O Médico Explica: Afinal, o que são as alergias, típicas da primavera?

A primavera chega esta semana e, com ela, as famosas alergias. Em entrevista ao Lifestyle ao Minuto, o Coordenador do Centro da Alergia do Hospital CUF Descobertas, Mário Morais de Almeida, explicou por que razão as alergias são típicas desta altura do ano, como nos podemos proteger, e quais são as diferenças entre este problema e a constipação.

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Notícias Ao Minuto
17/03/2020 08:30 ‧ 17/03/2020 por Notícias Ao Minuto

Lifestyle

Médico explica

Atchim! A primavera está quase aí e a sua chegada sente-se no nariz, garganta, pele e cabeça dos mais sensíveis. Mas, afinal, o que são as alergias? Como nos podemos proteger? Há pessoas mais propensas do que outras?

O Coordenador do Centro da Alergia do Hospital CUF Descobertas, Mário Morais de Almeida, responde a estas e outras questões sobre o tema numa entrevista ao Lifestyle ao Minuto. 

O que são as alergias?

As alergias são respostas exageradas do organismo humano após o contacto com o ambiente que nos rodeia, por exemplo com os alergénios dos pólenes, dos ácaros ou dos animais domésticos. São mais frequentes quando existe uma tendência familiar, isto é, um risco genético para a sua ocorrência. Ou seja, lutamos contra algo que os não alérgicos toleram: “as alergias são um excesso de defesas”, por oposição a outras situações clínicas em que existe falta das mesmas.

As alergias são típicas da primavera. Porquê?

A alergia a pólenes, também chamada de polinose, é uma das causas mais frequentes de doenças alérgicas, que podem ser do aparelho respiratório (asma e rinite alérgica), dos olhos (conjuntivite alérgica) ou da pele (urticária e eczema). A possibilidade da existência de alergia a pólenes baseia-se na presença de sintomas muito característicos, que ocorrem com mais intensidade na época de maior concentração polínica, habitualmente na primavera, sendo as queixas desencadeadas no exterior dos edifícios, e principalmente quando o tempo está quente, seco e ventoso  

O clima do nosso país é ótimo para o desenvolvimento das plantas, em especial nesta estação. E lembre-se que as plantas que habitualmente causam alergia não são as que têm flores coloridas e muito bonitas, mas são sim as que polinizam pelo vento, como é o caso dos fenos ('gramíneas'), de várias ervas e das árvores, como é o caso da oliveira. E os grãos de pólen destas plantas são muito leves e de fácil libertação, podendo viajar por distâncias de dezenas de quilómetro.

Quais são os principais sintomas?

A doença alérgica mais frequente é a rinite alérgica, que atinge até 1/3 da população portuguesa. São sintomas de rinite, os espirros, o nariz entupido, a comichão e o pingo no nariz. Frequentemente estes sintomas são acompanhados de queixas oculares de conjuntivite alérgica, como olho vermelho, lacrimejo, comichão e olhos inchados.

A asma e os sintomas alérgicos da pele são também frequentemente desencadeados pela exposição aos pólenes. São queixas de asma, a dificuldade em respirar, a pieira, o cansaço fácil e a tosse, podendo muitas vezes ser desencadeados ou agravados por esforços físicos. São manifestações de alergia na pele, as urticárias e os eczemas.

Em muitos casos, acontecem em simultâneo vários destes sintomas. De igual modo, com frequência as mesmas queixas eram já habitualmente sentidas pelos pais, irmãos, avós ou tios, traduzindo o carácter familiar da doença alérgica.

A confirmação do diagnóstico de alergia aos pólenes deverá ser efetuada por um médico alergologista, conjugando-se a história clínica, com a realização dos testes de diagnóstico apropriados a cada caso, como testes cutâneos de alergia ou métodos de diagnóstico laboratoriais.

Há pessoas mais propensas do que outras?

As doenças alérgicas são multifatoriais, tendo uma forte influência genética que vai ser influenciada pelas variáveis ambientais, específicas como acontece com os alergénios a que os doentes reagem com a produção de anticorpos, e inespecíficas como acontece com as infeções respiratórias, nomeadamente virais, ou com a exposição a poluentes, de que destacamos o fumo do tabaco, fator de gravidade muito importante facilmente prevenível.

Sedentarismo, obesidade e a alteração dos regimes alimentares (por exemplo: fast-food cada vez mais consumida em vez de dieta mediterrânica cada vez mais esquecida; sal e mais sal e o tipo de gorduras que comemos) são alguns dos fatores que contribuíram para o eclodir das doenças alérgicas como um dos problemas deste século.

Qual é o contributo da poluição atmosférica para este problema? Existem mais fatores de agravamento?

As doenças alérgicas, como é o caso das que são desencadeadas por alergia aos pólenes, têm vindo a aumentar nos últimos anos, em todo o mundo. O estilo de vida associado ao desenvolvimento das populações, o sedentarismo, o aumento da poluição atmosférica, o aumento do tabagismo, as alterações dos regimes alimentares e a obesidade, são alguns dos fatores que contribuem significativamente para esta situação.

Contrariamente ao que seria de esperar, quem vive nas cidades tem maior risco de desenvolver alergias aos pólenes, comparado com as pessoas que vivem no campo, em zonas com mais vegetação. Este fenómeno ocorre devido ao problema da poluição atmosférica. Os poluentes do ar, em particular os que resultam do tráfego automóvel, aumentam o risco para o indivíduo desenvolver alergia aos pólenes O mecanismo explicativo baseia-se na existência de um efeito aditivo. Os poluentes são capazes de interagir com os pólenes, aumentando a sua 'agressividade'. As partículas dos poluentes podem atuar como transportadores, facilitando o transporte dos pólenes na atmosfera, existindo ainda a possibilidade de se verificar transferência dos alergénios dos pólenes para as partículas dos poluentes, que se ligam à sua superfície. Por outro lado, os poluentes são capazes de lesar diretamente a mucosa das vias aéreas, funcionando como irritantes, aumentando a suscetibilidade à agressão dos pólenes. Estudos epidemiológicos têm demonstrado que residir numa área poluída, particularmente com muito tráfego automóvel, se associa a um risco cerca de duas vezes superior para se tornar alérgico aos pólenes.

Como nos podemos proteger?

O controlo eficaz da doença alérgica implica a combinação de várias medidas, desde a identificação do(s) alergénio(s) envolvidos, minimizando dentro do possível a exposição, ao uso combinado de diferentes medicamentos para diminuir os sintomas e, sobretudo, a inflamação alérgica. Seguir a dieta mediterrânica, praticar exercício físico, ter uma duração adequada do sono, são essenciais no controlo destas doenças.

Uma parte essencial para o controlo da doença alérgica, consiste em evitar a exposição aos alergénios a que o indivíduo está sensibilizado. Infelizmente, no caso da alergia aos pólenes, e contrariamente ao que acontece por exemplo na alergia aos ácaros do pó, não é possível uma evicção alergénica muito eficaz, sob pena de uma alteração drástica da vida diária, mas algumas medidas podem permitir alguma proteção ou minimizar os sintomas, tais como:

  • reduzir a atividade em ambiente exterior, particularmente em áreas de elevada polinização;
  • evitar praticar desportos ao ar-livre ou campismo; evitar caminhar em grandes espaços relvados ou cortar relva;
  • manter as janelas fechadas quando as contagens de pólenes forem elevadas, particularmente em dias de vento forte, quentes e secos;
  • usar filtros de partículas de grande eficácia nos carros e viajar com as janelas fechadas; no caso dos motociclistas, deverão usar capacete integral;
  • usar óculos escuros fora de casa.

Qual é a medicação mais receitada e quais são os efeitos secundários da mesma?

Os medicamentos mais receitados podem essencialmente ser divididos em dois tipos:

  1.  Medicamentos preventivos, anti-inflamatórios, que como o nome indica, destinam-se a combater a inflamação alérgica e a evitar o aparecimento dos sintomas. Os mais eficazes são os corticóides, seja por via nasal no tratamento da rinite, seja por via brônquica no tratamento da asma.
  2. Medicamentos sintomáticos, para o alívio das queixas, incluindo anti-histamínicos para o controlo dos sintomas de alergia a nível do nariz, dos olhos ou da pele e, broncodilatadores para o tratamento das queixas de asma.

Estes medicamentos, quando bem selecionados e receitados por especialistas, praticamente não têm efeitos secundários. Por isso, por exemplo, nada de tomar medicamentos anti-histamínicos que provocam sono, que aumentam o apetite ou que lhe podem fazer mal ao coração… saiba que existem opções seguras e muito eficazes!

E não se esqueça que existem vacinas antialérgicas que são um tratamento específico, dirigido ao alergénio implicado, que têm uma grande eficácia desde que instituídas corretamente e sob vigilância do alergologista. As vacinas antialérgicas consistem na administração a intervalos regulares das próprias substâncias a que o doente é alérgico (extrato alergénico), por um período de alguns anos, visando alterar a sua alergia - normalmente com injeções mensais ou gotas de aplicação sublingual. Em doentes com rinite alérgica a pólenes que têm um risco aumentado de vir a desenvolver asma, as vacinas poderão prevenir essa evolução.

Quando devemos consultar um médico?

'Sempre a tossir', 'sempre cansado', 'não consegue correr', 'afasta-se dos outros pois não quer ficar para trás', 'sempre a coçar-se', 'sempre constipado', 'sempre a tomar antibiótico', 'acorda sempre com sono', 'parece que tem gatos no peito', 'ressona tanto', 'muitas medicações e sempre na mesma', 'parece eu quando era criança', 'diziam que passava com a idade mas começo a duvidar'….

Será que é alergia? Questione o seu médico, fale-lhe destes sintomas e deixe que os seus filhos também se queixem, pois algo pode e deve ser feito. A questão é devolver qualidade de vida, com alegria, sem alergia.

Deve falar abertamente com o seu médico assistente, pediatra ou clínico geral, falar das suas preocupações e de como a sua vida ou a da sua família está a ser limitada. Procurar que algo seja feito para mudar a situação. E não é fazer imensos exames, por vezes irrelevantes. È tentar intervir, modificar a evolução dos acontecimentos, controlar a situação, não deixando que as doenças alérgicas assumam o controlo.

E depois será o médico assistente que, certamente, promoverá a articulação com o alergologista, aumentando a possibilidade de controlar a situação. A sociedade pode contar com os especialistas em doenças alérgicas para os ajudar, acompanhar e esclarecer. Da asma, à rinite, da alergia cutânea à alimentar, que aparecem isoladas ou em simultâneo, na sua formação estes especialistas recebem muito treino, quer a abordar crianças, quer adultos. Ou seja, estão preparados para ser os médicos da sua família alérgica.

Quais são as diferenças entre alergias e constipação? Como distinguir os sintomas?

É importante saber distinguir alergia de constipação, por isso aprenda a diferenciá-las:

- É alergia se... os seus sintomas se prolongarem várias semanas; espirra mais de quatro vezes seguidas e tem comichões em vários locais; os sintomas repetem-se na mesma altura do ano; piora com a polinização, nomeadamente no campo.

- É constipação se... dura cerca de sete dias; espirra esporadicamente; os sintomas são constantes durante o dia; a polinização não aumenta os sintomas.

As alergias têm cura?

As doenças alérgicas não têm cura, sendo doenças crónicas onde se pretende, como principal objetivo, obter o controlo e assim permitir uma adequada qualidade de vida.

De qualquer modo, podemos estar décadas sem sentir qualquer sintoma de alergia, sendo isto muito mais provável quanto mais controlados estivermos…

A intervenção com vacinação antialérgica pode modificar a resposta perante os alergénios e, assim, pode ser pode ser possível modificar a evolução destas doenças, caminhando no sentido da 'cura'.

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