"[A autonomia estratégica] pode ser compatível com a NATO, ela é compatível com a NATO, ela tem mesmo de ser compatível com a NATO. O que nós pretendemos é garantir a segurança do espaço em que se encontram os nossos países e os nossos cidadãos", frisou o representante português junto da Organização do Tratado do Atlântico Norte (NATO, na sigla em inglês) em entrevista à Lusa.
Pedro Costa Pereira reagia assim ao relatório NATO 2030, publicado na terça-feira, que sublinha que a Aliança "deve saudar os esforços da UE para uma capacidade de defesa europeia mais forte e mais capaz, desde que estas também fortaleçam a NATO".
Salientando que a "UE nem existiria se não fosse o chapéu de proteção que a NATO deu desde o princípio", Costa Pereira sublinhou que as duas organizações são "potencialmente complementares" e que, "uma sem outra", tornam-se "muitíssimo mais frágeis".
"O nosso interesse é justamente ter duas organizações, em que as duas colaboram o mais possível, procurando assegurar que tudo aquilo que é o desenvolvimento das capacidades dentro da UE possam servir para dar, através de um efeito multiplicador, uma capacidade maior à própria NATO e vice-versa", referiu o representante português junto da Organização do Tratado do Atlântico Norte (NATO, na sigla em inglês).
Pedro Costa Pereira afirmou assim que o desenvolvimento, na UE, de "capacidades que reforcem, dentro dos seus próprios centros de decisão, a sua capacidade de autonomia" não é "de todo contraditório" com a NATO, desde que "prevaleça sempre o interesse, dentro da UE, de fazê-lo de uma forma complementar e que não duplique aquilo que a própria NATO já faz".
"Se nós desenvolvêssemos uma autonomia estratégica em que passássemos a fazer aquilo que a NATO já faz, procurando concorrer com a NATO, isso em si seria a maior das irracionalidades e das despesas, que não teria qualquer tipo de sentido, porque nós seríamos obrigados, através de um único conjunto de forças, a dar meios militares à UE para fazer exatamente a mesma coisa que se faz dentro da NATO", sublinhou o embaixador.
O embaixador português referiu assim que é necessário as duas organizações começarem a "falar em projetos de cooperação que sejam francamente úteis, centrados em questões que todos percebem como sendo vantajosas" de maneira a abrir "uma avenida muito promissora" para a cooperação entre ambas e a sair do "chavão vazio" do "reforço do pilar europeu na NATO".
"Quando olhamos para a UE, vemos que tem competências próprias, até mesmo exclusivas, no domínio do comércio, tem competências no domínio da cooperação... Isto são instrumentos não militares de poder que se associam aos militares no contexto de uma estratégia mais vasta. Se as duas organizações cooperarem, têm toda esta panóplia de instrumentos à sua disposição que e estes instrumentos são absolutamente necessários", frisou Pedro Costa Peireira.
Sobre o debate que opôs o Presidente francês, Emmanuel Macron, à ministra da defesa alemã, Annegret Kramp-Karrenbauer -- tendo Kramp-Karrenbauer afirmado que as "ilusões de uma autonomia estratégica" tinham de acabar, porque a Europa "não poderia substituir o papel dos Estados Unidos", e Macron respondido que se trata de um "erro de interpretação histórica" -- o representante permanente de Portugal junto da NATO sublinhou que foi um "debate construído" que teve a ver com as "idiossincrasias da posição de cada um".
"Nós continuamos a precisar dos Estados Unidos porque os Estados Unidos são o elemento central da relação transatlântica e nós dependemos dela para viabilizar um elemento fundamental da nossa política externa que é justamente o Atlântico, visto na sua dimensão de segurança. E a dimensão de segurança do Atlântico não é outra senão a da relação transatlântica propriamente dita: sem Estados Unidos, não há relação transatlântica, e isso nós não queremos", sublinhou Pedro Costa Pereira.
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