O médico explica: O trauma do cancro da mama em mulheres jovens
Carlos Rodrigues, coordenador da Unidade da Mama do Hospital CUF Santarém, explicou numa entrevista ao Lifestyle ao Minuto tudo o que necessita de saber sobre o cancro da mama, especialmente quando este tipo de tumor afeta mulheres jovens, doentes com menos de 45 anos.
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Lifestyle Investigação
"O cancro da mama é o segundo tipo de tumor mais frequente no mundo e o tumor maligno mais frequente na mulher. Em Portugal numa população feminina de cerca de cinco milhões, surgem cerca de seis mil novos casos de cancro da mama por ano", alerta o médico Carlos Rodrigues.
Geralmente, o aparecimento deste tumor está relacionado diretamente com a idade da mulher, ou seja, quanto mais velha a mulher maior o seu risco de ter cancro da mama. Em geral, o risco aumenta muito após os 50 anos. Os casos registados em idade mais precoce andam por volta dos 20 anos de idade, mas são raros.
O número de diagnósticos de cancro da mama em mulheres jovens, especificamente em idade inferior a 40 anos, constitui cerca de 7% de todos os casos. Pode parecer uma percentagem reduzida, mas se considerarmos a elevada frequência do cancro da mama na população feminina (um caso em cada sete/oito mulheres), percebemos que um número considerável de mulheres terá de lidar com esta doença numa fase em que tem a vida ainda em construção, com grandes exigências, nomeadamente a nível familiar e profissional.
"As mulheres saudáveis com risco médio para cancro da mama devem começar a realizar autoexame aos 25 anos. Nas mulheres de alto risco, o autoexame associado ao exame físico realizado pelo médico deverá iniciar-se a partir dos 20 anos", recomenda o médico.
Em entrevista ao Lifestyle ao Minuto, Carlos Rodrigues, coordenador da Unidade da Mama do Hospital CUF Santarém, explica tudo o que deve saber sobre os sintomas, as causas, o impacto psicológico e o tratamento associados ao cancro da mama em mulheres jovens.
O cancro da mama em mulheres jovens refere-se concretamente a que faixas etárias?
Considera-se cancro da mama em mulheres jovens, quando ocorre em idade inferior aos 45 anos.
Há uma idade mínima para o aparecimento de cancro da mama?
A incidência do cancro da mama está relacionado directamente com a idade da mulher, ou seja, quanto mais velha a mulher maior o seu risco de ter cancro da mama. Em geral, o risco aumenta muito após os 50 anos de idade. Os casos registados em idade mais precoce andam por volta dos 20 anos de idade, mas são raros.
Qual é o número ou percentagem deste tipo de tumor em Portugal e no mundo?
O cancro da mama é o segundo tipo de tumor mais frequente no mundo e o tumor maligno mais frequente na mulher. Em Portugal numa população feminina de cerca de cinco milhões, surgem cerca de seis mil novos casos de cancro da mama por ano.
O rastreio populacional, como medida de saúde pública está preconizado para idades tão jovens?
Nesta faixa etária o rastreio populacional e sistemático não está preconizado como medida de saúde pública, pela menor incidência nesta idade precoce e pela menor capacidade de diagnóstico que os exames têm em mamas mais jovens.
Isto não significa que cada mulher individualmente não deve estar atenta e fazer exames. Toda a mulher adulta deve fazer mensalmente o autoexame da mama e procurar o seu médico caso encontre alguma anomalia, que investigará de forma adequada. Mesmo sem qualquer anomalia detectada a primeira mamografia e ecografia mamárias deverão ser realizadas entre os 35-40 anos. Entre os 40-45 anos, a cada 18 meses e após os 45 anos, anualmente.
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Quais os sintomas a ter em atenção?
Todas as mulheres devem estar alerta para qualquer alteração localizada à mama, como:
. Nódulo da mama ou da axila;
. Alteração do volume ou assimetria;
. Alteração do aspeto da pele ou do mamilo;
. Corrimento de líquido pelo mamilo;
A maioria dos casos que se manifestam como nódulos palpáveis ou por alterações na pele, correlaciona-se frequentemente com tumores em fases mais avançadas.
Existem fatores de risco para o surgimento deste tumor numa idade tão jovem?
O principal factor de risco para mulher jovem ter cancro da mama é a presença de mutação genética, sendo os principais genes o BRCA1, BRCA 2, TP53 e o gene CHEK2.
Outros factores associados ao cancro da mama em idade jovem são: história familiar de cancro da mama e ovário em familiares de primeiro grau, história de cancro da mama bilateral e história de cancro da mama em homens na família.
E se houver um historial genético deste tipo de cancro, o que devem as mulheres e os médicos fazer?
As mulheres que têm mutações genéticas comprovadas devem:
- Ser informadas que têm um risco muito superior de desenvolverem cancro de mama e do ovário e idades jovens;
- Logo que não desejem ter mais filhos, deverão ser submetidas a uma cirurgia preventiva em que são retiradas ambas as mamas (com cirurgia reconstrutiva) e também os ovários e trompas;
- Nos anos antes da cirurgia devem ser seguidas em equipas especializadas, com exames de alta qualidade, nomeadamente numa Unidade da Mama.
A partir de que idade as mulheres devem começar a realizar autoexames e a palpação da mama?
As mulheres saudáveis com risco médio para cancro da mama devem começar a realizar autoexame aos 25 anos. Nas mulheres de alto risco, o autoexame associado ao exame físico realizado pelo médico deverá iniciar-se a partir dos 20 anos.
Igualmente a partir de que idade considera que as mulheres deveriam realizar ecografias mamárias ou mamografias?
Em mulheres sem risco familiar, a primeira mamografia e ecografia mamárias deverão ser realizadas entre os 35-40 anos. Entre os 40-45 anos, a cada 18 meses e após os 45 anos, anualmente.
No caso de existir risco familiar, deve verificar-se a idade do familiar mais jovem, na altura do diagnóstico. Em regra, os exames deverão iniciar-se 10 anos antes desse caso mais jovem.
Como é feito o diagnóstico e o tratamento?
Em caso de suspeita de cancro da mama, está indicada a realização de uma biópsia mamária.
Nesse percurso de diagnóstico, poderão ser necessários outros exames adicionais da mama, como a ressonância magnética, ou de outras partes do corpo, como a ecografia abdominal, radiografia do tórax, cintigrafia óssea ou TAC torácica, abdominal e pélvica.
Após o diagnóstico, caracterização biológica do tumor e a avaliação da extensão da doença, a equipa médica tem de programar o(s) tratamento(s).
Podemos sistematizar os tratamentos do carcinoma da mama em:
LOCAIS - Cirurgia e Radioterapia
SISTÉMICOS ( que significa de todo o corpo) - Quimioterapia / Hormonoterapia / Tratamentos biológicos.
O cancro de mama é uma doença que contém muitas doenças diferentes e a maneira como cada uma é tratada também poderá ter diferenças. As doentes poderão necessitar de todos aqueles tratamentos ou apenas de alguns, e também a sequência com que são realizados depende da especificidade de cada caso.
Qual o impacto que a quimioterapia pode ter na fertilidade?
A quimioterapia pode causar infertilidade de imediato ou anos depois, por danos nos óvulos, e nos folículos ováricos. Mas isso depende do tipo de tumor, do tipo de tratamento, do tipo de medicamento utilizado, da dose e do número de sessões.
A mulher jovem deve ser avisada desta situação e ter a opção de colher e criopreservar ovócitos, mantendo assim a possibilidade de ter filhos após a quimioterapia.
Que outros desafios enfrenta a paciente oncológica jovem?
Além da questão da fertilidade, a mulher enfrenta três grandes desafios:
- Aceitação de si própria após as sequelas físicas e psicológicas deixadas pelo tratamento;
- Manutenção de uma vida conjugal saudável;
- Regresso à sua atividade laboral.
As reconstruções mamárias estão facilmente disponíveis para todas as mulheres, nomeadamente através do Serviço Nacional de Saúde?
A cirurgia estética e reconstrutiva é parte integrante do tratamento. Atualmente não se pode conceber o tratamento destas mulheres de outra forma. Este acesso tem de ser universal, rápido e de qualidade.
Nestes casos de doentes mais jovens o acompanhamento psicológico é fundamental?
O diagnóstico de um cancro da mama pode levar ao desenvolvimento de angústias, medos e questionamentos, no que diz respeito à sua própria identidade feminina e em relação à sua aceitação social. Este quadro pode ser agravado durante o tratamento.
O psicólogo deve estar atento aos distúrbios psicopatológicos, como depressão e ansiedade graves. A paciente deve confrontar-se com o diagnóstico e com as dificuldades dos tratamentos decorrentes, ajudando a desenvolver estratégias adaptativas para enfrentar esta fase difícil da sua vida.
Qual é a taxa de sobrevivência de cancro da mama?
- A taxa de sobrevivência do carcinoma da mama depende do estádio da doença. Aos 5 anos para mulheres com carcinoma da mama no estádio 0 ou estágio I (situações de cancro inicial) é perto de 100%;
- No estágio IV (cancro muito avançado já com atingimento de outros órgãos) têm uma taxa de sobrevivência relativa de 22%;
- Em Portugal, a sobrevivência global aos cinco anos é de cerca de 85%, a quinta melhor a nível europeu.
Pode falar-nos um pouco sobre o que é o Programa '#1500 razões para estarmos próximos'; da CUF e como surgiu a ideia para a sua criação?
Como sabemos, todos os anos surgem mais de seis mil novos casos de cancro da mama em Portugal e ainda morrem da doença cerca de 1500 portuguesas.
Enquanto o cancro da mama for uma ameaça à plenitude e estabilidade da mulher e da sua vida familiar, a CUF e todos nós temos #1500razões para estarmos próximos.
O programa contou com o envolvimento de médicos, enfermeiros, psicólogos, nutricionistas, gestores oncológicos e jovens mulheres com cancro da mama da Unidade da Mama de Lisboa, mas é preciso chegar mais longe e por isso, vamos estar em diferentes pontos do país: Lisboa, Santarém, Coimbra, Porto e Viseu.
Que tipo de iniciativas este programa pretende difundir?
#1500razões para estarmos próximos é um programa de iniciativas para falarmos abertamente sobre os principais desafios de quem vive a doença, para promovermos e partilharmos mais e melhor conhecimento sobre esta patologia e para desenvolvermos estratégias que a possam reduzir ou evitar. O programa pode ser consultado através deste link.
O próximo encontro é já dia 28 de maio no Centro do Conhecimento do Hospital CUF Descobertas. Destaco que a entrada é livre mas a inscrição é obrigatória.
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