O parlamento eleito (Knesset) tem a incumbência de designar o próximo chefe de Governo, e a confirmação de Netanyahu que lidera o partido Likud (A Consolidação, nacionalista conservador) pode significar o risco de reconduzir um primeiro-ministro dividido entre os desafios económicos e de segurança, e as diversas audiências em tribunal.
Netanyahu -- que tenta a sua quinta reeleição, a quarta consecutiva --, tem clamado por inocência e denuncia uma "caça às bruxas". No entanto, o seu principal rival nestas legislativas, o general Benny Gantz, que lidera a lista centrista Azul e Branco (as cores da bandeira do Estado judaico) prometeu "terminar com a corrupção" dos anos Netanyahu.
Primeiro-ministro entre 1996 e 1999, chefe da diplomacia em 2002 no governo de Ariel Sharon até à sua demissão em 2005, o chefe do Likud regressou em força em 2009 para assegurar de novo o cargo de primeiro-ministro, que mantém até à atualidade através de um amplo e variável espetro de alianças, dos trabalhistas aos nacionalistas radicais e aos ultraortodoxos.
Na terça-feira, e para além de poder exprimir as constantes preocupações em torno da paz com os palestinianos, a segurança ou o custo de vida -- e mesmo que a "questão palestiniana" tenha sido assunto largamente ignorado pelos principais candidatos --, o resultado da votação poderá ainda ser entendido como um referendo a favor ou contra Netanyahu.
No início da campanha, o partido de Netanyahu era considerado o vencedor antecipado, apesar da ameaça de corrupção que atinge o primeiro-ministro. No entanto, enfrenta agora o reforço da lista de Benny Gantz, ex-chefe de Estado-Maior que tem admitido a retirada de colonos de diversas regiões da Cisjordânia, apesar de nunca ter mencionado a solução de dois Estados.
Numa campanha eleitoral caracterizada por frequentes acusações entre os dois principais candidatos, o conflito de Israel com os palestinianos e as perspetivas sobre um recomeço das negociações esteve praticamente ausente dos discursos eleitorais.
Para os responsáveis da Autoridade Palestiniana e da liderança da Organização para a Libertação da Palestina (OLP), não existe uma diferença fundamental entre os dois candidatos: ambos defendem uma "Jerusalém unificada", o prosseguimento da colonização e o controlo por Israel do vale do Jordão.
Para além dos desafios internos, em particular provenientes do Hamas palestiniano na Faixa de Gaza, o contexto regional mantém-se volátil para Israel, em particular no Líbano com o forte movimento xiita Hezbollah e a "ameaça" do Irão.
A escolha de uma personalidade com argumento para proteger o país e os seus cidadãos foi um critério privilegiado pelas listas que se apresentam ao escrutínio.
Netanyahu, um arauto do sionismo político e para quem "apenas os fortes sobrevivem", vai esforçar-se por manter a sua imagem de líder "protetor" do Estado de Israel, apresentando Gantz e os seus aliados como um conjunto de esquerdistas e de fracos.
No entanto, a candidatura Azul e Branco possui os seus argumentos, e para além de colocar na primeira posição um antigo chefe de Estado-Maior, colocou dois outros antigos comandantes militares no terceiro e quarto lugares da lista.
Os trabalhistas, na oposição, também optaram pelo mesmo critério ao proporem um general no segundo lugar, e seguramente elegível para o Knesset.
Na ausência de uma discussão política séria -- em particular sobre a premente questão palestiniana e após o Knesset ter aprovado em julho de 2018 a controversa lei que define oficialmente Israel como "Estado-nação do povo judeu" e que suscitou fortes protestos dos representantes dos árabes israelitas - cerca de 18% da população -- a campanha foi ainda caracterizada pelos riscos de ciberataques.
Diversos peritos alertaram que o país permanece vulnerável a "piratas informáticos" estrangeiros e a campanhas cibernéticas, e quando desde janeiro que foram sugeridas diversas interferências no processo eleitoral, em particular vindas do Irão.
Netanyahu respondeu e garantiu que "não existe país mais bem preparado" para combater a interferência nas eleições. Mas apesar das suas reconhecidas capacidades no setor da tecnologia e na área da segurança, diversos especialistas consideram que as leis existentes estão ultrapassadas e que o governo não considerou uma prioridade as ameaças de ciberataques.
No decurso desta polémica, Karine Nahon, presidente da Associação Internet Israel considerou que o principal perigo provém, contudo, dos políticos israelitas e dos seus apoiantes, que divulgam a "desinformação nas redes sociais".
Para além das questões de segurança e do irresolúvel conflito com os palestinianos, uma recente sondagem do Instituto para a Democracia em Israel indica que, para um quatro dos israelitas, a principal consideração no momento do voto será a posição de cada formação sobre os problemas socioeconómicos.
Apesar de o Estado judaico registar um baixo nível de desemprego, uma reduzida inflação e um crescimento superior à generalidade dos países ocidentais, mais de 20% da população (cerca de nove milhões segundo estimativa recente) vive no limiar da pobreza.
O preço da habitação, a ausência de camas nos hospitais públicos ou o aumento de diversos produtos de base permanecem temas recorrentes.
Um estudo de opinião divulgado a meio da semana pelo Canal 13, colocava o Likud em primeiro lugar com 29 lugares, mas o Azul e Branco surgia com um prognóstico de 28 deputados.