Santa Sofia. Grécia e Igreja Ortodoxa russa condenam decisão da justiça

A Grécia e a Igreja Ortodoxa russa condenaram hoje a decisão da justiça turca de dar 'luz verde" à transformação de Hagia Sophia, em Istambul, numa mesquita, com Atenas a afirmar que é uma "provocação para o mundo civilizado".

Santa Sofia. Grécia e Igreja Ortodoxa russa condenam decisão da justiça

© Reuters

Lusa
10/07/2020 17:43 ‧ 10/07/2020 por Lusa

Mundo

Santa Sofia

"O nacionalismo demonstrado pelo Presidente (turco, Recep Tayyip Erdogan) faz recuar o seu país em seis séculos", afirmou a ministra da Cultura grega, Lina Mendoni, num comunicado.

O mais alto tribunal administrativo da Turquia decidiu hoje anular uma decisão governamental que remonta a 1934, que então converteu a antiga basílica Hagia Sophia (Santa Sofia) num museu.

Momentos depois da divulgação da deliberação, Erdogan anunciava, através da rede social Twitter, que o edifício seria aberto às orações muçulmanas.

"Foi decidido que Santa Sofia será colocada sob a administração da Diyanet (a autoridade para os assuntos religiosos) e será reaberta às orações", anunciou o chefe de Estado turco.

Segundo a ministra da Cultura grega, a decisão judicial hoje conhecida "confirma que não há absolutamente nenhuma independência da justiça" na Turquia.

Construída no século VI, à entrada do estreito de Bósforo, esta antiga basílica onde os imperadores bizantinos foram coroados foi convertida em mesquita no século XV, após a captura de Constantinopla pelos otomanos em 1453.

A decisão agora anulada remota a uma medida adotada num Conselho de Ministros de 1934, então liderado pelo fundador da Turquia secular, Mustafa Kemal Ataturk, que transformou o monumento num museu.

O edifício está classificado como Património Mundial pela UNESCO e é uma das principais atrações turísticas de Istambul.

"Santa Sofia é um monumento que pertence a toda a Humanidade, independentemente de qualquer crença religiosa", reforçou a ministra grega, cujo país se orgulha da sua herança cristã e onde a Igreja Ortodoxa ainda exerce uma enorme influência.

O patriarca ecuménico de Constantinopla, Bartolomeu I, o líder da Igreja Ortodoxa, alertou em junho que a transformação de Santa Sofia numa mesquita poderia "colocar milhões de cristãos em todo o mundo contra o Islão".

Na reação à decisão judicial turca, a Igreja Ortodoxa russa lamentou hoje que a "preocupação" de "milhões de cristãos" não tivesse sido ouvida pela Turquia.

"Constatámos que a preocupação de milhões de cristãos não foi ouvida", afirmou o porta-voz da Igreja Ortodoxa russa, Vladimir Legoida, citado pelas agências russas.

"A paz e a harmonia entre as religiões são questões extremamente frágeis e complexas e não podem ser suportadas em decisões irrefletidas e puramente políticas", acrescentou o representante.

As autoridades russas e o patriarcado de Moscovo já tinham manifestado, no início desta semana, uma profunda preocupação a propósito das intenções da liderança turca em relação a Hagia Sophia, tendo pedido "prudência" a Ancara.

Hoje, a Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (UNESCO) alertou igualmente a Turquia que nenhum Estado deve modificar o "valor universal excecional" do Património Mundial e apelou ao diálogo em relação à Hagia Sophia.

"Esta classificação acarreta um número de compromissos e obrigações legais. Assim, um Estado deve garantir que nenhuma modificação é feita ao valor universal excecional da propriedade inscrita no seu território. Qualquer modificação requer notificação prévia pelo Estado em causa à UNESCO e depois, se necessário, uma análise pelo Comité do Património Mundial", referiu a organização, num comunicado.

A intenção de Erdogan instalou um debate na Turquia entre grupos nacionalistas, conservadores e religiosos, que defendem que o monumento deve ser reconvertido numa mesquita, e os grupos dos que acreditam que este edifício deve permanecer um museu, destacando o estatuto de Istambul como uma ponte entre continentes.

Erdogan, que lidera um partido islâmico, tem usado esta questão como uma bandeira política.

 

 

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