Felizmente os tempos mudaram (e com ele as vontades). Somos bombardeados atualmente por uma série de informação que alerta para ingerir litros de água todos os dias, o que seria o segredo para ter uma boa saúde, sentir-se mais bem disposto, perder peso e até evitar o aparecimento de doenças como o cancro.
O conselho que mais ouvimos é a ‘regra do 8x8’: a recomendação não oficial de que devemos beber oito copos de 240ml de água por dia, o que equivale a pouco menos de dois litros, além de quaisquer outras bebidas.
Essa ‘regra’, no entanto, como revela a BBC News, não está cientificamente provada - tão pouco as diretrizes oficiais do Reino Unido ou da União Europeia afirmam que devemos de facto consumir tanta água.
Tudo indica que a recomendação de tomar dois litros de água por dia resulta de interpretações equivocadas de duas fontes diferentes - ambas de décadas atrás.
Em 1945, o Comité de Nutrição e Alimentos do Conselho Nacional de Pesquisa dos EUA aconselhou os adultos a consumirem um mililitro de líquido para cada caloria de alimento.
Isso equivaleria a 2 litros para mulheres que adotam uma dieta de 2 mil calorias, e 2,5 litros para homens que consomem 2,5 mil calorias.
Mas essa recomendação não era exclusiva para água - incluía a maioria dos tipos de bebidas - assim como fruta, legumes e verduras, que podem conter até 98% de água.
Mas essa recomendação não era exclusiva para água - incluía a maioria dos tipos de bebidas - assim como fruta, legumes e verduras, que podem conter até 98% de água.
Já em 1974, o livro ‘Nutrition for Good Health’ (‘Nutrição para uma Boa Saúde’), escrito pelos nutricionistas Margaret McWilliams e Frederick Stare, recomendava que um adulto médio deveria tomar entre seis e oito copos de água por dia.
E, segundo os autores, tal incluía igualmente fruta e legumes, café e refrigerantes, até mesmo cerveja.
Ouça o seu corpo e confie na sua sede
Não há dúvida de que a água é importante. A água, que representa cerca de dois terços do nosso peso corporal, transporta nutrientes e resíduos ao redor do organismo, regula a temperatura, age como um lubrificante e amortece as nossas articulações, desempenhando uma função na maioria das reações químicas que ocorrem dentro do organismo.
Estamos constantemente a perder água por meio do suor, da urina e da respiração. Garantir que temos água suficiente é essencial para evitar a desidratação.
Os sintomas da desidratação podem se tornar detetáveis quando perdemos entre 1% a 2% da água do nosso corpo.
Entre eles, estão: urina amarela escura; cansaço, tonturas; secura na boca, nos lábios ou nos olhos; urinar menos de quatro vezes ao dia. Mas o sintoma mais comum? Simplesmente sentir sede. Em casos graves e mais raros, a desidratação pode ser fatal.
Anos de afirmações infundadas em torno da ‘regra do 8x8’ levaram-nos a acreditar que sentir sede significa que já estamos perigosamente desidratados.
Mas a maioria dos especialistas concorda que não precisamos de mais líquido do que a quantidade que nossos corpos pedem, quando pedem.
"O controlo da hidratação é uma das coisas mais sofisticadas que desenvolvemos na evolução, desde que os ancestrais saíram do mar para a terra. Temos uma grande quantidade de técnicas sofisticadas que usamos para manter a hidratação adequada", diz Irwin Rosenburg, cientista do Laboratório de Neurociência e Envelhecimento da Universidade de Tufts, em Massachusetts, nos Estados Unidos.
Num corpo saudável, o cérebro deteta quando o organismo está desidratado e ativa a sede para estimular que bebamos água. Também liberta uma hormona que envia sinais aos rins para conservar água concentrando a urina.
"Se ouvir o seu corpo, este irá avisá-lo quando estiver com sede", diz Courtney Kipps, consultor em medicina desportiva e professor do Instituto de Medicina Desportiva, Exercício e Saúde na University College London (UCL), no Reino Unido.
Embora a água seja a opção mais saudável, uma vez que não tem calorias, outras bebidas também fornecem hidratação.
Embora a cafeína tenha efeito diurético moderado, as pesquisas indicam que o chá e o café ainda assim contribuem para a hidratação - assim como as bebidas alcoólicas.