De acordo com um comunicado classificado como 'Relatório de Guerra Número 2', unidades do Exército de Libertação do Povo Saarauí (SPLA) "atacaram bases, pontos de apoio e abastecimento do inimigo, e desferiram duros golpes ao Exército marroquino", que sofreu "baixas mortais".
"O SPLA bombardeou à noite a base 13 do pelotão 67 localizado no setor de Bagari. Os setores de Mahbes e Guerguerat também foram castigados com fogo do Exército saraauí. Como consequência, o inimigo sofreu baixas mortais nas suas fileiras", pode ler-se no documento, sem oferecer mais detalhes.
A informação não foi confirmada ou negada até agora pelo Governo de Rabat e não pôde ser corroborada por fontes independentes.
A tensão entre Rabat e a Frente Polisário disparou desde que, a 21 de outubro, um grupo de ativistas saraauís bloqueou a passagem da fronteira de Guerguerat, uma zona considerada tampão que nos últimos anos Marrocos ajudou a transformar num canal comercial ativo com a Mauritânia.
Na sexta-feira, as unidades militares marroquinas cruzaram a linha divisória para quebrar o bloqueio e levantar um corredor de segurança, ação que desencadeou uma troca de tiros entre o Exército marroquino e as forças da Frente Polisário estacionadas na área.
Horas depois, unidades saraauís bombardearam quatro bases militares e dois postos de controlo marroquinos localizados ao longo do muro de segurança construído no deserto, o mais longo do mundo com mais de 2.5000 quilómetros de comprimento.
Embora a Frente Polisário assegure que houve "vítimas inimigas", esta informação não pôde também ser corroborada por fontes independentes.
Neste contexto bélico, o secretário-geral da Frente Polisário, Brahim Ghali, culpou hoje Marrocos por todas as consequências decorrentes do ataque em Guerguerat, considerou o acordo de cessar-fogo - assinado com Marrocos em 1991 -- como quebrado e decretou estado de guerra em todo o território.
Ghali, Presidente da República Árabe Saraauí Democrática (RASD), também ordenou a Autoridade de Segurança Nacional, chefiada pelo primeiro-ministro, Hamoudi Bouchraya Beyun, "a tomar medidas relacionadas com a implementação dos requisitos do estado de guerra, no que diz respeito à gestão e administração das instituições e organismos nacionais, e à garantia da regularidade dos serviços à população".
Além disso, impôs recolher obrigatório em todas as áreas sob o seu controlo para preparar uma guerra cujo curso dependerá, em grande parte, da posição assumida pela Argélia, rival de Marrocos e principal apoio económico, político e militar da Frente Polisário.
Nos últimos dias, o rei de Marrocos, Mohamed VI, trocou mensagens com as Nações Unidas, França, Estados Unidos, Mauritânia e outros países envolvidos a fim de alertá-los para a operação.
Também o secretário-geral da ONU, António Guterres, lamentou o que considerou ser um "fracasso" seu nos esforços feitos para criar um 'status quo' na disputa entre Marrocos e a República Árabe Saarauí Democrática (RASD) no Saara Ocidental.
A zona desmilitarizada onde está localizada Guerguerat é regida pelo chamado "Acordo Militar número 1", anexo ao acordo de cessar-fogo em vigor desde 1991 e assinado por Marrocos e o grupo Frente Polisário, que proíbe a entrada de militares, entre outras medidas.
No entanto, tanto Marrocos como a Frente Polisário são constantemente acusados de não cumprir o acordo com ações que violam o cessar-fogo.