Srpska, liderada por Goran, poderá garantir os 10 lugares que lhe são reservados, entre os 20 destinados às "minorias" étnico-nacionais. E neste contexto, os resultados do VV de Kurti serão decisivos para a "concretização das mudanças desejadas".

 

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