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"A geração cordão anda com a tecnologia ao colo?"

Um artigo de opinião escrito por Ivone Patrão, psicóloga clínica e da saúde, terapeuta familiar e de casal, professora e investigadora no ISPA, e autora da editora PACTOR.

"A geração cordão anda com a tecnologia ao colo?"
Notícias ao Minuto

14:35 - 19/07/21 por Notícias ao Minuto

Lifestyle Opinião

"O preço que as crianças e jovens estão a pagar pelos sucessivos confinamentos, parciais e totais, é muito elevado. Está-se a viver no contraditório. 

A Organização Mundial de Saúde, em 2019, num relatório sobre atividade física, sedentarismo e sono deixou como orientação a ausência de ecrãs até aos dois anos e o seu uso 1 hora por dia entre os três e os cinco anos. Para os mais velhos até aos 10 anos, 3 horas por dia é o limite máximo.

Já se perdeu esta batalha, mas ainda se vai a tempo de afinar estratégias e travar a luta para conquistar a promoção do uso saudável da tecnologia. 

A verdade é que se está a oferecer muito tempo de ecrã às nossas crianças e jovens, sem lhes dar o contraponto – o mundo offline. 

Estar confinado a um quarto já era um cenário que existia no mundo pré-covid, apesar de ser uma realidade em tempos de pandemia mais difícil de resistir, não é por isso que se deve baixar os braços e permitir que seja a única coisa no nosso colo.

Cada vez mais existem crianças e jovens felizes com a tecnologia ao colo, que toma conta das suas horas livres. Pais e avós descansados porque há muitas competências que estão a ser estimuladas quando se está com um ecrã: a aprendizagem de um novo idioma, o desenvolvimento da socialização, o aumento da literacia digital, entre outras. Mas é importante perceber-se a importância do mundo relacional, que dificilmente acontece de forma semelhante nos mundos face a face e online.

O desenvolvimento saudável acontece pelo contacto com o outro, pela relação, pela experimentação. O olhar, o tocar, o agarrar, o abraçar, o beijar despertam todos os sentidos e podem estimular um leque variado de pensamentos e emoções positivas. Toda a comunicação não verbal que acontece numa interação é essencial para uma leitura do outro e da realidade. O contacto ocular permite muitas vezes que não sejam necessárias mais palavras ditas.

Está-se a acolher no colo a tecnologia que não nos dá abraços, nem beijos, nem nos conforta, nem tem a presença de um olhar.

A investigação tem pontuado o aumento do acesso e uso da tecnologia pelos mais novos, colocando em risco a sua saúde física, psicológica e social. A posição de curvado face à tecnologia, com impacto direto na postura física, tem também este lugar simbólico de lhe fazer uma vénia, de ficar submisso aos prazeres do mundo online. Muitas vezes essa vénia perdura no tempo sem respeitar as horas de sono, das refeições e a necessidade de socialização. Enquanto seres sociais, é tão importante ter a oportunidade de contacto com o mundo offline, para promover o desenvolvimento da aprendizagem de competências sociais e emocionais.

A tecnologia não deve ser a extensão do corpo, não deve estar sempre no colo e não deve estar ausente da vida das crianças e dos jovens. No meio disto, fica a ideia romântica na cabeça de quem educa, de que se pode oferecer presentes quadrados e retangulares, que permitem o acesso ao mundo online, sem uma conversa e uma estratégia de negociação para o seu uso, porque os mais pequenos sabem usá-los e sabem regrar-se. 

A regra é simples: não queremos a tecnologia sempre no colo das crianças, nem as queremos sempre no nosso colo! Conviver e desfrutar da tecnologia é possível, desde tenra idade, com regras e limites bem definidos, com supervisão regular, com partilha de conteúdos e atividades online em família e, sobretudo, com o equilíbrio entre vivências online e offline. Do mesmo modo, no processo de vinculação pais-criança existe o saudável jogo entre acolher e promover a autonomia.

O contexto de pandemia veio agravar estas circunstâncias, por isso, vive-se um tempo de experimentar a frustração, o aborrecimento, a necessidade de superar obstáculos e, como tal, de apelo à criatividade na luta pelo equilíbrio entre o que se desfruta online e offline."

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