Numa mensagem publicada na rede social Twitter, Juan Guaidó exigiu que os generais Jesús Mantilla Oliveros e Alberto Mirtiliano Bermúdez "detenham ou entreguem os responsáveis pela repressão e pelo assassínio dos irmãos Pemon [etnia que habita na fronteira entre a Venezuela e o Brasil] em Kumaracupay (sul) que apoiam a ajuda humanitária".
Caso isso não aconteça, Guaidó referiu na mesma mensagem que os generais serão os responsáveis pelos incidentes que fizeram uma vítima mortal (uma mulher indígena) e pelo menos 15 feridos, todos com ferimentos de bala.
Juan Guaidó assegurou que esta situação "não ficará impune" e pediu aos militares que decidam "nesta hora definitiva" de que lado estão.
E insistiu: "A todos os militares: entre hoje e manhã [sábado], vocês vão definir como querem ser recordados. Já sabemos que estão com o povo, deixaram isso muito claro. Amanhã podem demonstrá-lo".
O presidente da Assembleia Nacional (parlamento) e autoproclamado Presidente interino referia-se à promessa que fez na semana passada, quando prometeu fazer entrar no sábado (23 de fevereiro) a ajuda humanitária internacional no território venezuelano, apesar da recusa do Presidente contestado Nicolás Maduro.
"A ajuda humanitária vai entrar, sim ou sim (de qualquer maneira), o usurpador terá que ir-se (embora), sim ou sim, da Venezuela", afirmou então o autoproclamado Presidente interino.
As doações oriundas dos Estados Unidos e de outros países (alimentos e medicamentos) encontram-se armazenadas em vários Estados vizinhos da Venezuela, como na Colômbia, Brasil e na ilha de Curaçao, nas Antilhas holandesas.
No sábado, representantes da oposição venezuelana esperam fazer entrar na Venezuela a ajuda humanitária que está armazenada em Cúcuta, na fronteira com a Colômbia.
Esta cidade fronteiriça colombiana está a receber hoje um concerto solidário para apoiar a entrada dos bens humanitários e a respetiva entrega ao povo venezuelano.
Juan Guaidó reiterou, na quinta-feira, num "decreto presidencial" a autorização para a entrada da ajuda humanitária no país e pediu aos militares, que até à data juraram lealdade a Maduro, para atuarem em conformidade com estas novas instruções.
A entrada de ajuda humanitária, especialmente os bens fornecidos pelos Estados Unidos, no território venezuelano tem sido um dos temas centrais nos últimos dias do braço-de-ferro entre Juan Guaidó e Nicolás Maduro.
O governo venezuelano tem insistido em negar a existência de uma crise humanitária no país, afirmação que contradiz os mais recentes dados das Nações Unidas, que estimam que o número atual de refugiados e migrantes da Venezuela em todo o mundo situa-se nos 3,4 milhões.
Só no ano passado, em média, cerca de 5.000 pessoas terão deixado diariamente a Venezuela para procurar proteção ou melhores condições de vida.
Maduro encara a entrada desta ajuda humanitária como o início de uma intervenção militar por parte dos norte-americanos e tem justificado a escassez com as sanções aplicadas por Washington.
Na sequência deste braço-de-ferro, Maduro decidiu, esta semana, encerrar indefinidamente a fronteira marítima e aérea com Curaçao, Aruba e Bonaire, suspendendo as ligações aéreas e marítimas com estes territórios.
O líder venezuelano também ordenou na quinta-feira o encerramento da fronteira terrestre com o Brasil e ameaçou avançar com a mesma medida em relação à Colômbia.
Posteriormente, Guaidó ordenou a abertura da fronteira com o Brasil e a manutenção das ligações e relações com as ilhas caribenhas.
A crise política na Venezuela agravou-se em 23 de janeiro, quando Juan Guaidó se autoproclamou Presidente da República interino e declarou que assumia os poderes executivos de Nicolás Maduro.
Guaidó, 35 anos, contou de imediato com o apoio dos Estados Unidos e prometeu formar um governo de transição e organizar eleições livres.
Nicolás Maduro, 56 anos, no poder desde 2013, denunciou a iniciativa do presidente do parlamento como uma tentativa de golpe de Estado liderada pelos Estados Unidos.
A repressão dos protestos antigovernamentais desde 23 de janeiro provocou mais de 40 mortos e cerca de mil detenções, incluindo menores, de acordo com várias organizações não-governamentais e o parlamento venezuelano.
A maioria dos países da União Europeia, entre os quais Portugal, reconheceram Guaidó como Presidente interino encarregado de organizar eleições livres e transparentes.
Na Venezuela residem cerca de 300.000 portugueses ou lusodescendentes.