A pandemia do coronavírus precipitou a decisão do atípico ex-Presidente, eleito deputado pela primeira vez em 1995, que sofre de uma doença imunológica.
"Esta situação obriga-me, com grande pesar pela minha profunda vocação política, a pedir-vos que aceitem a minha renúncia", disse hoje ao Senado, para onde foi reeleito em 2019.
"Saio agradecido, com muitas memórias e uma nostalgia profunda. A pandemia expulsou-me", afirmou.
Ex-guerrilheiro e considerado um orador espontâneo, sem 'papas na língua' e muitas vezes polémico, Mujica tornou-se famoso em todo o mundo pelas medidas progressivas adotadas no país latino-americano: legalização do aborto, do casamento entre pessoas do mesmo sexo e da canábis, uma estreia mundial em 2013.
Recusando convenções, este defensor da frugalidade doou quase todas as suas remunerações a um programa de habitação social, ganhando o apelido de "o Presidente mais pobre do mundo".
Ministro da Agricultura entre 2005 e 2008, Mujica reivindicou as suas raízes camponesas a tal ponto que se ofereceu para organizar os seus conselhos ministeriais na sua pequena fazenda, onde continuou a cultivar flores.
José Mujica foi, nos anos 1960, um dos fundadores do Movimento de Liberação Nacional Tupamaros, um grupo urbano de guerrilha de extrema-esquerda, que operou antes e durante a ditadura civil-militar no Uruguai.
Ferido por balas em 1970, foi preso durante a ditadura (que esteve em vigor no Uruguai entre 1973 e 1985) e colocado em confinamento solitário, sendo ainda torturado.
Um outro antigo Presidente uruguaio, o centrista Julio Maria Sanguinetti (1985-1990 e 1995-2000) também apresentou hoje, aos 84 anos, a sua renúncia ao Senado.