Sofia Aparício esteve hoje, dia 14 de outubro, à conversa com Cristina Ferreira e Cláudio Ramos sobre a missão humanitária a Gaza da qual regressou recentemente. Esta foi uma experiência que marcou a atriz, de 55 anos, profundamente, conforme revelou numa sentida entrevista.
Questionada sobre o motivo pelo qual aceitou ir a bordo da flotilha, Aparício respondeu: "Vou, porque não consigo ficar sentada no sofá a ver. Eu sei que há outros conflitos e genocídios e nós temos de ter os olhos no Congo, no Sudão e também não podemos esquecer o conflito da Ucrânia que ainda existe, mas é um genocídio. Vemos crianças a serem mortas, a serem estropiadas, a ser amputadas a sangue frio no nosso feed e na televisão e não é todos os dias, é a todos os minutos… E se tiver a oportunidade de fazer uma coisinha mais, não consigo dizer que não", justificou.
"Se não fosse, nunca mais dormia com a consciência tranquila. Se fosse e se me magoasse, acho que me regenero sempre", diz ainda, notando que esta foi a primeira vez na vida em que agradeceu os pais já não estarem vivos, pois estes iriam ficar muito preocupados com esta viagem.
Os momentos de terror vividos por Sofia Aparício após ter sido detida pelas forças israelitas
A última semana da viagem foi particularmente tensa. No dia em que a flotilha foi intercetada pelas forças israelitas, Sofia Aparício viveu momentos dos quais nunca mais ir-se-á esquecer.
"Cheguei ao porto, fui atirada contra o chão. Ficámos imenso tempo naquela posição de joelhos, muito desconfortável. Um rapaz ao meu lado foi espancado, só porque sim e eu não pude fazer nada. Não gosto que façam mal a ninguém e ver aquela violência contra uma pessoa que não tinha estado no meu barco, mas que era meu companheiro, é uma frustração e um sentimento de raiva muito grande", confessa.
"Depois desta posição muito desconfortável começa o processo de emigração, porque é preciso não esquecer que fui sequestrada e que o meu barco foi intercetado em água internacionais, são dois crimes ao abrigo da lei internacional", argumenta.
"Lá fui passada pelo processo de emigração, sempre aos empurrões, revistaram-me aos pontapés, literalmente ao pontapé, aos gritos connosco e muito violentos, a quererem que assinássemos documentos em hebraico, onde assumíamos que tínhamos cometido crimes que não cometemos, sem advogados", diz ainda.
As respostas às (muitas) críticas de quem ficou cá
Esta missão humanitária dividiu opiniões, sobretudo em relação a Mariana Mortágua, do Bloco de Esquerda, acusada de procurar protagonismo à custa da flotilha. Em resposta às críticas, Sofia Aparício foi clara.
"Se essas pessoas estão dispostas a correr o risco de se encontrarem com o exército mais sádico do mundo para ter likes e para aparecer, pois que vão. A minha vida é muito discreta, nunca procurei likes, não gosto da atenção mediática, recebo-a bem porque normalmente é reconhecimento pelo trabalho", atira.
"Esta não é a primeira missão humanitária em que participo, colaboro com várias associações humanitárias, desde apoio a velhinhos cá em Portugal, a sem abrigos, etc. Esta precisava da minha plataforma pública e por isso usei-a. Se pudesse ter o mesmo efeito sem ninguém saber, preferia", termina.
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