Delegação indígena brasileira denuncia violações ao Parlamento Europeu
Uma delegação de líderes indígenas brasileiros iniciou hoje em Bruxelas, na Bélgica, uma série de audiências no Parlamento Europeu com o intuito de denunciar "graves violações aos direitos" dos povos nativos, segundo fontes oficiais.
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Mundo Amazónia
Segundo a organização não-governamental (ONG) 'Amazon Watch', os líderes indígenas oriundos de cinco regiões do Brasil têm encontros agendados, entre hoje e quarta-feira, com o vice-presidente da Comissão Europeia, Franciscus Timmermans, e com diretor de Assuntos Internacionais de Agricultura e Desenvolvimento Rural da União Europeia, John Clarke.
A delegação também se reunirá com representantes da Organização das Nações Unidas (ONU) e da Comissão Internacional de Cooperação e Desenvolvimento.
A visita à Europa ocorre após a intensificação de ataques aos povos indígenas na última semana.
Dois membros da tribo Guajajara foram mortos, na sexta-feira à noite, durante uma emboscada alegadamente feita por madeireiros armados, na Amazónia brasileira, segundo a Secretaria de Direitos Humanos do Governo do Maranhão.
Entre os mortos está Paulo Paulino Guajajara, um dos denominados "Guardiões da Floresta", um grupo de indígenas dedicado a proteger a floresta amazónica da destruição ambiental.
Na madrugada de domingo, a base de proteção da Fundação Nacional do Índio (Funai) para indígenas isolados do Vale do Javari, no Amazonas, foi atacada a tiro por caçadores e pescadores ilegais, afirmou em comunicado a 'Amazon Watch'.
"O que aconteceu com nosso parente, Paulino Guajajara, é um exemplo claro do que temos passado. Estamos reafirmando que é o nosso sangue que está a ser derramado por conta da soja e da madeira que vai para a Europa. Estamos aqui [em Bruxelas] para dizer que a cada importação que é feita para a Europa, é o nosso sangue que vem. É hora de dizer basta!", frisou a líder Nara Baré, coordenadora da Coordenação dos Povos Indígenas da Amazónia (Coiab).
No comunicado da ONG Nara Baré acrescentou: "Medidas precisam de ser tomadas e a responsabilidade é de todos, dos parlamentos, da sociedade civil, do consumidor e dos próprios empresários".
Desde 17 de outubro, os líderes indígenas já percorreram seis países europeus - Itália, Alemanha, Suécia, Noruega, Holanda e Bélgica -, onde participaram em audiências com autoridades desses Estados.
O comércio externo de produtos associados à violência contra os povos da floresta amazónica e a paralisação de demarcação de terras indígenas no Brasil estão entre as principais denúncias da comitiva ao longo dessa jornada pela Europa.
Segundo Nara Baré, os europeus podem contribuir com medidas para conter a violência na Amazónia.
"A União Europeia precisa rever acordos. São necessárias leis específicas que garantam que todos os produtos por eles importados respeitam os modos tradicionais dos povos que são afetados. É importante aumentar a rastreabilidade desses produtos, de onde eles realmente vêm", alertou.
O líder indígena Dinamam Tuxá destacou a necessidade do apoio do Parlamento Europeu para que o acordo comercial entre a União Europeia e o Mercosul não seja ratificado.
"Esse acordo irá insuflar ainda mais os conflitos das terras indígenas. O agronegócio irá apropriar-se da necessidade de ampliação da sua área de produção e, consequentemente, acirrar os conflitos dentro das áreas indígenas e gerar mais desflorestação", argumentou Tuxá.
O líder indígena brasileiro concluiu: "Estamos aqui para perguntar ao Parlamento Europeu se eles realmente vão financiar mais esse processo genocida que o Estado brasileiro está a promover, pois esse acordo irá impulsionar ainda mais a violência contra nós, povos indígenas. Vamos fornecer essas informações para que possam, de forma coerente, decidir se estão do lado da vida ou da morte".
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