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Etiópia: ONU aponta que condições humanitárias em Tigray são "desastrosas"

O subsecretário-geral das Nações Unidas para os Assuntos Humanitários, Mark Lowcock, afirmou hoje que apelidou, junto do Conselho de Segurança da ONU, de "desastrosas" as condições humanitárias na região etíope de Tigray.

Etiópia: ONU aponta que condições humanitárias em Tigray são "desastrosas"
Notícias ao Minuto

19:03 - 10/02/21 por Lusa

Mundo Etiópia

"Como disse ao Conselho de Segurança, quando falei com eles de forma privada há cerca de 10 dias sobre o que se estava a passar, as condições humanitárias em Tigray podem agora ser descritas como desastrosas", disse Lowcock, na sua participação no seminário virtual "Responder à situação humanitária na região de Tigray, Etiópia", realizado pelo Programa Africano da Chatham House.

Em 04 de novembro, Abiy Ahmed, Nobel da Paz em 2019, lançou uma operação militar na região de Tigray após meses de tensão crescente com as autoridades regionais da Frente Popular de Libertação do Tigray (TPLF, na sigla em inglês).

A região foi privada de fornecimento de bens, telecomunicações e energia, sendo desconhecida a situação militar e humanitária.

O responsável britânico, também chefe do Gabinete de Coordenação dos Assuntos Humanitários da ONU (OCHA), alertou para os problemas que a região no norte etíope enfrenta, incluindo fome, falta de cuidados de saúde básicos e violações de direitos humanos.

"A fome e a malnutrição estão a aumentar, os sistemas de saúde estão, essencialmente, colapsados, há mais de um milhão de crianças fora das escolas e milhares de pessoas não conseguem receber o apoio de que precisam", afirmou Lowcock.

Sobre o último ponto, o britânico considerou que a falta de informação no terreno sobre as necessidades de ajuda humanitária é um dos problemas que estas organizações têm, em particular porque as agências de apoio "têm tido um acesso limitado à região nos últimos três meses".

"Temos tido todos os ingredientes para uma tragédia humanitária crescente e o risco de uma deterioração ainda maior se os cuidados de saúde e proteção não chegam imediatamente à população", sublinhou.

O chefe da OCHA alertou que os mercados não têm alimentos suficientes, uma vez que o conflito teve início durante a época das colheitas e muitas ainda não tinham sido feitas e o comércio foi limitado.

Lowcock disse também que a maioria da população mora em regiões rurais, não tendo acesso a sistemas bancários, diminuindo o acesso a dinheiro, o que acaba por "elevar drasticamente" o preço dos alimentos.

Da mesma forma, o britânico salientou a prevalência da malnutrição, resultante das pragas de gafanhotos no último ano, a falta de água potável, que poderá resultar em surtos de cólera, e o desconhecimento da situação da covid-19 na região, uma vez que as estruturas de observação e diagnóstico não estão a funcionar em Tigray.

Lowcock mostrou-se também preocupado com o baixo número de infraestruturas de apoio sanitário, estimando que apenas um em cada cinco centros de saúde estão a funcionar.

Depois de alguns terem sido "pilhados ou danificados ou não terem eletricidade", Lowcock teme também que produtos armazenados, como vacinas ou medicamentos, poderão não estar aptos para uso.

"Há também, além de todos estes assuntos, algumas muito preocupantes alegações de violações dos direitos humanos, da lei humanitária internacional, e da lei internacional para os refugiados", expôs o britânico, tendo referido vídeos que consultou em que eram visíveis homens com fardas de soldados.

Da mesma forma, Lowcock denunciou "várias alegações de violência de género, incluindo violência sexual, e muitas delas são assinaladas como terem sido realizadas por homens com fardas".

Mark Lowcock expressou preocupação com os mais de 100.000 refugiados eritreus na região de Tigray e reforçou a importância do acesso de organizações de ajuda humanitária à região.

"As agências de ajuda humanitária vão precisar de continuar a fornecer ajuda enquanto os decisores podem, esperamos, chegar a acordos políticos", destacou.

"Acho que as autoridades etíopes entendem o potencial de mais deterioração [das condições humanitárias no país]", disse.

Lowcock acrescentou que esta deterioração "é evitável" e que "a Etiópia tem sido um farol de esperança, progresso e estabilidade".

"As organizações de ajuda humanitária estarão sempre prontas a ajudar quem mais precise, mas é necessário o acesso e um processo de diálogo para resolver as questões de fundo", atirou.

O não reconhecimento da legitimidade dos executivos regionais e federais por cada uma das partes e os combates em curso na região são o culminar de meses de fricção crescente desde que Abiy Ahmed tomou posse em 2018 e afastou do poder a até aí dominante TPLF.

Segundo o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados, mais de 60.000 pessoas fugiram da violência em Tigray, tendo procurado refúgio no vizinho Sudão.

Leia Também: Igreja Católica denuncia centenas de mortos na região de Tigray

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