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O impacto económico em África será ameaça maior que o da Covid-19

O diretor do Programa Africano da Chatham House considerou hoje à Lusa que o impacto económico da pandemia de covid-19 em África será uma ameaça maior do que a doença, lembrando que no continente 'quem não trabalha não come'.

O impacto económico em África será ameaça maior que o da Covid-19
Notícias ao Minuto

07:52 - 02/05/20 por Lusa

Mundo Chatham House

Questionado sobre a resposta das principais instituições financeiras internacionais relativamente às necessidades financeiras acrescidas dos países africanos, o académico elogiou a postura do Fundo Monetário Internacional (FMI) e do Banco Mundial e disse que a atuação do G20 foi "desapontante" pela falta de ajuda financeira concreta concedida.

"O FMI viu 90 dos seus membros pedirem ajuda financeira de emergência e está a ponderar usar os Direitos Especiais de Saque (DES) para disponibilizar fundos de emergência significativos e sem condições", apontou Alex Vines.

O diretor do Programa Africano da Chatham House acrescentou que "a desilusão tem sido o G20, cujos ministros das Finanças, a 15 de abril, divulgaram um documento de pouca substância, ao concordarem apenas com uma suspensão temporária dos pagamentos da dívida dos países mais pobres até final do ano, e depois com mais um ano de extensão se for preciso".

Para Vines, esta resposta dos 20 países mais industrializados do mundo parece ignorar que "para muitos em África não há qualquer rede de segurança, por isso, e para usar as palavras que um responsável do Programa Alimentar Mundial proferiu numa conferência da Chatham House este mês, 'quem não trabalha não come'".

O G20, apontou, teve uma atuação "dececionante na resposta à covid-19, em parte devido à falta de liderança dos Estados Unidos, por isso a utilização dos DES é uma ferramenta muito poderosa para assistir os estados africanos altamente endividados".

Sobre quem deve ter o papel de liderança na resolução da questão das dificuldades de pagamento do serviço da dívida, Alex Vines apontou "o FMI, o Banco Mundial e os bancos regionais, como o Banco Africano de Desenvolvimento".

"Obviamente que a China tem um papel, incluindo por ser a fonte da covid-19, e tem uma responsabilidade de ajudar à recuperação, mas é incapaz de fazer isto por si própria", notou ainda.

Em relação à participação dos credores privados no alívio da dívida, Alex Vines respondeu que "deve haver apoio para uma suspensão da dívida", mas referiu que "muitos credores privados já devem estar preparados para 'haricuts [redução nos pagamentos] e atrasos nos pagamentos dos cupões".

As iniciativas de apoio financeiro aos Estados africanos motivaram um aumento da capacidade financeira do FMI, que tem apoiado os países não só com desembolsos diretos, como com uma suspensão dos pagamentos que os países teriam de fazer à própria instituição este ano.

De acordo com os cálculos da Conferência das Nações Unidas para o Comércio e Desenvolvimento (UNCTAD), que apresentou na semana passada a mais abrangente proposta para um perdão de dívida de 1 bilião de dólares, os países em desenvolvimento terão de pagar entre 2 a 2,3 biliões de dólares (1,8 biliões a 2,1 biliões de euros) em dívidas só neste e no próximo ano.

Os países em desenvolvimento vão "bater numa parede de dívida durante esta década, e num contexto de circunstâncias profundamente problemáticas", porque só neste e no próximo ano os países em desenvolvimento de alto rendimento terão em dívida 2 a 2,3 biliões de dólares, e os de médio ou baixo rendimento deverão 700 mil milhões a 1,1 biliões de dólares (646 mil milhões a 1 bilião de euros), lê-se no documento que propõe a criação de uma autoridade reguladora mundial para esta questão.

"Apoiar os Estados africanos na recuperação económica é mesmo importante", salientou Alex Vines, concluindo que este apoio "inclui testes e tratamentos que sejam financeiramente comportáveis, mas também a garantia de que as vidas e o sustento são apoiados".

A nível global, segundo um balanço da agência de notícias AFP, a pandemia de covid-19 já provocou mais de 235 mil mortos e infetou mais de 3,3 milhões de pessoas em 195 países e territórios. Mais de um milhão de doentes foram considerados curados.

O número de mortes em África subiu para 1.640, com mais de 39 mil casos da doença registados em 53 países, segundo as estatísticas mais recentes sobre a pandemia no continente.

A doença é transmitida por um novo coronavírus detetado no final de dezembro, em Wuhan, uma cidade do centro da China.

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