Acha que só existe um tipo de cancro digestivo? A verdade é que são mais do que poderia esperar. Também os sintomas podem variar e é importante estar atento de forma a conseguir um diagnóstico o mais precoce possível.
Esta terça-feira, 30 de setembro, assinala-se o Dia Mundial do Cancro Digestivo. O Lifestyle ao Minuto falou com o médico José Cotter, professor da Escola de Medicina da Universidade do Minho e diretor do serviço de gastrenterologia do Hospital da Senhora da Oliveira, em Guimarães, para perceber mais sobre estas doenças.
"Os cancros digestivos têm elevada mortalidade porque em muitos casos são diagnosticados tardiamente, mas em muitos casos são possíveis de prevenir", começa por revelar o especialista. Assim, é importante ter alguns hábitos preventivos, como é o caso do rastreio.
"No caso do cancro do intestino, um exame preventivo por colonoscopia revela-se fundamental a partir dos 45 anos de idade, pois o mesmo pode diagnosticar o cancro em fase muito precoce e permitir a sua cura definitiva."
José Cotter é professor e diretor do serviço de gastrenterologia do Hospital da Senhora da Oliveira© Universidade do Minho
José Cotter esclarece alguns dos mitos associados a esta doença.
Mito 1: É um tipo de cancro que apenas afeta apenas adultos mais velhos
A explicação: O cancro digestivo engloba os chamados “big five”, nomeadamente os cancros do intestino (cólon e reto), do estômago, do pâncreas, fígado e esófago. São mais frequentes na idade adulta, não propriamente nos mais velhos, têm elevada mortalidade porque em muitos casos são diagnosticados tardiamente, mas em muitos casos são possíveis de prevenir. Têm fatores de risco comuns, entre os quais o tabagismo, o consumo elevado de bebidas alcoólicas e a obesidade, pelo que o controlo destes fatores, só por si, contribui para diminuir o risco, tal como uma alimentação saudável do tipo da chamada dieta mediterrânica (legumes, frutas, verduras, leguminosas, azeite, peixe, carnes brancas, ervas aromáticas e especiarias em vez de sal e água como bebida principal). De qualquer forma o cancro do intestino é o mais diagnosticado em Portugal (cerca de 10 500 novos casos/ano) e o segundo mais frequente a nível mundial
Mito 2: Todos os cancros digestivos apresentam os mesmos sintomas
A explicação: O cancro digestivo pode atingir órgãos diferentes e, portanto, os sintomas podem igualmente ser diferentes, embora em muitos casos só existam queixas em fases muito evoluídas da doença, o que importa evitar. Quer isto dizer que o cancro digestivo frequentemente evolui de forma silenciosa, com sintomas inespecíficos e comuns a outras doenças (cansaço, falta de apetite, perda de peso) e em outros casos pode eventualmente manifestar-se por sinais ou queixas mais específicas (dor abdominal, alterações do funcionamento intestinal ou perdas de sangue pelo ânus no caso de cancro do intestino, ou, por exemplo, vómitos frequentes, enfartamento e dor de estômago no caso de cancro do estômago, enquanto no cancro do esófago o sintoma mais frequente é a dificuldade de engolir os alimentos).
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Mito 3: Só é preciso fazer exames depois do aparecimento dos primeiros sintomas
A explicação: Obviamente nesse caso torna-se indispensável fazer os exames complementares necessários para esclarecer o porquê das queixas apresentadas, mas em alguns órgãos de que é um bom exemplo o intestino, um exame preventivo por colonoscopia revela-se fundamental a partir dos 45 anos de idade, pois o mesmo pode diagnosticar o cancro em fase muito precoce e permitir a sua cura definitiva, ou de forma mais importante, prevenir o aparecimento de cancro ao diagnosticar e retirar lesões pré-malignas (pólipos) que, se não forem atempadamente diagnosticados e extraídos, evoluirão para a cancerização. Assim, a colonoscopia de rastreio, hoje em dia ainda mais eficaz pois de uma forma cada vez mais generalizada, é efectuada com auxilio de inteligência artificial, permitindo detectar lesões mínimas, revela-se única e preciosa na prevenção do cancro do intestino. Esta mesma inteligência artificial também é utilizada para melhorar a qualidade dos exames endoscópicos do estômago, nomeadamente no rastreio.
Mito 4: A quimioterapia é sempre necessária no tratamento
A explicação: A quimioterapia não é necessária em fases precoces de cancro, em que a retirada deste (por via cirúrgica ou endoscópica, conforme os casos) pode representar a cura definitiva. Em outras situações mais avançadas de doença, é útil isoladamente ou complementando outros tratamentos, para controlar a doença, ou com intenção curativa.
Mito 5: Mudanças da dieta podem não ser suficientes para prevenir o cancro
A explicação: A dieta enquadra-se numa estratégia de prevenção primária que, não sendo suficiente para prevenir na totalidade o cancro digestivo, diminui comprovadamente o risco deste aparecer. A dieta mediterrânica, acompanhada de exercício físico regular e controlo do peso, devem fazer parte do quotidiano de um cidadão que pretenda ser saudável.
Mito 6: Cancro digestivo é sempre fatal
A explicação: Não é sempre fatal. O prognóstico depende em primeiro lugar da precocidade com que é diagnosticado, permitindo desta forma em muitos casos uma cura definitiva, como acontece em 90% dos casos de cancro do intestino diagnosticados numa fase precoce. Nos restantes, em situações em que vários tratamentos são utilizados (cirurgia, endoscopia, quimioterapia, radioterapia, por exemplo), os mesmos podem permitir a cura em algumas situações e em outras um prolongamento da esperança de vida e/ou a melhoria da qualidade da mesma.
Mito 7: Os cancros digestivos espalham-se sempre de forma grave e agressiva
A explicação: Um dos objetivos dos vários tratamentos disponíveis é exatamente impedir que o cancro se dissemine pelo organismo e, se possível, reduza de dimensões ou mesmo desapareça, traduzindo uma excelente resposta aos tratamentos instituídos.
Mito 8: A dor está sempre presente no cancro digestivo
A explicação: Pode estar presente, mas hoje existem meios muito eficazes para o combate à dor que são utilizados sempre que necessário para proporcionar uma melhor qualidade de vida aos doentes.
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