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Margarida Lobo Antunes: "Os pais têm de ter mais segurança em si"

A pediatra e uma das autoras do livro 'À descoberta do seu bebé' fala sobre a educação que se vê ser dada pelos pais de hoje.

Margarida Lobo Antunes: "Os pais têm de ter mais segurança em si"
Notícias ao Minuto

08:40 - 30/01/18 por Notícias ao Minuto

Lifestyle Educação

O desenvolvimento infantil baseia-se em quatro áreas: físico, social, emocional e cognitivo. O livro "À descoberta do seu bebé", baseia-se nas três últimas, que são as que têm o maior impacto no crescimento da criança, quanto mais velha ela for.

O desenvolvimento emocional diz respeito ao conhecimento do próprio ser e à capacidade de exprimir sentimentos. Já o campo do desenvolvimento cognitivo, foca-se no raciocínio, na capacidade de resolver problemas e na utilização da linguagem. Antes de se desenvolver estas capacidades, é importante que seja criado o cenário perfeito para o bebé se desenvolver, daí a importância que o primeiro ano tem na vida de qualquer ser humano.

Foi nesta necessidade que se baseou o livro, lançado este mês pela editora Manuscrito. Da autoria da pediatra Margarida Lobo Antunes e da educadora de infância Andreia Vidal, centra-se na importante questão de ter tempo para gozar ao máximo o primeiro ano de vida do seu bebé, através de uma parte teórica introdutória e de um conjunto de atividades sugeridas para cada uma das fases do início de vida do bebé.

Ao Lifestyle ao Minuto, Margarida Lobo Antunes conta que, em muitas das consultas que dá, tem pais que lhe perguntam o que fazer para estimular o recém-nascido: "É engraçado ver os pais tão preocupados com este aspeto numa idade tão pequena".

O livro surgiu dessa procura, e foca-se em simples, mas imprescindíveis, aspetos como o falar com o seu bebé, seja enquanto lhe dá banho ou ainda antes dele nascer. "Enquanto toma conta do seu filho, é importante que fale com ele. Não é só mudar a fralda e já está, não estamos a lidar com um objeto. Falar com o bebé é um bom estímulo, pois à medida que a criança cresce, vai compreendendo melhor o ambiente em seu redor".

A educação mudou muito. Aquela ideia de "um ano falando, dois anos andando" mostra que há umas décadas se pensava de maneira muito diferente, a nível da educação. Que outros aspetos mudaram desses tempos para hoje?

Há umas décadas tínhamos uma maior participação por parte das famílias, nomeadamente dos avós, que participavam mais ativamente na educação do novo bebé. Hoje em dia, as famílias são muito isoladas, têm pouco apoio por parte da restante estrutura familiar.

Há uns tempos, os avós serviam muito para transmitir conhecimentos, para tirar dúvidas, para tranquilizar... Não quer dizer que os avós saibam tudo, essa ideia de se começar a andar aos dois anos não é uma verdade universal, há bebés que começam a andar mais tarde e são completamente normais. A questão é que há uma transmissão de experiência, há uns tempos os avós ajudavam a dar esta segurança, para ajudar a criar afeto.

Em contrapartida, hoje em dia temos um boom de informação em livros, blogs e sites que nos chega pela ponta dos dedos. Temos muita informação mas nem por isso as pessoas estão mais bem informadas ou mais tranquilas. Na realidade, há 30 ou 50 anos, se calhar as pessoas usavam o que achavam melhor, o bom senso. Hoje, com demasiada informação disponível, os pais tornam-se mais inseguros. Duvidam muito, e sentem que precisam de alguém que lhes diga "boa, isso está bem!". Há questões importantes, e não há mal em questionar, mas há casos em que basta usar o bom senso.

O primeiro passo para ser um bom pai, é saber que vai conseguir, que é capaz, mesmo não sabendo tudoNo livro, cita Benjamin Spock quando diz que "tudo quanto os pais fazem instintivamente é, no fim de contas, o que há de melhor". O que é então ser um bom pai?

Há bebés pelo mundo fora e vivem em zonas com diferente acesso a informação. Em África, por exemplo, não há a mesma informação que há aqui, mas as pessoas conseguem. Claro que o questionar faz parte, mas estar sempre a duvidar das suas capacidades é que não. As pessoas conseguem! Nós temos um ensinamento que vem de trás e é sobre ele que vamos construir a nossa forma de educar. O importante, o primeiro passo para ser um bom pai, é saber que vai conseguir, que é capaz, mesmo não sabendo tudo.

Disse que tem quatro filhos. Certamente que aprendeu com a educação dos primeiros e que isso teve influência na educação dos que vieram depois. Mas acha que é bom basear-se tanto na educação que foi dada ao filho anterior?

Quando a pessoa só tem um filho, não há comparação. Mas quando a pessoa tem dois ou mais filhos sabe que não há dois filhos iguais. Parece cliché mas é verdade. A nossa base, os nossos ideais vão certamente ser os mesmos para todos os filhos, mas há certas coisas que vão depender de cada filho, da atitude, a própria interação entre os irmãos vai também influenciar. O que importa é que cada um encontre o seu espaço na família.

Na parte do seu livro em que fala sobre o cérebro, refere que o ambiente na primeira fase do bebé é sobretudo social. O ambiente em que o bebé nasce vai, então, determinar a sua educação. Os pais que a procuram têm um registo semelhante neste sentido?

É engraçada a grande heterogeneidade entre os pais que recebo na minha consulta. Tenho alguns mais caseiros, e outros mais modernos. Recebo muitos casais espanhóis, que têm uma forma de educar diferente da dos portugueses. Mas mesmo em relação aos portugueses há muita heterogeneidade.

Alguns querem experimentar coisas novas como o Baby Led Weaning, que consiste em oferecer várias opções de alimentos sólidos a um bebé e deixá-lo comer o que quiser, o que era uma ideia impensável há uns anos, por se pensar que o bebé não comia o suficiente e podia engasgar-se.

A relação que vou estabelecer com os pais vai depender do que eles querem, e dentro daquilo que acredito, tento ir ao encontro das suas vontades. Vou dando sugestões, respondo a questões e encontramos um equilíbrio. O que sugeri a uma família pode não ser bom para a próxima. Uma família nuclear, famílias reconstruídas - que têm o primeiro filho mas já contam com filhos de outras relações, casais com duas mães ou dois pais... cada caso é único.

Como as famílias modernas estão mais afastadas da sua estrutura familiar os novos casais apoiam-se mais nos estudos que vão surgindo?

Acho que há uma grande moda dos blogs em que as pessoas partilham informação. Há muitas mães que encontram apoio aí, o que nem sempre é uma boa opção, muitas vezes são só outras mães a dar a sua opinião, sendo que cada uma tem por base o seu caso específico.

Em Portugal, muitos devem querer que o seu filho seja o próximo Cristiano Ronaldo, mas na realidade, a criança pode ser boa em muitas outras áreas que não o desporto Os pais questionam demasiado os filhos, acreditando que as crianças vão ser os próximos génios, o que acaba por criar estímulos negativos. Nestes casos, acha que é possível dar a volta? E quando é necessário, os pais aceitam bem o reparo?

Muitas vezes consegue-se dar a volta a essa situação, mas só quando o caso chega a um ponto de rutura. Isso acontece quando as crianças já são mais crescidas e são pressionadas para serem perfeitas. Quando não atingem o que lhes é exigido, ficam deprimidas o que cria uma repercussão no seu desenvolvimento. Uma criança que viva num ambiente assim, não pode crescer bem.

A questão é saber quando se exige demasiado: Se a criança se esforçou para tirar uma boa nota, mas não o conseguiu, merece o mérito de se ter esforçado. Se a mensagem passada for muito negativa, a criança não vai sentir esse apoio. Por outro lado, se a criança disser que o período não lhe correu mal porque vai ter apenas duas negativas, deve ser chamada à atenção: ter duas negativas é mau e é preciso passar essa noção.

Em Portugal, muitos devem querer que o seu filho seja o próximo Cristiano Ronaldo, mas na realidade, a criança pode ser boa em muitas outras áreas que não o desporto. Importa ter esse aspeto em consideração também, por parte dos pais.

E os pais aceitam bem o reparo?

Às vezes. Em alguns casos falo diretamente com os filhos, mostrando aos pais o tipo de mensagem que deve ser passada. Este é um assunto delicado, se calhar a criança tem dificuldades na escola e não terá hipóteses de tirar um curso universitário. É preciso que os pais percebam que não há mal nisso, que se calhar o filho tem jeito para uma área mais prática o que é bom. Não podemos viver num país só de advogados e é fantástico que haja gente com gosto e à vontade noutras áreas.

'Supernanny'? Fico muito na dúvida sobre essa exposição porque as birras muitas vezes tomam grandes dimensões quando há muitos espectadoresUm programa televisivo recente que tem gerado muitas críticas sobre uma forma de educar talvez demasiado 'moderna' (além da parte de expor as crianças no seu meio familiar e íntimo). Acha que se pode reter boas abordagens de educação neste programa?

Tenho pessoas muito próximas que viram a versão inglesa desse programa e acharam que era passada uma mensagem muito interessante sobre a forma de educar. Eu não vi as outras versões mas sobre o português, tenho muitas dúvidas. Fico muito na dúvida sobre essa exposição porque as birras muitas vezes tomam grandes dimensões quando há muitos espectadores. Veja-se o exemplo do supermercado em que a criança atira-se para o chão: os pais ficam embaraçados e as pessoas à volta começam a fazer comentários sobre a forma de se educar aquela criança. Nesse programa há pelo menos duas ou três pessoas a filmar, e não sei até que ponto isso não influencia o comportamento real.

Algumas mensagens são muito pertinentes , os pais que estão a ver podem tirar conclusões daí. A única coisa a mudar seria mesmo esta exposição de crianças reais. Com bons atores conseguiriam passar a mesma mensagem.

Notícias ao Minuto[Legenda]© Cortesia Manuscrito

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