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Argélia: Principais acontecimentos de um ano do movimento de contestação

A Argélia assiste desde fevereiro de 2019 a uma contestação inédita, o "Hirak" (movimento), que forçou a demissão do ex-presidente Abdelaziz Bouteflika e exige uma verdadeira rutura com o "sistema" político no poder desde a independência em 1962.

Argélia: Principais acontecimentos de um ano do movimento de contestação
Notícias ao Minuto

08:20 - 20/02/20 por Lusa

Mundo Argélia

Esta é uma cronologia dos acontecimentos desde fevereiro de 2019:

'Não ao 5º Mandato'

Em 22 de fevereiro de 2019, milhares de pessoas manifestam-se nas principais cidades argelinas. 'Não ao 5.º mandato', 'Nem Bouteflika nem Saïd' [irmão do Presidente e apontado como possível sucessor], ecoam os manifestantes em Argel, onde as manifestações são proibidas desde 2001.

Quatro dias antes, num domingo, milhares de pessoas tinham desfilado em Kherrata, leste da Argélia, uma manifestação inédita contra a candidatura de Bouteflika, e que assinala o início da contestação popular.

No poder há duas décadas, Bouteflika, muito fragilizado na sequência de um AVC em 2013, tinha anunciado em 10 de fevereiro a intenção de concorrer a um 5.º mandato.

Em 10 de março, o chefe de estado-maior das Forças Armadas, general Ahmed Gaïd Salah, que até então tinha emitido avisos aos manifestantes, afirma que os militares "partilham" os "mesmos valores" que o povo.

No dia seguinte, Bouteflika renuncia à candidatura.

Demissão de Bouteflika

Quatro dias mais tarde, decorrem manifestações em 40 das 48 prefeituras (municípios) do país. Responsáveis diplomáticos referem-se a "milhões de argelinos" nas ruas.

O general Saïd solicita que o presidente seja declarado inapto ou que abandone o poder. Em 02 de abril, exige o afastamento "imediato" de Bouteflika, 82 anos, que se demite nas horas seguintes.

No dia 05 de abril, os argelinos descem às ruas de forma massiva e dizem-se determinados em terminar com o conjunto do "sistema".

Abdelkader Bensalah, presidente do Conselho da Nação (Câmara alta), é nomeado em 09 de abril chefe de Estado interino. A oposição boicota a reunião do parlamento.

A hierarquia militar endurece o discurso

Em 20 de maio, o general Gaïd Salah, o novo homem forte do regime, rejeita as principais reivindicações da contestação: o adiamento das eleições presidenciais convocadas para 04 de julho, e o afastamento das figuras do "sistema".

Em 02 de junho o Conselho Constitucional anula as eleições presidenciais devido à ausência de candidatos.

Em 08 de agosto, o general Salah considera que a reivindicações "fundamentais" do movimento popular foram concretizadas.

Em Argel, e em diversas cidades do país, prosseguem as manifestações pacíficas. Todas as sextas-feiras, homens, mulheres e crianças participam no cortejo semanal do "Hirak".

Em 18 de setembro, a hierarquia militar endurece o tom do discurso e proíbe que manifestantes de outras regiões se juntem aos desfiles de Argel.

Ex-responsáveis condenados

Em 25 de setembro, um tribunal militar condena Saïd Bouteflika, dois ex-chefes dos serviços de informações militares e uma dirigente política a 15 anos de prisão por "conspiração". As suas penas não confirmadas em apelo em 10 de fevereiro de 2020.

Dois ex-primeiros-ministros, Ahmed Ouyahia e Abdelmalek Sellal, julgados por corrupção, são condenados em dezembro a 15 e 12 anos de prisão. Outros ex-destacados dirigentes políticos e empresários próximos de Bouteflika também são condenados.

'Repressão generalizada', segundo a HRW

Em novembro, a HRW denuncia uma "repressão generalizada". O Parlamento europeu condena a "detenção arbitrária e ilegal", "as intimidações e os ataques" a jornalistas, sindicalistas, defensores dos direitos humanos e manifestantes.

Desde o início de 2020, várias dezenas de detidos por envolvimento no "Hirak" são libertados após terem cumprido. Mas cerca de uma centena de ativistas permanece nas prisões, segundo o Comité nacional para a libertação dos detidos (CNLD).

Novo presidente contestado

Em 12 de dezembro, Abdelmadjid Tebboune, um antigo colaborador próximo de Bouteflika, vence as eleições presidenciais boicotadas pela oposição e assinaladas por uma abstenção recorde (mais de 60%).

No dia seguinte, o novo chefe de Estado "estende a mão" ao "Hirak" e convida ao diálogo. Mas os manifestantes prosseguem os desfiles de protesto.

"O voto foi manipulado. As vossas eleições não nos dizem respeito e o vosso presidente não nos vai governar", responde a contestação, que continua a exigir o "fim do sistema", a formação de "organismos de transição" e a libertação de presos de opinião.

Em 23 de dezembro de 2019, o general Gaïd Salah morre de crise cardíaca, aos 79 anos.

Em 14 de fevereiro dezenas de milhares de pessoas regressaram às ruas em várias cidades da Argélia na 52.ª sexta-feira consecutiva de manifestações pelo fim do "sistema" no poder, a libertação dos detidos e uma justiça independente.

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