Polónia. Milhares em protesto contra violência e restrições ao aborto
Milhares de pessoas manifestaram-se hoje em Varsóvia e em outras cidades da Polónia contra as leis restritivas do aborto e a violência policial ocorrida em protestos anteriores sobre direitos reprodutivos.
© Getty Images
Mundo Polónia
Em Varsóvia, os manifestantes "renomearam" uma praça no centro da capital polaca como "Rotunda dos Direitos da Mulher", tendo uma ativista subido a uma escada para pendurar uma nova placa sobre a oficial que dizia "Rotunda Roman Dmowski".
Ativistas pelos direitos das mulheres têm exigido às autoridades municipais de Varsóvia que aprovem uma mudança formal de nome da praça, defendendo que assim o movimento pela igualdade seria homenageado, em vez de Dmowski, um estadista que teve um papel fundamental em ajudar a Polónia a recuperar a independência nacional em 1918, mas também um anti-semita.
Paralelamente decorreram protestos, com o lema "Em nome de nossas mães, filhas, irmãs", nas cidades polacas Cracóvia e Gdansk, entre outras.
O dia de protesto foi planeado para coincidir com a data em que as mulheres polonesas conquistaram o direito ao voto há 102 anos.
"As nossas bisavós não se deixaram intimidar. Nós também não vamos desistir", referiram os organizadores do protesto na cidade Bielsko-Biala, no Sul da Polónia.
Este é o maior movimento de protesto da Polónia desde a queda do comunismo no país, há 30 anos.
A 22 de outubro, o Tribunal Constitucional da Polónia deu luz verde para um maior endurecimento da já muito restritiva lei do aborto, ao invalidar um artigo que autorizava o aborto em caso de uma malformação grave do feto.
A Presidente do Tribunal, Julia Przylebska, declarou que a legislação existente que permite o aborto de fetos malformados é "incompatível" com a Constituição do país.
A Polónia já tinha uma das leis mais restritivas da Europa, elaborada no início dos anos 1990.
Essa lei de 27 anos permitia o aborto apenas em casos de defeitos fetais, risco à saúde da mulher, incesto ou violação.
A Polónia é um país de maioria católica com um Governo ultraconservador no leme.
Em 2016 e 2018, o Governo tinha já tentado impor a proibição da prática do aborto em sessão parlamentar.
A onda de protestos conseguiu travar este desígnio, bem como agora uma vez que o Governo polaco não implementou a decisão do tribunal superior, o que é visto como uma vitória tática para o movimento Greve das Mulheres que tem levado centenas de milhares de pessoas às ruas nas últimas semanas.
Os ativistas exigem a liberalização total da lei de aborto, bem como a renúncia do Governo de direita do país.
Em Varsóvia os protestos juntam pessoas que também se expressam com bandeiras de arco-íris que acusam as autoridades governamentais de hostilidade perante pessoas LGBT.
Outro dos símbolos é o logótipo do movimento social feminista, a silhueta de uma sufragista com um raio vermelho e as palavras "Women's Strike", em português "Greve das Mulheres"
Hoje o protesto foi dedicado aos apelos que a violência policial acabe, isto depois da polícia ter usado gás lacrimogéneo e outros tipos de força em outras manifestações no início deste mês.
A polícia também deteve e acusou muitos dos manifestantes que desafiaram as proibições de ajuntamentos impostas devido à pandemia do novo coronavírus.
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