Citomegalovírus: Um dos vírus mais frequentes na espécie humana

Não, o SARS-CoV-2 não é o único vírus que assola o mundo. De facto, o citomegalovírus (CMV) é um dos vírus mais frequentes, afetando cerca de 70 a 80% da população. Numa altura de pandemia, em que ouvimos falar de vírus, infeções e prevenção diariamente, o professor Dr. Manuel Abecasis, diretor do Departamento de Hematologia do Instituto Português de Oncologia de Lisboa, partilha um artigo de opinião com o Lifestyle ao Minuto, no qual desmistifica o citomegalovírus.

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Notícias Ao Minuto
02/07/2020 12:00 ‧ 02/07/2020 por Notícias Ao Minuto

Lifestyle

Saúde

O Citomegalovírus (CMV) é um dos vírus mais frequentes na espécie humana, tal como acontece com outros vírus do grupo Herpes, ao qual pertence. Nesta patologia, é importante distinguir 2 situações: a infeção por CMV, em que o vírus pode ser isolado no sangue (virémia), mas não causa doença de órgão, e a doença por CMV, em que à infeção se segue a lesão de um ou mais órgãos. Em pessoas saudáveis, a infeção por CMV é quase sempre assintomática e o vírus entra num estado de latência, no qual permanece para o resto da vida.

O CMV tem particular relevo em 2 contextos clínicos:

  • Durante a gravidez, pode ser transferido da mãe para o feto, se a grávida tiver em contacto com o vírus. Nesse caso, pode infetar o feto e causar malformações, sendo esta uma complicação rara, bem conhecida dos obstetras e pediatras.
  • No contexto de imunosssupressão, a infeção por CMV assume particular importância, podendo evoluir de uma infeção assintomática para uma doença grave, com lesão de um ou mais órgãos, como seja o pulmão, o fígado, o intestino, entre outros.

Esta imunossupressão, com os mecanismos de defesa do organismo comprometidos, pode estar associada a várias situações clínicas, como doenças oncológicas, nomeadamente do sangue, infeção pelo vírus HIV e doentes transplantados a fazerem medicamentos imunossupressores.

Embora os doentes que tenham recebido transplante de órgãos sólidos sejam suscetíveis a infeções por CMV, é no transplante de medula óssea que este vírus se torna mais temível. Quando se iniciou a transplantação de medula óssea, a infeção por CMV e a doença daí resultante eram uma das principais causas de morte do doente transplantado. Nestes doentes, o diagnóstico da infeção, que pode resultar da re-ativação do vírus latente ou de uma infeção primária, era feito em fases tardias, quando já havia lesão de órgão ou doença, sendo a pneumonia a forma mais frequente e quase sempre fatal.

Este quadro veio a modificar-se com a introdução de testes de diagnóstico rápido, que permitem detetar precocemente a virémia, e o aparecimento de medicamentos eficazes. A estratégia anti-CMV passou, assim, a ser preemptiva, baseada em duas premissas: a vigilância regular da virémia para detetar o vírus e o início do tratamento, com base na nova medicação, nos casos positivos.

Com o aparecimento de medicamentos mais eficazes, a profilaxia chegou a ser considerada. No entanto, vários ensaios clínicos mostraram que estes eram demasiado tóxicos quando utilizados profilaticamente, pelo que a estratégia preemptiva é a utilizada hoje em dia, com redução substancial da mortalidade.

Atualmente, o aparecimento de um novo fármaco, com um elevado perfil de segurança e eficácia notável contra o CMV, foi acompanhado pelo renascer do interesse na profilaxia. Estudos publicados no New England Journal of Medicine demonstram precisamente essas 2 grandes vantagens, com redução significativa da mortalidade nos doentes tratados. A introdução deste novo fármaco não vem seguramente resolver todos os problemas associados ao CMV, tal só será possível com o restabelecimento da imunidade contra o vírus, mas é mais um avanço na direção certa. Afinal, o sucesso da transplantação de medula óssea tem sido feito de um acumular de pequenos passos que, no seu conjunto, têm contribuído para a melhoria dramática dos resultados obtidos desde que a transplantação de medula óssea foi introduzida na prática clínica.

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