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"Fazia manchetes sobre homossexualidade e ainda nem sabia o que isso era"

Numa entrevista exclusiva ao Fama Ao Minuto, Carlos Costa 'despiu' a personagem e deu a conhecer um pouco mais sobre a sua história de vida. Entre revelações inéditas e confissões acutilantes, o cantor falou sobre a relação que tem com os pais, confessou já ter sofrido ameaças de morte e mostrou-se indiferente a opiniões alheias.

"Fazia manchetes sobre homossexualidade e ainda nem sabia o que isso era"
Notícias ao Minuto

09:05 - 17/11/17 por Catarina Ferreira

Fama Carlos Costa

Tornou-se conhecido em talent shows, construiu uma imagem polémica e não é poupado a críticas, mas é pelo seu talento enquanto cantor que pretende ser reconhecido. Excêntrico e controverso, Carlos Costa tornou-se numa "personagem", como o próprio reconhece ser aplaudida por muitos e odiada por outros. 

Em entrevista ao Fama Ao Minuto, o artista falou sobre o seu percurso de vida, fez revelações exclusivas relativamente à vida pessoal e 'abriu o jogo' sobre a forma como assumiu a homossexualidade. 

O Carlos vem para Lisboa muito novo, o que o levou com apenas 15 anos a abandonar a Madeira?

Estava sem dúvida alguma a tentar fugir àquela monotonia que existia naquela zona da ilha. Venho da zona norte da ilha da Madeira, que é uma terra linda de morrer e que eu amo de paixão, mas queria fugir daquela monotonia. Não trato isto como uma forma de me vitimizar, pelo contrário, isso ajudou-me a crescer, mas sempre fui uma criança, jovem e adolescente, que foi obrigado a crescer muito rápido e com muitas responsabilidades. Essas responsabilidades não eram agradáveis, tinha que tratar do meu irmão, ajudar em casa e quando somos jovens não queremos nada disso. Foi para fugir a tudo isso que vim para Lisboa. Os meus pais ficaram reticentes, mas a minha irmã já estava a viver em Lisboa e foi o apoio que precisava.

Quando decidiu fazer esta mudança já sonhava com a vida artística?

O sonho do meio artístico sempre esteve lá, sempre foi muito presente, mas vim de um meio tão pequeno que sempre achei um sonho inalcançável, algo que nunca conseguiria atingir. Depois, de repente, dei por mim a trabalhar ao lado de pessoas que via na televisão.

Depois de já estar em Lisboa, torna-se conhecido pela participação em programas como o 'Ídolos' e o 'The Voice', que importância tiveram estes programas na sua carreira?

Antes desses programas passei por uma fase que pouca gente tem noção, trabalhei um ano e meio com a Disney Portugal a fazer teatro musical, isso trouxe-me uma bagagem e um arcaboiço muito grande em termos artísticos. Já nessa altura trabalhei com jovens que eram bastante conhecidos como a Diana Lucas, Vanessa Silva e a Maria Sampaio, isso abriu-me muitas portas e deixou-me muito à vontade. A meio do contrato com a Disney surgiu a oportunidade de participar no 'Ídolos'. Esses programas foram muito importantes para mim, na altura significavam uma exposição de massas e a minha edição do 'Ídolos' foi um fenómeno gigante. Naquela altura, em 2008/09, havia uma sede muito grande de talent shows. Eu não fazia a menor ideia do que era o 'Ídolos', tinha 16 anos e só sabia que ia cantar, mas foi todo o background que o programa me trouxe, as digressões, os fãs, foi tudo fulcral para me manter até hoje.

Eu já fazia manchetes na imprensa sobre homossexualidade e ainda nem sabia o que isso era na verdade.Na época em que participou no 'Ídolos' ainda não o víamos com a excentricidade a que nos habituou e que é agora a sua imagem de marca.

O programa foi muito importante para que eu tomasse este rumo. Já na altura eu era considerado excêntrico e era muito simples comparado ao que sou hoje em dia. Era considerado o excêntrico, era requisitado por toda a imprensa de uma forma completamente diferente, era explorado de uma forma diferente dos meus colegas, eles conseguiam andar na rua em paz e eu não conseguia. Éramos 15 finalistas, incluindo a Carolina Torres e o Salvador Sobral, e ninguém queria saber deles a nível mediático, enquanto eu era massacrado. Era considerado o excêntrico, maluquinho, e a estação televisiva percebia isso e aproveitava da melhor forma. Não me deixavam fazer tudo o que queria, eu queria mudar rapidamente de personagem e eles queriam que seguisse uma linha. Davam-me alguma corda para que me descobrisse, mas ao mesmo tempo tentavam controlar-me para que fosse coeso artisticamente. Quando o programa acabou comecei a seguir a minha linha e a procurar aquilo que eu queria, continuo a procurar até hoje.

A exposição que o programa lhe trouxe, ainda durante a adolescência, que impacto teve na sua vida?

Chegou a uma fase que eu deixei de dar entrevistas. Sei que escreverem a meu respeito, usufruo disso, mas deixo que escrevam sem ter um contacto direto comigo. Cansei-me de deturparem aquilo que digo, cansei-me de ver manchetes com coisas que não disse. Adoro exposição, gosto imenso, mas não gosto que mudem as minhas palavras. Esta evolução da minha imagem tem a ver com coisas que fui descobrindo. Comecei a sair à noite, apanhei a minha primeira bebedeira com 21 anos, comecei a descobrir o mundo gay. Eu já fazia manchetes na imprensa sobre homossexualidade e ainda nem sabia o que isso era na verdade. Tornei-me conhecido muito cedo e fui atirado aos leões.

As pessoas pensam que não passo de um miúdo que não tem noção, ridículo, que quer ser um pseudo Castelo Branco, mas não têm noção que o ódio traz muito dinheiro.Sempre gostou de se apresentar de forma excêntrica, mesmo na infância?

Quando tens contacto com uma realidade que não fazia parte da tua vida começas a querer usufruir daquilo, o que não quer dizer que eu ache que não tenho bom gosto. Acho que tenho bom gosto e acho que consigo fazer um bom balancear de toda a minha excentricidade e do meu fanatismo, faço uma boa junção de tudo isto e aplico na minha personagem. Toda esta evolução tem também a ver com influências que fui tomando ao longo da minha vida, sempre tive uma tendência muito grande a acompanhar todas as artistas femininas e isso acabou por me fazer tomar um caminho e uma imagem mais andrógena. Essa imagem estou neste momento a tentar desconstruir, apesar dessa imagem ser muito boa a nível financeiro. As pessoas pensam que não passo de um miúdo que não tem noção, ridículo, que quer ser um pseudo Castelo Branco, mas as pessoas não têm noção que o ódio traz muito dinheiro e muita exposição nesta área. Eu sou requisitado para estar num sitio, para encher num sitio e metade daquelas pessoas vão para lá a pensar que eu sou ridículo, tenho perfeita noção disso. É uma escolha querer lidar com isso ou não, mas também sei que ao desligar esse botão polémico posso perder muita coisa, como posso também ganhar.

Neste momento, quer mesmo desligar esse botão?

Não quero desligar esse botão do nada, mas quero chamar mais a atenção para o meu verdadeiro talento, que é cantar. Se bem que não é o meu único talento. Por exemplo, tenho noção que sou um ótimo concorrente de reality shows. As estações televisivas sabem disso, por isso é que me estão sempre a requisitar, sabem perfeitamente que vou garantir audiência, vou dar entretenimento e vou prender o espectador à televisão. Eu ainda sou daqueles artistas, dos poucos que ainda existem, que se preocupa com o telespectador. Quando faço uma coisa, prefiro prejudicar a minha personagem e ter a certeza que as pessoas lá em casa estão entretidas.

Neste momento quero matar esta personagem. Neste momento quero desconstruir esta imagem toda, matar a personagem que tem vindo a ser o Carlos Costa, única e exclusivamente para dar uma imagem mais real da minha personalidade, mais condicente, eu sou muito mais simples do que aparento. Quero dar uma imagem mais credível à minha profissão enquanto cantor. 

A única coisa que alterei na minha cara foi a boca, fiz um aumento labial e arrependi-me de o ter feito.Como é que surge a imagem que conhecemos hoje do Carlos Costa?

Sempre fui excêntrico, não tinha é tanto acesso ao mundo da moda e às lojas. É uma mistura entre o meu fascínio por coisas que desconhecia, o meu gosto pessoal, as minhas influências e, às vezes, uma pitada de falta de noção, tenho de admitir isso. Há pessoas que pensam que eu fiz plásticas em todo o lado, isso da-me um certo gozo, mas ao mesmo tempo irrita-me. Eu tinha 16 anos na altura em que me conheceram, tinha aquela carinha de criança. Entretanto cresci, emagreci imenso, fiquei com a estrutura óssea completamente alterada. A única coisa que eu alterei na minha cara foi a boca, fiz um aumento labial e arrependi-me de o ter feito, estou a atentar reduzir a todo o custo, mas não alterei mais nada, mais nada mesmo.

Eu tinha que garantir que a imprensa falava a meu respeito e que dizia: ‘O Carlos voltou e está no The Voice’.Quando participou no 'The Voice' revelou que mantinha uma relação há oito anos e foi nessa altura que se assumiu publicamente como homossexual, por que é que escolheu esse momento para todas estas revelações?

Houve ali uma viragem e eu tenho de agradecer ao 'The Voice' e à minha entrada no reality 'A Quinta'. Principalmente 'A Quinta', serviu como um escudo para eu conseguir assumir e falar sobre a homossexualidade sem ter contacto com o que se estava a dizer a meu respeito. Eu vivia num mundo em que eu não falava com os meu pais sobre isso, não era tema de conversa. Assumir-me nesse programas de televisão foi muito importante, houve um grande salto a nível profissional, a nível da minha personagem e a nível pessoal também.

As entrevistas que eu dei no 'The Voice' foram a pensar no facto de não querer que a minha participação passasse ao lado, eu estava a participar num programa de televisão e não podia deixar a minha participação passar em branco. Eu tinha que garantir que a imprensa falava a meu respeito e que dizia: ‘O Carlos voltou e está no The Voice’. Comecei a abrir algumas brechas sobre o meu mundo pessoal, algo que, no fundo, escondia uma grande vontade de ser sincero com as pessoas.

Os meus pais têm que parar de tomar as minhas dores e pensar: 'Ele é nosso filho e não interessa aquilo que dizem a respeito dele' ou vão ter de lidar com isso até aos últimos dias da vida deles.Já referiu que não falava abertamente com os seus pais sobre a sua orientação sexual, ainda assim, eles apoiaram as suas escolhas?

Era algo que não era tema de conversa, não se falava abertamente. O texto subentendido era: ‘Não importa, faças o que fizeres és nosso filho na mesma e amamos-te incondicionalmente’. Não havia nada a justificar, nem nada a falar sobre isso. O meu pai é mais velho do que a minha mãe 11 anos, mais velho do que eu 30 e tal, nós não podemos abrir a cabeça das pessoas e fazê-las entender que certas e determinadas coisas existem. Só precisamos de saber que o amor existe e é universal. Sei que eles passaram mal, e passam mal até hoje, com certas e determinadas coisas, mas eu não posso sufocar-me a mim próprio para aliviar as costas deles. Os meus pais têm que parar de tomar as minhas dores e pensar: ‘Ele é nosso filho e não interessa aquilo que dizem a respeito dele’ ou vão ter de lidar com isso até aos últimos dias da vida deles, com muita pena minha. Eu não vou mudar quem eu sou por ninguém, nunca, fiz isso durante muitos anos na minha vida e sentia-me um frustrado.

Sem dúvida alguma os meus pais têm vindo a a ser muito mais fortes do que aquilo que estava à espera. Não vou mentir e não vou dizer que eles não me desiludiram em algumas situações, mas isso tem a ver com o meu ponto de vista, o que para mim é normal para eles pode não ser. Quando estou com eles gosto sempre de lhes lembrar que, independentemente daquilo que me posso tornar enquanto figura pública, vou sempre sempre o Carlos que eles conheceram.

Hoje em dia, os seus pais conseguem perceber o seu trabalho enquanto artista?

Eu acho que eles não conseguem perceber, mas respeitam e isso para mim revela uma capacidade de encaixe que me deixa muito orgulhoso.

Quando visita os seus pais na Madeira, no local onde nasceu e cresceu, como é que as pessoas o abordam na rua?

Lá eu continuo a ser reconhecido, as pessoas sabem que eu sou, mas acaba por ser normal. Aqui não, aqui eu ando na rua e sou massacrado. Mesmo que eu queira passar despercebido não consigo devido à minha imagem. Despoleto carinho e ódio e várias reações, por ter uma imagem tão controversa as pessoas acham que podem opinar sobre a minha vida, que podem chegar ao pé de mim na rua tratar-me por tu e falar sobre a minha vida. No Funchal eu acabo por passar muito tempo dentro de casa a ser eu próprio e a regressar às raízes. Não perco muito tempo a perceber qual é a opinião dos outros, isso para mim não é importante.

Sim eu tenho uma relação há 10 anos e isto é real.Foi fácil assumir publicamente que é homossexual?

Foi fácil porque eu tracei uma linha muito grande entre a minha vida pessoal e profissional. As pessoas acham que por eu estar constantemente em reality shows e estar constantemente nas redes sociais sabem tudo sobre a minha vida, isso não é verdade. Sim eu tenho uma relação há 10 anos e isto é real. Há uma coisa que separa a minha vida pessoal e todas as personagens que eu desempenho e isso não tem nada a ver com aquilo que eu faço dentro de casa ou com quem é que eu durmo ou deixo de dormir. Tem de haver uma separação, até para que mantenha a minha sanidade mental. As pessoas acham que eu invento coisas na minha cabeça, mas basta um clique e existem dez ou oito notícias a meu respeito.

 A sua excentricidade é apenas parte da personagem?

Não é só, é um fundir da minha personalidade com a minha personagem. Muita coisa que eu digo da boca para fora e que eu faço, especialmente nos reality shows é uma personagem completa. Esta linha que separa o pessoal e a personagem está tão bem definida que o meu companheiro não me coloca questões nenhumas, sabe perfeitamente que aquilo é tudo palhaçada e que só quem não me conhece é que poderia achar que é verdade. A verdade é que aquilo que os outros dizem ou deixam de dizer não me interessa, houve uma altura em que me importou imenso, agora não.

E dizem muita coisa?

Sim, dizem muita coisa. Coisas muito boas e coisas muito más. Há quem ache, efetivamente, que eu sou a melhor voz masculina de Portugal, eu não considero, mas há quem diga. Agora, também há gente que diz que eu sou uma aberração. Tenho noção que esses comentários existem, mas eles não contam para nada.

Eu tinha fotógrafos à porta de casa, tinha fãs à porta de casa. Todas estas coisas são reais.Conseguiu, à partida, lidar facilmente com esse tipo de comentários?

Não. Até porque quando tu próprio estas a descobrir o mundo, começas a pensar o que fizeste de errado. Quando tens uma grande exposição as pessoas acham que tu és um boneco moldável, um boneco que é controlado a cada entrevista. Sempre que dei uma entrevista no Ídolos era controlado, palavra por palavra. Eu tinha 16 anos e não podia dizer o que queria. Hoje em dia se alguém me cortar a palavra eu olho para a pessoa e digo: ‘Mas vais-me deixar falar’.

Seres tão estrangulado e as pessoas esperarem de ti o boneco perfeito faz com que acredites que é por ali o caminho, mas não é. Eu passei meses da minha vida a fazer fintas para entrar em casa, a dar voltas a quarteirões para entrar em casa. Eu tinha fotógrafos à porta de casa, tinha fãs à porta de casa. Todas estas coisas são reais e eu importava-me muito com o que as pessoas diziam. Hoje em dia eu não quero saber, quero lá saber que saibam onde eu vivo, desde que não me façam mal.

Recebi ameaças de morte quando comecei a aparecer, tive o meu telefone em escuta três ou quatro vezes.A forma como se expõe nunca colocou em risco a sua vida?

Já estive várias vezes em perigo de vida. Estou sempre com segurança, principalmente quando apareço publicamente, é uma exigência minha. Exijo segurança, sei que não sou uma vedeta internacional, estou naquele limbo de ser um palhaço a nível público e, ao mesmo tempo, de ser um artista com uma exposição mediática relativamente elevada no que diz respeito ao nosso país, mas ao mesmo tempo sou alguém que tem uma imagem que me pode comprometer a nível pessoal.

As pessoas não entendem o porquê de eu pedir segurança até ao momento em que eu chego. As pessoas perdem a noção do ridículo, nós temos jovens com a minha idade que acham piada em desafiarem-se uns aos outros a ver quem é que me vai tocar primeiro, quem é que me vai puxar o cabelo ou quem é que vai tirar uma foto comigo para depois gozar. Isto acaba por ameaçar a minha integridade física, eu posso não querer que me toquem, se me tocarem contra a minha vontade estão a violar um direito que eu impus. A partir do momento em que as pessoas não respeitam isso eu tenho o direito de me salvaguardar e, como eu não tenho credibilidade física, sou magrinho, pequeno e franzino, então sinto necessidade de estar com segurança.

Recebi ameaças de morte quando comecei a aparecer, tive o meu telefone em escuta três ou quatro vezes. Tive pessoas que descobriram onde eu vivia e colocavam-se atrás da porta e dentro do prédio a ouvir o que eu estava a fazer dentro de casa.

*Pode ler a segunda parte desta entrevista aqui.

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