Eleição de López Obrador no México poderá "ser uma boa supresa"

A eleição de López Obrador, que este mês tomou posse como Presidente do México, "poderá ser uma boa surpresa", defende o académico Filipe Vasconcelos Romão, num contexto em que as esquerdas latino-americanas atravessam uma crise.

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Lusa
16/12/2018 09:58 ‧ 16/12/2018 por Lusa

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"Conta com uma maioria confortável nas duas câmaras do parlamento e, caso tenha algum sucesso na luta contra a criminalidade e no combate às enormes desigualdades que marcam o país, poderá ser uma boa surpresa", disse à agência Lusa o professor e investigador da Universidade Autónoma de Lisboa.

O especialista aponta à vitória de López Obrador, líder do Movimento Nacional de Regeneração (Morena, esquerda) a "enorme vantagem" de ter acabado com "o monopólio de poder do Partido Revolucionário Institucional (PRI)".

"[O PRI] Dominou a política mexicana durante oitenta anos. Mesmo nos dois únicos mandatos em que não esteve na presidência neste período (2000 - 2012), contava com bancadas parlamentares robustas e com elevadas quotas de poder nos estado. Desta vez, o PRI perdeu efetivamente muito poder em todas as linhas, o que confere uma oportunidade ao novo Presidente para mudar", disse.

Para Filipe Vasconcelos Romão, "o grande problema económico do México, neste momento, chama-se Donald Trump".

O especialista lembrou que "há muito pouco tempo" a esquerda esteve no poder em vários países "no âmbito de regimes democráticos", apontando como exemplos os casos do Brasil e da Argentina.

"Partido dos Trabalhadores (PT), no Brasil, foi expulso do poder por um processo de destituição de constitucionalidade material mais do que duvidosa e perdeu as eleições de outubro deste ano [...] Saiu do poder quando o parlamento e o voto popular entenderam", apontou.

"Na Argentina, no fim de 2015, em eleições livres, Maurício Macri (centro-direita) derrotou o candidato do peronismo. Ou seja, a democracia e a alternância funcionaram. O Brasil e a Argentina, por agora, e espero que por muito tempo, vivem em regimes democráticos", prosseguiu.

"Se me pergunta se as esquerdas latino-americanas estão a atravessar uma crise, dir-lhe-ei que sim. Porém, se os regimes democráticos (que não são de esquerda nem de direita quando são efetivamente democráticos) estiverem consolidados e se não forem pervertidos (como na Venezuela), a alternância acabará por permitir que a esquerda regresse ao poder", sublinhou.

Questionado sobre se a viragem à direita na América Latina representará uma aproximação aos Estados Unidos e a mudança no tradicional discurso anti-imperialista, Filipe Vasconcelos Romão recua no tempo para assegurar que "os discursos da América Latina em relação aos Estados Unidos não foram sempre iguais".

"Tendemos a achar que o discurso que dominou os últimos 10 minutos da História foi sempre dominante. Porém, basta "ir" até ao início dos anos 1990, para nos lembrarmos de que Carlos Menem, então Presidente da Argentina, defendia que o seu país deveria ter "relações carnais" com os Estados Unidos. Se formos até aos anos 1970, poderemos encontrar um Augusto Pinochet, no Chile, plenamente alinhado com os Estados Unidos da América, que o colocaram no poder. O mesmo pode ser dito em relação às administrações colombianas dos anos 1980 à atualidade", disse.

O académico considerou que a atual administração norte-americana "poderá tirar partido de movimentos que lhe são mais próximos ideologicamente", mas recordou que Donald Trump "se tem assumido como um isolacionista pouco dado a sentimentos mesmo em relação aos que se tentam ajoelhar perante a sua figura".

"Trump não tem uma política para a América Latina e continuará sem ter por muitas declarações de amor que receba do Sul", concluiu.

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