'Christmas blues' (tristeza natalícia) trata-se, na verdade, de um estado de tristeza que existe previamente e que não tem necessariamente de ter um início nesta época e pode ocorrer em qualquer altura do ano, de acordo com um artigo divulgado pela rede de hospitais CUF. O que pode acontecer é que, estando a altura do Natal associada a momentos de festa, família, alegria, luzes, presentes, balanços e projetos de vida poderá contribuir para o exacerbar de um desânimo que já se arrasta há algum tempo.
Como é que se caracteriza esta tristeza?
A CUF aponta que se trata de um estado em que a pessoa vivencia uma fragilidade emocional, através de um sofrimento que não é visível e que não deixa marcas físicas, mas que está lá, e que pode causar sentimentos de tristeza, angústia, desânimo, irritabilidade, apatia.
Perante um estado depressivo a pessoa poderá manifestar sintomas como:
- Humor deprimido na maior parte do dia ou quase todos os dias;
- Acentuada diminuição do interesse ou prazer em todas ou quase todas as atividades;
- Perda ou ganho significativo de peso;
- Redução ou aumento do apetite;
- Insónia ou hipersónia;
- Agitação ou diminuição a nível psicomotor;
- Fadiga ou perda de energia;
- Capacidade diminuída para pensar ou se concentrar;
- Indecisão;
- Sentimentos de inutilidade;
- Culpa excessiva ou inapropriada;
- Pensamentos recorrentes relacionados com morte.
Os fatores que podem favorecer os 'Christmas blues'
Existem situações que nos tornam mais suscetíveis a este estado, nomeadamente contextos de vida marcados por:
- Perda de pessoas significativas;
- Doença;
- Divórcio;
- Desemprego;
- Acidentes pessoais ou de familiares e amigos;
- Estar institucionalizado por circunstâncias de vida;
- Conflitos e zangas com os amigos ou com familiares;
- Ausência pela distância, que separa familiares por motivos profissionais ou até outros;
- Pressão social devido à excessiva comercialização do natal, com foco nos presentes e nas atividades sociais.
E o final do ano, também pode favorecer este estado?
A aproximação ao final do ano poderá levar a um confronto da pessoa com o que ficou por resolver na sua vida, devido aos projetos e planos que não foram realizados. O facto de existir o sentimento de que as metas estipuladas não foram cumpridas pode gerar alguma ansiedade e até mesmo um estado de tristeza, uma vez que a pessoa pode sentir-se fracassada a vários níveis.
O papel do consumismo natalício e da 'obrigação de estar feliz'
A pressão social para o consumismo - compra dos presentes, preparação da ceia e participação em eventos sociais - pode aumentar o stress e a ansiedade, pelo medo de falhar e de não conseguir realizar tudo, instalando um estado deprimido.
O querer oferecer os presentes idealizados e a impossibilidade de o fazer vem acentuar os sintomas preexistentes, pelo medo de desiludir o outro, esquecendo que o que importa na realidade é o momento de estar juntos.
Estratégias para não se sentir triste no Natal
De modo a lidar, reduzir ou eliminar estes sinais e sintomas, segundo a CUF, poderá ajudar não se obrigar a mudar o seu estilo de vida, deixando de parte rotinas que o deixam feliz, em função das festividades da época e daquilo que é idealizado pelos outros. Poderá sempre criar a sua própria tradição de Natal de acordo com o que lhe faz sentido.
É importante também ajustar as expectativas, quebrando as expectativas irrealistas de um natal perfeito e deixar-se envolver e desfrutar de cada momento da melhor forma possível. Experimente organizar programas que permitam combater a tendência para o isolamento e a reduzir os temas de conversas de tonalidade negativa.
Viver a época de natal não significa a anulação de sentimentos; a tristeza, saudade e nostalgia são sentimentos inerentes ao ser humano, pelo que devem ser vividos, respeitados e aceites e integrados no nosso dia-a-dia, de modo a que possamos desfrutar do que existe para além deles.
Quando procurar ajuda médica
Este problema não se resolve com o fim da época natalícia. Mesmo que suscite a sensação de que este estado se atenua, o mesmo irá persistir - e até mesmo agravar - caso não recorra a ajuda profissional. Nesse caso, poderá interferir nas atividades do dia a dia, assim como na esfera pessoal, familiar, social e profissional, podendo causar grande sofrimento.
A especialidade de psicologia é a mais indicada para se poder atuar a nível dos problemas psicológicos e emocionais que a pessoa apresenta e ajudar na tomada de consciência do que origina os seus problemas, na promoção de mudanças, pessoais e de comportamento, no domínio de um autoconhecimento maior, assim como no restabelecimento da sua capacidade de gerir e confrontar, de modo autónomo, os desafios que a vida nos apresenta. Perante o agravamento de sintomas é importante recorrer à especialidade de psiquiatria.